Filipe Catto tem apenas 28 anos, mas demonstra uma necessidade de olhar retrospectivamente para sua trajetória como se fosse um veterano. Em seu segundo disco – uma carreira ainda em seu momento de crescimento, portanto –, o músico gaúcho quis "voltar às origens". Para explicar o conceito por trás de Tomada, lançado em 2015, Filipe se vale de expressões como "reciclagem", "síntese" e "renovação".
A ideia que inspira Tomada (a semelhança do título com a noção de "retomada" não é uma coincidência) é dar um passo para trás antes de andar para frente. Uma viagem ao centro de si mesmo, para encontrar "o ponto central" de seu trabalho, nas palavras de Catto. Para isso, o cantor volta ao momento em que começou a se relacionar com a música, ainda jovem, em Porto Alegre, e acaba alcançando uma sonoridade mais rock. Mais do que isso, baseia-se em Caetano Veloso, Elis Regina e Cássia Eller para encontrar um equilíbrio entre o "sagrado" da MPB e a "visceralidade" do rock'n'roll.
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Apresentar o disco amanhã no Opinião, palco histórico do rock porto-alegrense, parece perfeito. Para Filipe, o local funciona também como epicentro de boa parte de suas influências, e é ali que vai celebrálas. Em Porto Alegre, ao lado de amigos, familiares e fãs antigos, pretende reafirmar seus valores e, quem sabe, a partir daí, acumular autoconhecimento e energia suficientes para dar o próximo passo.
Qual é a ideia por trás de Tomada?
Sempre fui um cara muito centralizador no meu trabalho, e neste disco eu queria delegar. Precisava deixar que as pessoas entrassem no meu trabalho, para que eu pudesse me renovar. Cada trabalho vem para responder uma pergunta específica, e o Tomada vem para responder uma série de questionamentos: qual é o meu som? Quem é a minha turma? Até onde posso ir? O que pode ser diferente? Os artistas que eu gosto, como Elis, Caetano, Cássia, são pessoas que passaram por vários gêneros, e eu também gosto de exercitar isso em mim, mas queria encontrar um ponto central do meu trabalho, que eu acho que é a visceralidade e a entrega. Queria sair do pedestal de grande intérprete de MPB, que é uma coisa muito sagrada. E renovação sempre passa pelo momento de origem: em Porto Alegre, eu cresci dentro de uma cena de rock muito forte, e isso é muito presente nas minhas raízes. Minha gênese é de vocalista de banda, antes de ser um cantor de MPB. No Tomada, eu precisava voltar a esse lugar de despojamento, para trocar de pele.
Tomada conta com muitas parcerias, tanto na banda quanto nas composições: Kassin, Pedro Sá, Domenico, Ava Rocha, Thalma de Freitas, Pedro Luís, Paulinho Moska. De que forma isso contribui para essa retomada em seu trabalho?
Esse é um disco que realmente foi feito com várias parcerias – e foi feito para isso. É um disco que estabeleceu um monte de conexões pessoais, todas as participações foram escolhas muito afetivas. Estamos vivendo uma geração muito forte da música, como há muito tempo não se via, e é muito rico que a gente troque colaborações, saia da coisa de monopolizar o trabalho e passe a agregar. A partir das parcerias, meu trabalho ficou mais interessante. Esse processo coletivo é muito rico. O Tomada cumpriu essa função no meu desenvolvimento artístico, de receber. É muito fácil a gente querer impor o tempo todo, fazer exatamente do jeito que a nossa cabeça quer, mas, quando abrimos para que as pessoas entrem, principalmente na música, que é um processo coletivo e generoso, o trabalho avança. Porque não fica exatamente como a gente quer, mas como o trabalho quer ser.
Nesse sentido, voltar a tocar em Porto Alegre é especial?
Vivemos um momento tão louco na música que tocar em qualquer lugar é muito especial. Mas em Porto Alegre é o triplo. E o Tomada vai ser o mais emocionante de todos, porque estou num momento em que preciso me nutrir da minha história. É um disco de reciclagem. As pessoas falam muito em referências, e a referência que eu mais quero ter é a minha própria musicalidade. Quanto mais puder olhar para as coisas que me transformaram no que sou, mais vou estar perto do que quero dizer. É muito sagrado poder cantar na minha terra natal, para me conectar cada vez mais com os meus valores.
Filipe Catto
Sexta-feira, às 21h.
Opinião (José do Patrocínio, 834)
Ingressos: R$ 30 (promocional, mediante doação de 1kg de alimento) e R$ 50 (inteira).
Pontos de venda: Lojas Youcom do Bourbon Wallig (sem cobrança de taxa) e Shopping Praia de Belas, Bourbon Ipiranga, Barra Shopping Sul e Bourbon Novo Hamburgo e lojas Multisom Andradas 1001, Canoas Shopping e Bourbon São Leopoldo (sujeito a cobrança de taxa de R$ 5).