Em 1974, num show de Elis Regina no Teatro Leopoldina, fiquei deslumbrado ao ouvi-la cantar uma música inédita, Conversando no Bar (Saudade dos Aviões da Panair), que seria lançada no próximo disco. No dia seguinte, fui entrevistá-la e pedi que me escrevesse a letra, o que ela fez numa lauda (folha de papel) de ZH, começando com o título e dando a autoria logo abaixo: Milton Nascimento e Fernando Brant.
Na sexta-feira (12/6), pensei naquele dia ao saber da morte de Fernando. Foi como se eu tivesse levado uma bofetada. Além de admirá-lo muito pela beleza e vigor de sua obra de tantos clássicos com Milton e outros compositores de Minas, o admirava também como artista e cidadão de posições claras e conscientes sobre a sociopolítica brasileira, que dele fizeram também um líder de classe - há vários anos presidia a UBC, União Brasileira de Compositores.
Mas também era meu amigo de muitos encontros, esperados e inesperados. Certa vez o encontrei no Aeroporto Charles de Gaulle com sua mulher e suas duas filhas e ficamos mais de uma hora falando sobre a música e o Brasil enquanto degustávamos cervejas na espera do voo para o Brasil - durante o qual os papos prosseguiram enquanto o sono não vinha.
Outras vezes o encontrei na Festa da Música, em Canela, e como sempre varamos madrugadas em conversas como Ronaldo Bastos e Claudinho Pereira. Outras ainda em ocasiões diversas, no Rio, em Belo Horizonte, numa delas para uma longa entrevista que fiz para a revista paulista Sucesso. Fernando era um sujeito encantador, de alta sensibilidade, grande cabeça, grande mineiro de fala mansa. O Brasil perde um de seus observadores mais atentos, e a música, um de seus principais letristas.