Um dos grandes nomes da música de concerto do Brasil morreu neste sexta-feira, 1º de janeiro, em Santos (SP), sua cidade natal. Conhecido internacionalmente, o maestro e compositor Gilberto Mendes foi vítima de um infarto, aos 93 anos. Ele estava internado desde o dia 24 de dezembro na Santa Casa de Santos. Seu coração não resistiu a uma crise de asma, doença que o acompanhou por toda a vida.
Mendes é considerado um dos grandes renovadores da música brasileira no século 20, militando pelas vanguardas artísticas. Em 1963, foi um dos signatários do Manifesto Música Nova, publicada na revista Invenção, ao lado de nomes como Willy Correia de Oliveira, Damiano Cozzela, Rogério Duprat e Júlio Medaglia. "Música nova: procura de uma linguagem direta, utilizando os vários aspectos da realidade (física, fisiológica, psicológica, social, política, cultural) em que a máquina está incluída", dizia o texto, que incentivava compositores brasileiros a abandonarem normas de criação consideradas ultrapassadas por Mendes e sua turma.
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Entre os trabalhos de prestígio internacional do autor, estão composições criadas em parceria com poetas concretos como os irmãos Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari, assim como peças politicamente engajadas, como Vila Socó, Meu Amor, sobre uma favela destruída por um incêndio em Cubatão. Uma de suas obras mais conhecidas é Santos Football Music, composta em 1969 "para orquestra sinfônica, três fitas magnéticas, participação do público e ação teatral" e executada em Varsóvia nos anos 1970. Além da participação dos músicos, a composição contava com gravações de um jogo de futebol e participação do público.
Apesar de muito conhecido pelo caráter inovador de suas composições, Mendes se considerava "basicamente um compositor clássico-romântico que fez vanguarda nas horas vagas", com afirmou em uma entrevista a seu filho Carlos para série de vídeos 90 vezes 90, publicada no canal deste no YouTube . "Uma da influências fortes que tive foi a música de cinema. É uma música que utiliza o sistema tonal largamente, embora, não deixe de incorporar a modernidade, a vanguarda", explicou o compositor.
No início de sua carreira, Mendes conciliava seu trabalho criativo com a rotina de bancário. Mais tarde, tornou-se professor de música, lecionando composição na USP. Apaixonado pela literatura, estreou como ficcionista em 2013, com o romance Danielle, sem jamais abandonar a música – manteve-se ativo como compositor até seus últimos dias. Em 2006, parte desta trajetória foi recuperada no documentário A Odisseia Musical de Gilberto Mendes, também dirigido por Carlos Mendes.
"Comecei a estudar música com 20 anos, porque gostava, mas nunca imaginei que me tornaria músico. Pensava que seria um advogado, mas queria mesmo era ser um escritor", contou o compositor em 2012, em um evento literário.