Não é incomum na arte: pinçar certos personagens, lugares e fatos e unir tudo em um mosaico que acaba resumindo uma época ou uma cidade. A questão é que poucos fizeram isso tão bem quanto a Dingo Bells em Maravilhas da Vida Moderna, primeiro disco da banda, que tem lançamento marcado para 7 de abril, com download grátis no site do grupo. Ao falar sobre melancolia, rotina, trabalho e, vá lá, sobre o papel e o destino do ser humano na Terra, a Dingo Bells produz uma excelente obra sobre o que é ser um brasileiro de classe média com idade entre 25 e 35 anos em 2015.
Nome já importante nos palcos gaúchos, a Dingo Bells não é novata: Rodrigo Fischmann, Diogo Brochmann e Felipe Kautz tocam juntos há pelo menos dez anos. Começaram no colégio e nunca tiveram pressa. Em 2010, lançaram o primeiro EP. Três anos depois, gravaram Lobo do Mar, uma parceria com Helio Flanders, vocalista da Vanguart. A demora até o primeiro disco completo é justificada: tudo é pensado. A capa, um dinossauro de madeira em chamas, construído e incinerado pelo artista Rodrigo Marroni, "é uma forma de encarar melancolicamente e nostalgicamente o destino de todos nós", explica o baixista Felipe Kautz. Na faixa quatro, não à toa intitulada Dinossauros, a banda usa três personagens - um dinossauro, um astronauta e um ser humano pós-extinção - para cantar sobre a finitude inevitável de tudo: "se algum momento fomos todos dinossauros, hoje restamos só poeira espacial".
Assista à Dingo Bells tocando Eu Vim Passear, primeiro single de Maravilhas da Vida Moderna, em vídeo:
- O fio condutor do disco pode ser resumido em dois aspectos: de um lado, um senso crítico sobre a vida que levamos e queremos levar, como em Mistério dos 30: "Não espero acabar tão sério...", aliado a uma mensagem de leveza, que, apesar dos percalços, sabemos que vale a pena seguir em frente com um sorriso no rosto, como no refrão de Eu Vim Passear, que diz "tanta gente buzinando, esqueceu de andar, veio ao mundo por engano, eu vim passear". E esses conceitos se encontram sob o nome de Maravilhas da Vida Moderna, justamente por tratar do nosso tempo olhando de fora pra dentro questionando nosso modo de vida.
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Mas não pense que Maravilhas... é hermético ou experimental. Não é. Financiado pelo público, através do site de crowdfunding Catarse.me, é um disco agradável, pop, que serve para ouvir numa viagem de carro pelo interior do Estado - sua mãe vai adorar, garanto. Duas características chamam atenção, em especial: os vocais impecáveis do baterista e vocalista Rodrigo Fischmann e o groove incontornável de praticamente todas as faixas, mesmo as baladas.
- Conversamos em determinados momentos sobre como nos agradava a composição do Clube da Esquina, as harmonias vocais de Fleet Foxes, o groove do Chic, a serenidade do Neil Young, o pop rebuscado da fase oitentista do Caetano e o primor de execução e timbres dos discos do Steely Dan - lista Fischmann, dando vaga ideia do que esperar nas 11 faixas.