Presidido por Paul Verhoeven, o diretor de Elle (2016), o júri do 67º Festival de Berlim, que começa hoje, terá trabalho: entre os 18 filmes que disputam o Urso de Ouro, estão os novos longas de diretores como o coreano Hong Sang-soo, o alemão Volker Schlöndorff e o finlandês Aki Kaurismäki.
As sessões fora de competição chamam ainda mais a atenção. A Berlinale 2017 exibirá, entre outras, as premières de The Lost City of Z, o aguardado longa-metragem que o norte-americano James Gray (de Amantes) rodou em locações na Amazônia; Logan, o novo blockbuster de Wolverine dirigido por James Mangold e estrelado por Hugh Jackman; e T2 Trainspotting, sequência do cult filmado por Danny Boyle nos anos 1990 a partir da obra de Irvine Welsh.
O Brasil terá papel histórico no evento. Serão exibidos nesta edição deste que é um dos mais prestigiosos festivais de cinema do mundo 12 filmes produzidos ou coproduzidos no país. Dois desses são gaúchos: os longas Rifle, de Davi Pretto (o mesmo de Castanha, que foi exibido na Berlinale em 2014), e Mulher do Pai, da estreante em longas Cristiane Oliveira, que chega à capital alemã após sair premiado do Festival do Rio e da Mostra Internacional de São Paulo.
– As expectativas são as melhores possíveis – vibra a produtora de Mulher do Pai, Aletéia Selonk. – Nossa primeira exibição será neste sábado, dia nobre do evento. E o Festival de Berlim marca a trajetória do filme. Isso porque, no desenvolvimento do projeto, em 2011, fui selecionada para o Talent Project Market, no primeiro ano em que o Brasil conseguiu vaga nesse importante espaço dedicado à inserção de produtores no mercado internacional.
O festival alemão (que no distante 1990 já premiara Ilha das Flores, de Jorge Furtado) no início da década de 2010 construiu uma ponte sólida com a produção gaúcha: à seleção de Castanha, em 2014, seguiu-se a de Beira-Mar, longa de estreia de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, em 2015. Ambos estiveram na mostra Forum, a mais "experimental" da Berlinale. Mulher do Pai será exibido na Generation, dedicada a títulos representativos de questões da infância e da juventude.
– A seleção para Berlim, pela importância do evento e a credibilidade da curadoria, era um objetivo nosso, confesso – diz a produtora.
A mostra Generation terá outros três títulos brasileiros. A Panorama, com "descobertas da curadoria ao redor do mundo", apresentará cinco, entre estes Como Nossos Pais, de Lais Bodanzky, e No Intenso Agora, de João Moreira Salles. A seleção brasileira conta, inclusive, com uma produção na mostra principal. Representa o Brasil na corrida pelo Urso de Ouro o longa Joaquim, sobre Tiradentes. O filme é assinado pelo pernambucano Marcelo Gomes (de Cinema, Aspirinas e Urubus e Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo, este em codireção com o cearense Karim Aïnouz).
Delegado da Berlinale no Brasil, o crítico carioca Eduardo Valente comenta o recorde nacional no festival:
– Acho que essa participação do cinema brasileiro tem a ver com duas coisas. Primeiro, o amadurecimento dos produtores do país, entendendo que precisam ter relação constante com o setor internacional para os filmes entrarem nos grandes festivais. Segundo, os resultados das políticas públicas de fomento da Ancine (Agência Nacional do Cinema). Este é, por exemplo, o primeiro ano em que o edital específico para filmes de autor teve longas finalizados (entre estes, Mulher do Pai e Pendular, selecionados para a Berlinale). Quanto mais filmes você faz com perfil assim, mais chance tem de acertar. Havia ainda outros sete ou oito títulos com potencial de seleção. É dessa quantidade que precisamos. Se fizermos só dois ou três filmes com esse perfil por ano, as chances são pequenas.
Rifle tem previsão de estreia no circuito comercial para as próximas semanas, na programação do projeto Sessão Vitrine Petrobras, que apresenta ao grande público longas com carreira consolidada nos festivais. Já Mulher do Pai, que também será distribuído pela Vitrine Filmes, ainda não tem previsão de estreia. Mas deve chegar ao circuito comercial ainda em 2017.
O 67º Festival de Berlim seguirá até o próximo dia 19.
OS BRASILEIROS NO 67º FESTIVAL DE BERLIM
Em competição: Joaquim, de Marcelo Gomes.
Na competição de curtas: Estás Vendo Coisas, de Barbara Wagner e Benjamin de Burca.
Na mostra Panorama: Como Nossos Pais, de Lais Bodanzky; No Intenso Agora, de João Moreira Salles; Pendular, de Julia Murat; Vazante, de Daniela Thomas; Venus Filó, a Fadinha Lésbica, de Sávio Leite.
Na mostra Forum: Rifle, de Davi Pretto.
Na mostra Generation: As Duas Irenes, de Fabio Meira; Mulher do Pai, de Cristiane Oliveira; Não Devore Meu Coração, de Felipe Bragança; Em Busca da Terra Sem Males, de Anna Azevedo.