Um dos temas mais interessantes de nosso novo mundo é o uso da internet para superar o abismo que nos separa dos outros seres humanos. Nossas cidades povoadas por milhões são povoadas, na verdade, por vários milhões de solitários, gente que vive mergulhada em um mar de gente, na mais completa solidão.
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A internet veio para dar um jeito nisso, ou ao menos uma nova forma para o velho problema: como fazer movimentos na direção dos outros sem que isso nos coloque em uma posição de quem busca demais, com algum nervosismo, ou muito? Daí os chats, os orkuts e facebuques, os novos meios de se achar alguém para o que quer que a gente ande buscando esse alguém.
E é claro que as séries de TV iriam navegar por esses mares, e uma delas se chama Dates, é inglesa e bastante boa, vejam. Nela, homens e mulheres se encontram em um restaurante para se conhecer melhor e sabe-se lá. Já o primeiro episódio deixa claro que a série não vai ser romântica à moda antiga: a moça se atrasa, o moço diz que prefere ficar sozinho a estar com alguém que se atrasa. A moça diz a ele que não deveria jamais usar jeans com gravata, que isso faz com que ele se pareça (o horror, o horror) "com um belga". Claro que os dois vão acabar ficando ali mesmo e se conhecendo melhor, para nossa alegria. Nos episódios seguintes, gente ainda mais improvável aparece, em encontros tão desencontrados que alguns acabam até dando certo.
Essa é a nossa esperança a cada encontro que marcamos com alguém, que dê certo, de um jeito que nem ao menos sabemos qual seja. A série Dates, mais do que menos, consegue. Veja e sofra com os desencontros, curta os encontros, e até o nosso próximo encontro, que é disso que vivem as colunas semanais.
Abraços a todos, e até.
Coluna
Marcelo Carneiro da Cunha: na selva da internet
O colunista escreve semanalmente no Segundo Caderno
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