O Porto Alegre Em Cena começará ao som de uma mistura bem azeitada das músicas do oeste da África e do Brasil. Com uma reinvenção única a partir da cultura de países como Senegal, Mali, Guiné e Burkina Faso, tudo misturado com cuíca, repinique e berimbau, o grupo paulista Höröyá subirá ao palco do Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n°) nesta terça-feira (12), às 21h, com ingressos esgotados, para mostrar o repertório de seu segundo disco, Pan Bras’Afree’Ke, Vol. 1, lançado no ano passado.
A atração inaugura a 25ª edição de um dos maiores festivais de artes cênicas do país, que levará 26 atrações de teatro, dança e música a diferentes espaços da Capital até o dia 23 de setembro. Entre os destaques do evento, que tem coordenação-geral de Fernando Zugno, estão a companhia franco-italiana The Wild Donkeys (criada por artistas formados no Théâtre du Soleil), a Cia. Ultralíricos do diretor Felipe Hirsch, a recriação da obra de Guimarães Rosa pela encenadora Bia Lessa e a companhia brasileira de teatro. O festival também chega com uma agenda reforçada de atividades formativas.
O título do disco e do show de abertura do Em Cena é uma brincadeira com o francês falado pelos integrantes e parceiros do Höröyá que vêm do oeste da África – atualmente, a banda é integrada por músicos paulistas e senegaleses que moram no Brasil, mas o show em Porto Alegre contará também com dois convidados da Guiné.
– É um francês meio torto, mas a musica sempre fala mais alto – diz o multi-instrumentista André Ricardo, criador do grupo, acrescentando que também são falados na banda o português, o wolof do Senegal e o malinké da Guiné.
Mais pela afirmação do que pela crítica
O negócio do Höröyá não é imitar ou repetir as tradições, e sim conhecer profundamente seus aspectos sociopolíticos e culturais para compor um som diferente. Por isso, Ricardo costuma dizer que eles trabalham com "antigas, novas e possíveis tradições". Um exemplo: o n’goni, um instrumento de cordas presente no Mali e em Burkina Faso, pode ter coexistido com o berimbau, mas o Höröyá não precisa dessa certeza para concretizar a combinação. Criar essa mistura original exigiu mais de uma década de estudos e viagens à África.
– Durante muito tempo, foi uma confusão mental para adaptar a musicalidade e a dinâmica (das músicas dos países africanos). Depois de elaborar isso, você tem que materializar o pensamento, porque depende de mais gente embarcar nessa loucura. Agora, estamos em um momento feliz do grupo no sentido de conseguir integrar tudo isso e também tendo um público que ouve e gosta da proposta – comemora Ricardo.
Para o Höröyá, que lançará seu terceiro disco no primeiro semestre de 2019, a música não pode jamais estar dissociada do contexto e da filosofia que a embasam. Ricardo acredita que "às vezes vale mais a pena fazer as coisas pela afirmação do que pela crítica":
– Assumimos de frente lutas e diálogos pela integração social, liberdade religiosa e pela não perseguição de cores, religiões e origens.
Além de Ricardo, a banda se apresentará com André Piruka, Adilson Camarão, Rafael Fazzion, Jefferson Cauê (percussões), Tobias Kraco (guitarra), Nando Vicêncio (baixo), Thomaz da Costa Souza, João Drescher e Edmar Pereira (sopros). São do Senegal Moustapha Dieng (percussão), Aziz Mbaye (percussão e dança), Birima Mbaye(percussão) e Ibrahima Sarr (dança). Djanko Camará (dança) e Sekouba Oulare (percussão) vêm da Guiné.