Poucas cenas na história do cinema são tão imediatamente reconhecíveis por espectadores de todas as idades quanto o sutil toque de dedos no final de E.T.: O Extraterrestre(1982). Se a referência imediata da imagem, o afresco A Criação de Adão, de Michelangelo, encena a aproximação possível entre um criador onipotente e sua imperfeita criatura, a amizade do menino Elliot com o E.T. não pressupõe a superioridade de um sobre o outro. Pelo contrário. No mundo encantado de Steven Spielberg, humanos e extraterrestres compartilham mais do que um mesmo universo. Como seu amigo terráqueo, o E.T. também tem parentes, amigos e uma casa para onde gostaria de voltar. E se não são tão diferentes assim, por que deveriam ter medo um do outro ou mesmo se odiar?
Não deixa de ser esse o ponto de partida de Por que Odiamos?, série que estreou no último sábado no Discovery Channel. Idealizada por Steven Spielberg, a minissérie documental com seis episódios parte da antropologia e da neurociência para tentar entender por que os humanos são tão violentos uns com os outros – e se há algo que possamos fazer a respeito.
A conversa começa nos macacos e acaba abordando fenômenos que estão na ordem do dia, como as ferramentas que têm ajudado a espalhar o medo e a intolerância em escala global.
Sim, não há dúvida de que o homem foi programado biologicamente para proteger os seus e rosnar para os estranhos, mas o que temos visto com cada vez mais frequência é a manipulação desses instintos primitivos no sentido de criar um ambiente em que todos se sentem permanente ameaçados por riscos nem sempre reais. Do Holocausto ao massacre em Ruanda, não são poucos os exemplos de vizinhos subitamente transformados em inimigos e algozes uns dos outros. A tecnologia não inventou os incendiários, apenas facilitou o acesso ao fósforo e à garrafa de álcool.
A Lista de Schindler (1993), filme que deu o primeiro Oscar a Steven Spielberg, não explicava por que o ódio existe, mas mostrava que, em qualquer circunstância, mesmo nas mais extremas, sempre existe quem prefira navegar na direção contrária.