Nomi Marks está deitada na cama, com dor de cabeça, e sua namorada faz sexo com ela para aplacar o desconforto. Nomi, assim como Jamie Clayton, sua intérprete, e uma das criadoras da série, é transexual. Ela busca a aceitação da sociedade e é um bem-vindo avanço da nova produção da Netflix.
Sense8, dos irmãos Andy e Lana Wachowski, que acompanha oito pessoas de diferentes locais do planeta que estão interligadas, ousa em alguns quesitos. Infelizmente, não sai da mesmice em outros.
A cena inicial da série é boa. A misteriosa personagem de Daryl Hannah se comunica com todos antes de enfiar a arma na sua boca e apertar o gatilho. A impressão que tenho é que esse seria um disparo inicial para uma crescente de emoções, fugas e lutas. Não é.
A trama apresentada nos primeiros episódios não evolui significativamente durante o resto da temporada e o ritmo é inconstante. A história finalmente dá um passo adiante lá nos últimos capítulos.
Enquanto Will e Nomi, por exemplo, buscam respostas, outros personagens tratam com total descaso suas alucinações. Lito é um personagem carismático que funciona mais como alívio cômico do que a serviço do enredo principal. Porém, algumas situações vividas por ele, seu namorado e sua amiga soam tão forçadas que nem ao menos conseguem fazer rir. O ponto positivo é que ele teve seu arco fechado, já Kala com sua arrastada e sem graça dúvida se deve casar ou não, terminou a temporada ainda sem se decidir.
Muitos protagonistas em cena têm pontos positivos e negativos. Como o material a ser trabalhado é mais amplo, demora mais para ser esgotado. Também exige que seus criadores escolham cenas chaves para que as histórias dos personagens evoluam um pouco sempre que aparecer - algo que Game of Thrones sabe fazer muito bem. No entanto, o lado ruim é que se o roteiro for mal trabalhado, o público não se afeiçoará a nenhuma pessoa e corre maior risco de ficar confuso.
Sense8 não confunde e seus personagens são dotados de empatia, mas o avanço da história definitivamente é feito aos solavancos. Minha impressão é que, na certeza de uma segunda temporada, a primeira não passou de uma arrastada introdução na qual os conflitos de todos os protagonistas foram esticados ao máximo.
Protagonistas esses que, lamentavelmente, conversam todos em inglês. Esse recurso é usado por outras produções. Vikings, por exemplo, usa. Todavia, realmente não é preciso colocar personagens falando nórdico antigo para a produção histórica parecer mais real. Já a ficção da Netflix, serviço disponível em tantos países, poderia ter saído do padrão filme enlatado americano/novela da Glória Perez.
Se a língua e o enredo incomodam, ao menos tivemos algumas boas sequências de ação para compensar. Ao final, todos os oito personagens estavam finalmente reunidos. Se realmente este primeiro ano serviu para minimamente preparar o terreno para a ação de verdade, aguardo ansiosamente por um segundo ato recompensador.
Sense8
Ficção científica / drama
Netflix, 12 episódios (primeira temporada)
Nota (0-5): 2
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