Com quase 50 anos de estrada, uma penca de hits espalhados por milhões de discos vendidos, o Aerosmith tem todo o direito de sossegar o facho. E rumores dão conta de que, de fato, a banda está em seus finalmentes. Mas no palco do Anfiteatro Beira-Rio, na noite de terça-feira, o que se viu foi exatamente o contrário: uma banda no auge do seu vigor físico e com repertório impecável.
Foi a segunda visita de Steven Tyler, Joe Perry, Brad Whitford, Tom Hamilton e Joey Kramer a Porto Alegre. Na primeira, em 2010, tocaram no sofrível estacionamento da Fiergs e pouco curtiram da cidade. Desta vez, apresentando-se no excelente Anfiteatro Beira-Rio, a banda pareceu mais à vontade: Tyler deu um pulo no popular Bar do Beto, enquanto o restante da banda se refestelava na churrascaria NB Steak. Mais tarde, Perry registraria imagens na estátua do Laçador que seriam usadas no show.
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No palco, os bad boys de Boston seguiram o roteiro que vinham apresentando em outras capitais da América do Sul, privilegiando canções dos seus primórdios sem esquecer dos hits radiofônicos que ajudaram a rejuvenescer sua base de fãs nos anos 1990. Mas, se da parte dos músicos a entrega e a intensidade na execução foi a mesma para cada uma das músicas, o público claramente mostrou que estava lá mais pelas babas.
Baladas da época do renascimento do Aerosmith, como Cryin' e Crazy (ambas de Get a Grip, 1993), e a platinada I don't want to miss a thing (trilha sonora do filme Armageddon, 1998), foram cantadas em uníssono, enquanto pauladas primordiais, como Rats in the cellar (Rocks, 1976) e Same old song and dance (Get your wings, 1974) deram a deixa para a maior parte da audiência checar suas redes sociais ou ir buscar cerveja (aliás, a lata custava obscenos R$ 13 nos bares e R$ 15 com os ambulantes).
A empolgação com Dude (Looks like a lady), do disco Permanent vacation (1987), poderia indicar que a plateia havia feito a lição de casa – ou conhecido a faixa quando ela voltou a fazer sucesso justamente em 1993 no blockbuster Uma babá quase perfeita, com Robin Williams. Dream on, primeiro single de sucesso do Aerosmith lançado em 1973 levou o público às lágrimas, embora muitos devam tê-la reconhecido mesmo graças ao reaproveitamento do seu refrão e riff por Eminem na música Sing for the moment (2002).
Mas a cota de concessões foi pequena. O Aerosmith queria era revirar seu baú de antiguidades – tanto que a canção autoral mais nova do repertório foi Pink, do disco Nine lives (1997). Os dois últimos trabalhos com músicas próprias (Just push play, de 2001, e Music from another dimension!, de 2012) foram preteridos em benefício de classic rocks de alta voltagem, como Kings and Queens (Draw the Line, 1977), Sweet emotion (Toys in the Attic, 1975), Train kept a-rollin' (cover presente no álbum Get your wings, 1974) e Back in the saddle (Rocks, 1976).
Nestes momentos, a banda parecia de volta aos botecos de palcos minúsculos onde começou a carreira, com os músicos tocado bem próximos uns dos outros, quase se esbarrando. Mesmo o furacão Steven Tyler se comportava com discrição (mas não com menos energia, claro!), dividindo os holofotes com os parceiros. Um lembrete bonito de que, se o Aerosmith partir dessa para uma melhor, vai ser da mesma maneira como começou: fazendo aquilo em que acreditam.
*ZERO HORA