Onde fica a casa do meu amigo? (1987)
Premiado no Festival de Locarno, o filme apresentou Abbas Kiarostami e o cinema iraniano para o Ocidente. Com um viés neorrealista e humanista, a história confere um tom de périplo a um episódio corriqueiro: um menino descobre que pegou por engano o caderno de um colega de turma. Desobedecendo a mãe, Ahmad vai ao vilarejo vizinho em busca do amigo, que foi ameaçado de ser expulso da escola caso não levasse o dever de casa feito. O cineasta voltaria ao local e aos personagens em E a vida continua (1992), filme em que um diretor procura reencontrar os garotos após um terremoto que atingiu o norte do Irã em 1990.
Close-up (1990)
Um dos títulos mais instigantes de Kiarostami, o longa borra os limites entre ficção e documentário, registro e encenação, verdadeiro e falso ao seguir um homem acusado de ter enganado uma família rica de Teerã fazendo-se passar pelo cineasta iraniano Mohsen Makhmalbaf – diretor de filmes como O ciclista (1987), Gabbeh (1996) e A caminho de Kandahar (2001). Kiarostami filma o julgamento de Hossein Sabzian e reencena toda a história com os personagens reais envolvidos no caso.
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Através das oliveiras (1994)
A consagração internacional do realizador consolidou-se com essa produção, rodada novamente na região devastada pelo sismo de 1990. Outra vez, vida e arte espelham-se e se embaralham: na história, um diretor percebe que o jovem não ator escolhido para viver um dos personagens de seu filme está apaixonado de verdade pela garota que fará o papel de sua esposa. A família de Tahereh é contrária ao relacionamento, mas Hossein acha que o filme pode ajudá-lo a quebrar a desconfiança dos parentes da amada.
Gosto de cereja (1997)
Kiarostami aproxima-se do cinema existencialista nesse duro e comovente drama que aborda dois temas tabu no Irã: o suicídio e a homossexualidade. Um homem dirige pelas ruas de Teerã à procura de alguém disposto a ajudá-lo em seu último desejo: enterrá-lo em uma cova sob uma cerejeira depois que ele se matar. Repleto de belas imagens poéticas e melancólicas, essa obra-prima ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
O vento nos levará (1999)
Kiarostami retorna aos amplos espaços abertos e à peculiar topografia acidentada do Irã rudimentar para falar de novo sobre existência e morte em O vento nos levará. Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza, o longa acompanha um jornalista de TV que parte com sua equipe para um vilarejo rural a fim de filmar um rito tradicional: o funeral de uma senhora moribunda. A centenária mulher, porém, demora a morrer – e, durante a longa espera, o estrangeiro torna-se amigo de um garoto que lhe mostra a região e o cotidiano da erma localidade.
Cópia fiel (2010)
Kiarostami ecoa o mestre italiano Roberto Rossellini (1906 – 1977) e seu clássico Viagem à Itália (1954) em seu primeiro filme rodado fora do Irã, que rendeu à francesa Juliette Binoche o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes. Um homem e uma mulher encontram-se em um pequeno vilarejo na Toscana italiana: ele é um escritor britânico (interpretado pelo barítono inglês William Shimell) que acabou de dar uma palestra sobre seu novo livro; ela é uma francesa dona de uma galeria de arte. O que à primeira vista parece ser um flerte entre dois desconhecidos, no entanto, pode ser na verdade uma tentativa de recuperar um casamento desgastado.