Prestes a completar, em 2016, 50 anos de carreira teatral, Mauro Soares tem sua trajetória contada no livro A Luz no Protagonista, que registra depoimentos do ator e diretor - e de personalidades que trabalharam com ele - ao jornalista de Zero Hora Roger Lerina. O sexto volume da série Gaúchos Em Cena, um projeto do festival Porto Alegre Em Cena, terá sessão de autógrafos nesta quinta-feira (17/9), às 19h, no saguão do Centro Municipal de Cultura (Erico Verissimo, 307), ocasião em que o livro será distribuído gratuitamente (não estará à venda depois). A noite também marca o lançamento de Woyzeck - Comentário e Tradução, do professor da USP Tercio Redondo.
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Na sala de estar de seu apartamento em Porto Alegre, onde mora com quatro gatos, o pelotense Mauro conta que, durante as entrevistas para o livro, "foram-se abrindo gavetas que estavam fechadas" em sua memória:
- Uma das coisas que o Roger me perguntou, e que eu tinha esquecido, é por que tinha me voltado para o teatro. Lembrei que (na infância) costumava visitar as igrejas de Pelotas com minha avó. Aquela coisa ritualística sempre me encantou muito. Mais tarde, me interessei pela religião afro, por essa coisa mística. Vi que tinha uma ligação do teatro com isso.
Em vídeo, um bate-bola com Mauro Soares:
Mauro constata que, apesar do interesse pelo cinema e pela TV, seu foco sempre foi o teatro. Tornou-se um dos atores mais presentes dos palcos porto-alegrensese principalmente em papéis coadjuvantes.
- Tenho um amigo que me chama de Judi Dench, que só faz papéis pequenos e se sai bem - brinca Mauro. - Sempre atuei como coadjuvante, e isto nunca me incomodou. Foram personagens muito ricos. Em Ifigênia (2011), eu fazia três papéis.
Nos anos 1990, trabalhou como diretor em peças da dramaturga e escritora Vera Karam, de quem se tornou amigo inseparável até a morte dela, em 2003. Dessa lavra prolífica, saiu o solo Maldito Coração, me Alegra que tu Sofras, com Ida Celina, apresentado há nada menos do que 19 anos. Mauro relembra:
- Lancei Vera como dramaturga, e ela me lançou como diretor. Quando ela surgiu, ninguém queria encenar seus textos, apesar da qualidade. Aí se criou essa parceria de vida.
Um sonho ainda não realizado é participar de uma montagem de A Última Gravação de Krapp, de Samuel Beckett. Mauro se considera, acima de tudo, um ator de texto. Prefere prestigiar formas mais experimentais de teatro apenas como espectador. Essa visão baseada na dramaturgia, que é compartilhada por Luciano Alabarse, ajuda a explicar a parceria entre ambos, iniciada décadas atrás. Nos últimos 11 anos, eles estiveram juntos em 12 projetos.
QUATRO FEITOS DE MAURO SOARES
> Atuou em 31 espetáculos e dirigiu sete.
> Entre seus trabalhos inesquecíveis, está Pode Ser que Seja Só o Leiteiro Lá Fora (1983), de Caio Fernando Abreu. "Tem gente que até hoje me diz que começou a fazer teatro depois de ter assistido", conta o ator.
> Ganhou dois Prêmios Açorianos de ator coadjuvante: em 2004 (por Antígona) e em 2011 (Ifigênia em Áulis + Agamenon), ambas dirigidas por Luciano Alabarse.
> Ajudou a lançar a gaúcha Vera Karam como dramaturga, encenando diferentes peças dela.
ÁLBUM DE FOTOS
Mauro Soares (E) e Ivan Mattos em Pode Ser que Seja Só o Leiteiro Lá Fora (1983), de Caio Fernando Abreu
Mauro em Édipo (2008), de Sófocles
Mauro em Bodas de Sangue (2010), de Lorca. Ao fundo, Sandra Dani e Fabrizio Gorziza