A cada lançamento de disco, renasce, sabe-se lá de onde, a expectativa de que o Metallica irá "retornar à velha forma". Tem sido assim há muito tempo. Lamento, crianças, mas não vai ser desta vez. De novo. Com Hardwired... to self-destruct, o quarteto faz o que vem fazendo desde sempre: segue em frente.
Lançado na semana passada, Hardwired... entrega exatamente aquilo que seus singles anunciaram, ou seja, uma continuação de Death magnetic (2008). Estão lá os temas longuíssimos (a maioria das 12 faixas tem duração maior que seis minutos) construídos ao redor da guitarra de James Hetfield, amparados por uma cozinha segura e honesta e com um ou outro momento de brilho de Kirk Hammett. Produção esmerada, som limpo e palatável para qualquer audiência.
O que significa, sim, que os fãs xiitas (portanto saudosistas), que povoam fóruns de heavy metal nos quais cada respiro do Metallica é impiedosamente destrinchado e analisado, irão apenas ignorar Hardwired... em detrimento da produção anterior da banda. No que estão corretos, porque Hetfield, Lars Ulrich, Hammett e Robert Trujillo também os estão ignorando – e não é de agora.
Hardwired... é o Metallica avançando pelo hard rock, flertando com o épico, divertindo-se, enfim. Suas faixas são longas não porque precisavam ser (podiam ter metade da duração, se muito), mas porque a banda parecia estar curtindo aquele momento. Ninguém ali parece remotamente preocupado em algo como "honrar o passado" ou "manter-se fiel ao movimento", reclamações constantes dos velhos seguidores. O clima do disco, a despeito do seu título, reflete bem o espírito de tiozões milhardários dos músicos. Tem peso, mas sem deixar de ser otimista, solar, diria até alegre.
Há poucas exceções, como Dream no more, de andamento mais arrastado, e a melancólica Murder one, bonita homenagem ao frontman do Motörhead, Lemmy Kilmister (1945 – 2015), que tem o mesmo espírito da clássica balada One, do disco ...And justice for all (1988). Nas demais, violência e ruptura deram lugar à diversão. Now that we’re dead, por exemplo, chega a ser dançante, enquanto Moth into flame deve funcionar bem em uma aula de spinning. Abrindo e fechando o disco, duas pauladas gêmeas: Hardwired e Spit out the bone, momentos em que o baterista Lars Ulrich de fato parece ter pegado pesado.
Resumindo, Hardwired... to self-destruct é um excelente álbum de hard rock, cumpridor dentro da discografia do Metallica e que deve continuar mantendo a banda como uma das maiores vendedoras de discos (e de shows) de todo o mundo. Só não precisava ter demorado oito anos.