O 43º Festival de Gramado chega ao último dia depois de uma maratona de filmes que contemplam a diversidade da produção brasileira e latino-americana. Em todos os sentidos: desde o dia 7, apresentou títulos ótimos, que têm muito a dizer sobre a realidade do país hoje (a produção brasileira Que Horas Ela Volta?), longas de gênero (os thrillers O Fim e os Meios e o uruguaio Zanahoria), "de mercado", cheios de vícios da TV (O Outro Lado do Paraíso), mais experimentais (o mexicano En la Estancia) e bem intencionados, mas mal realizados (Introdução à Música do Sangue, de Luiz Carlos Lacerda).
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A irregularidade foi uma marca do evento. Se a entrega dos Kikitos, marcada para as 21h deste sábado, refletir essa característica das mostras competitivas, é possível que poucos filmes concentrem os principais prêmios. Ausência, de Chico Teixeira, que já passou com sucesso pelos festivais do Rio, de Berlim e de Toulouse, é um forte candidato aos principais troféus - em uma competição que pode, também, render honrarias para o gaúcho Ponto Zero.
Com atuação introspectiva como o protagonista do longa de José Pedro Goulart, o garoto Sandro Aliprandini é mais um jovem ator que desponta em Gramado em 2015. Antes, o público do Palácio dos Festivais já aplaudira as atuações de Matheus Fagundes em Ausência e de Davi Galdeano em O Outro Lado do Paraíso. Talvez o cara, entre os longas nacionais, no entanto, seja Breno Nina, o ator principal de O Último Cine Drive-
In, filme de Iberê Carvalho que dividiu opiniões, mas rendeu elogios unânimes ao seu jovem protagonista, que interpreta um garoto que precisa cuidar da mãe doente e vai atrás do pai que não vê há anos (papel de Othon Bastos) e que hoje cuida do negócio descrito no título.
É outra curiosidade do festival: ao falar da adolescência, o cinema nacional tem explorado à exaustão a ausência da figura paterna, latente em todos os quatro longas citados. Que Horas Ela Volta?, com sua trama sobre as tensões da convivência entre as classes no Brasil atual, não está sozinho ao falar da configuração social do país.
A abordagem da relação entre pais e filhos, por mais íntima que seja, pode render filmes de carga política e alta capacidade de representação. Gramado mostrou isso.
Apostas para o Kikitos
A cerimônia de premiação será transmitida ao vivo, a partir das 20h45min deste sábado, pela TVCOM e pelo Canal Brasil.
Longas brasileiros
Ausência, de Chico Teixeira, talvez seja o grande filme da mostra competitiva - porque Que Horas Ela Volta? acabou retirado da competição. Ponto Zero, de José Pedro Goulart, tem chance de ganhar, assim como o irregular O Fim e os Meios, de Murilo Salles.
Atores
Gramado 2015 foi dos adolescentes: Matheus Fagundes, de Ausência; Davi Galdeano, de O Outro Lado do Paraíso; Sandro Aliprandini, de Ponto Zero. É possível que o júri escolha um dos três. Se preferir Breno Nina, de O Último Cine Drive-In, terá feito uma ótima escolha.
Atrizes
Entre as brasileiras, Cíntia Rosa, de O Fim e os Meios, é o maior destaque. Entre as latinas, difícil escolher a melhor no trio de amigas protagonistas do cubano Venecia - Claudia Muñiz, Marianela Pupo e Maribel Garzón.
Longas latinos
Bem que o júri podia se render à potente mistura de documentário com ficção do mexicano En la Estancia, de Carlos Armella. O filme tira o chão do espectador no meio da narrativa. É esquisito. Difícil de classificar. Mas funciona. E um de seus atores, Gilberto Barraza, tem a grande atuação de todo o festival até aqui.
Curtas
Antes da sessão noturna de sexta-feira, havia muita expectativa pela exibição de O Teto sobre Nós, filme gaúcho de Bruno Carboni. Principalmente pela ausência de grandes curtas em competição. O conjunto exibido no festival não foi dos mais empolgantes dos últimos anos.