Los Angeles – Nicholas Hoult amarrou seu tênis Adidas preto, pegou uma corda de pular e encontrou um lugar no beco atrás do Clube de Boxe Trinity, uma academia simples atrás do Melrose Boulevard, em Los Angeles.
Era uma manhã de quarta-feira e a luz ainda era fraca. Enquanto a corda assobiava acima e abaixo em um movimento contínuo, Hoult parecia pairar no ar como um belo colibri humano.
"Lindo", disse Eddie Arrazola, seu treinador. "Treino um monte de atores, e muitos deles não conseguem, mas Nick realmente sabe como lutar boxe." Hoult agradeceu o elogio balançando a cabeça.
Após o aquecimento de 10 minutos, Hoult entrou no clube de boxe, que cheirava a couro e suor. A academia parecia cenário de um filme, com suas paredes pretas forradas de citações engraçadas de grandes homens da história escritas a mão em telas.
Qual era sua favorita? Hoult apontou para uma atribuída (equivocadamente) a Winston Churchill: "O sucesso nunca é definitivo."
Hoult, de 29 anos, parece ser um sujeito humilde. Aos 12 anos de idade, temia que sua carreira houvesse estagnado.
Ele tinha acabado de estrelar, com Hugh Grant e Toni Collette, o filme "Um Grande Garoto", e voltara para casa em Wokingham, cidade no sul da Inglaterra, onde passou sua infância correndo pelo jardim e imitando os Meninos Perdidos de "Hook, a Volta do Capitão Gancho".
"É uma coisa estranha, naquela idade, pensar: 'Já cheguei ao topo dessa carreira'", disse Hoult.
Ele vestiu as luvas de boxe e entrou no ringue. Reggaeton tocava no aparelho de som, e o corpo de Hoult parecia acompanhar suavemente o ritmo.
O fato de que sua carreira não acabou depois de "Um Grande Garoto" se deve, em parte, a algumas escolhas ousadas, incluindo um papel na série britânica "Skins" e um desempenho bem recebido na estreia de Tom Ford, em 2009, "Direito de Amar" – "um filme importante sobre homossexualidade", escreveu o ex-prefeito da cidade de Nova York, Ed Koch, em uma resenha para "The Atlantic".
Grandes filmes homossexuais se tornaram algo importante no currículo de estrelas emergentes, mas isso era menos comum dez anos atrás. Quando Hoult veio a Los Angeles para se encontrar com o diretor para um jantar, não tinha ideia de quem era Ford.
"Fiz uma pesquisa no IMDB e ele só apareceu em 'Zoolander', como ele mesmo, e pensei: 'Interessante, ele começou assim e agora escreveu esse roteiro.'" Ele pensou um pouco. "Hoje percebo que eu deveria ter feito uma busca no Google", acrescentou.
Depois de uma série de papéis coadjuvantes, incluindo "A Favorita" e a franquia "X-Men", ele agora interpreta o papel-título de "Tolkien", um drama sobre o início da vida de J. R. R. Tolkien. O escritor perdeu alguns de seus melhores amigos na Primeira Guerra Mundial, e o filme retrata sua obra, "O Senhor dos Anéis", emergindo da lama e do trauma das trincheiras.
Em sua pesquisa, Hoult ouviu o podcast "Hardcore History", de Dan Carlin. "Começa com ele perguntando quem mais influenciou a história do século 20, e a resposta é Gavrilo Princip. Vale a pena ouvir, se você tem 30 horas sobrando."
Hoult se movia com facilidade no ringue, abaixando e atacando em gestos fluidos e graciosos. "É a memória muscular", disse ele, humildemente. Quando Arrazola gritou "jab", seu braço se estendeu e se retraiu em um movimento rápido. "O que você precisa fazer é preparar seu corpo até o momento em que não precise pensar mais", disse Arrazola.
Foi Daniel Kaluuya, colega de Hoult em "Skins", quem o trouxe para o ringue de boxe, quando treinava para o papel do boxeador Roy Williams em "Sucker Punch", no Teatro Royal Court, em Londres. "Há muita técnica e beleza no esporte. É muito difícil fisicamente, mas não gosto, em particular, de ir à academia, porque a mente vagueia", disse Hoult.
No ringue, a mente está muito ocupada para isso, evitando socos. Ele já deu algum soco de verdade? Hoult sacudiu a cabeça rapidamente. "É fácil acertar um saco de pancadas e se sentir um grande boxeador, mas é diferente quando alguém está realmente batendo em você", afirmou ele.
Arrazola disse: "Ele diz isso, mas seus socos dizem o contrário. Ele bate duro." Não é à toa, talvez, que Kaluuya tenha lhe dado o apelido de "Headshot Hoult".
Embora o boxe agrade a um monte de atores, Arrazola disse que muitos têm dificuldade para dominá-lo. "Eles treinam e logo depois se olham no espelho. Nick só queria aprender rápido."
Hoult movia a cabeça para a esquerda e a direita, treinando vários socos com Arrazola: jab, gancho de esquerda, uppercut. Seu rosto estava levemente coberto de suor. "Tenho uma natureza bastante obsessiva. Na minha cabeça, quero ser o melhor boxeador possível." Ele riu. "Uma besteira."
Os dois homens circulavam no ringue. "Nick tem um gancho muito bom", disse Arrazola. Ele desferiu um soco. Hoult se desviou com agilidade.
Conforme treinavam, iam comparando seus boxeadores favoritos. "Lomachenko", disse Arrazola, referindo-se a Vasyl Lomachenko, ucraniano com duas medalhas de ouro nas Olimpíadas. Hoult concordou. "É muito bom vê-lo", afirmou ele. "Gosto muito de Tyson Fury."
Depois de cerca de 40 minutos, Arrazola se defendeu de uma enxurrada final de jabs e cuts de seu aluno. Hoult retirou as bandagens das mãos. "Eu adoraria fazer um filme de boxe, se um bom aparecesse", disse ele. Como todos os outros atores, ele reverencia "Touro Indomável" e também "Rocky: Um Lutador".
Ao guardar as luvas, ele disse: "Não dá para não amar 'Rocky'."
Por Aaron Hicklin