A era do blockbuster
Nos anos 1970, lançamento de um filme simultaneamente em diferentes praças era a estratégia dos estúdios para títulos nos quais não se apostava muito, para faturar o possível antes do impacto de eventuais críticas negativas. O Poderoso Chefão (1972) começou a testar um novo modelo, que até então seguia uma escala de praças maiores, médias e menores, o que gerava expectativa e mantinha o filme em cartaz por mais tempo. O longa de Coppola foi lançado em 409 salas. Tubarão repetiu essa marca, com uma inovação: a publicidade agressiva. Entre outras iniciativas para promover o filme de Spielberg, a Universal investiu US$ 700 mil, uma fábula à época, em spots de 30 segundos no horário nobre da televisão.
Acordes de arrepiar
Steven Spielberg forma com o compositor John Williams uma das mais afinadas e longevas parcerias da história do cinema. Eles começaram a trabalhar juntos no primeiro projeto do diretor para a tela grande, Louca Escapada (1974). Quando Williams apresentou a Spielberg seu conceito minimalista para a trilha sonora de Tubarão, sustentada por apenas duas notas graves, o cineasta não se empolgou muito. Mas, ao explicar e demonstrar o efeito de suspense que a modulação das notas em diferentes velocidades provocava, Spielberg comprendeu a proposta. O efeito apavorante dos acordes sobre o público na sala escura, antevendo o perigo iminente, provou que o compositor estava certo. Williams ganhou o Oscar pela trilha - indicado a melhor filme, Tubarão levou também as estatuetas de montagem e som.
Tubarão no Guaíba
Se hoje o mercado internacional é prioritário para Hollywood, nos anos 1970 os EUA correspondiam a 85% do faturamento das grandes produções. Com a natural espera, Tubarão aportou em Porto Alegre no dia 25 de dezembro de 1975, sob grande expectativa do público pelo já fênomeno de bilheteria - arrecadou nos EUA US$ 129 milhões. A reportagem de ZH no dia do Natal aprentava Spielberg como "um dos mais promissores cineastas da novíssima geração do cinema norte-americano". Filas enormes se formaram para lotar as duas salas que receberam a novidade: o Victória e o Cacique, ambas no Centro. Do Rio de Janeiro chegou a notícia de uma multidão invadindo o Cine Condor, apesar do reforço policial pedido pela gerência. Um peculiaridade foi identificada na plateia brasileira: a torcida pela vitória do tubarão contra seus perseguidores.
Sustos no Cine Victória
Por Hiron Goidanich, o Goida*
Tubarões na costa do Rio Grande Sul? Nem pensar! Quando muito, a gente brincava com alguns peixinhos - a poluição da água ainda não existia - que vinham dar mordidinhas nos nossos pés. Havia era o perigo real das mães dágua, cujos fios, quando se grudavam na nossa pele, queimavam para valer.Apesar disso, o Tubarão de Spielberg nos fez tremer na cadeira do cinema. Quer pela música provocadora - e hitchcockiana - de John Williams, quer pela perfeição do monstro marítimo, que comia - vejam que mau gosto - uma bela moça de biquíni. Assisti ao filme no antigo Cine Victória. Mas tubarão para valer, até hoje, e graças a Netuno, nunca vi por aqui.
*Crítico de cinema, trabalhava em ZH à época da estreia de Tubarão