O presidente Jair Bolsonaro voltou a fazer críticas a obras audiovisuais que buscavam autorização da Agência Nacional do Cinema (Ancine) para captar recursos por meio da Lei do Audiovisual.
Em uma transmissão ao vivo, ele citou filmes que envolvem temáticas LGBT+ e de sexualidade e disse que a agência não vai liberar verbas para esses projetos. Ele ainda disse que se a Ancine "não tivesse, em sua cabeça toda, mandatos", já teria "degolado tudo".
Hoje, a diretoria colegiada da agência tem três pessoas com mandatos de quatro anos. Procurado, o órgão disse que "não vai comentar os pronunciamentos do presidente da República".
No vídeo, Bolsonaro defendeu que não está censurando o cinema.
— Quem quiser pagar... a iniciativa privada, fique à vontade. Não vamos interferir nada. Mas fomos garimpar na Ancine filmes que estavam prontos para ser captados recursos no mercado. Olha o nome de alguns, são dezenas — antes de começar a listar as obras.
— Um filme chama Transversais. Olha o tema: "Sonhos e realizações de cinco pessoas transgêneros que moram no Ceará". Conseguimos abortar essa missão.
A obra é uma série documental em cinco episódios que se debruça sobre o cotidiano, as dificuldades, os sonhos e as realizações de cinco pessoas transgênero que moram no Ceará. Um dos diretores da produção, Allan Deberton afirma que inscreveu o projeto em março e se surpreendeu com a demora do anúncio dos finalistas do edital, que nas edições passadas foi de um mês após as inscrições.
Ele desconfia que a série tenha sido selecionada para a banca final de seleção dos projetos quando foi encontrada por Bolsonaro.
— O presidente escolhe o que ele quer e o que não quer. E isso é um indício de censura, estamos sendo lesados — afirma Deberton, que questionou a Ancine, mas disse que ainda não obteve uma resposta oficial.
Um outro título citado foi o filme Afronte, dos diretores brasilienses Bruno Victor Santos e Marcus Azevedo, que mostra a realidade vivida por negros homossexuais no Distrito Federal.
— Confesso que não entendi nada — disse o presidente.
E, em seguida, prosseguiu:
— Olha, a vida particular de quem quer que seja, ninguém tem nada a ver com isso, mas fazer um filme mostrando a realidade vivida por negros homossexuais no DF não dá para entender. Mais um filme que foi para o saco.
A Associação de Produtores Independentes do Audiovisual (API) se pronunciou contra as declarações de Bolsonaro. "Repudiamos tal atitude pois entendemos que não cabe a ninguém, especialmente ao presidente de uma república democrática, censurar arte, projetos audiovisuais e filmes", afirmou em nota.