Alguns dias no sul da Índia, saindo da rotina ocidental e fugindo de seus saberes ainda tão positivistas, me fizeram pensar nas limitações da nossa cultura, que parte de riquíssimas raízes gregas, romanas e judaicas, mas que hoje está nas mãos de algumas derivações europeias e anglo-saxônicas às vezes bem limitadas e colonialistas. O mundo é muito maior do que o mapa de artes e ciências desenhado em nossas escolas, que ignora três continentes inteiros. Na verdade, pintamos a África e o Oriente como lugares em que não há nada para aprender, cheio de gente que deveria aprender conosco. Ou como destinos exóticos para turismo. E aí esquecemos que há outras sabedorias no mundo, outras formas de viver e relacionar-se com a natureza, outras opções para explicar os mistérios que cercam a humanidade.
Os critérios de validação da sabedoria do Ocidente são estritos. Como cansam de avisar os acadêmicos que dominam um campo de pesquisa, se um determinado conhecimento não foi submetido a um teste duplo-cego, não se trata de ciência, e sim de enganação. Por incrível que pareça, ainda há desconfiança em relação à homeopatia, que tem raízes ocidentais e está curando pessoas há mais de dois séculos. Eu, que já escapei de duas cirurgias, uma no joelho e uma no ombro, com tratamento homeopático, declaro que essa não ciência funciona bem, é mais barata e tem menos riscos que um bisturi na ponta de uma câmera. E, entre uma pomada de arnica e um antinevrálgico cheio de substâncias químicas altamente tecnológicas, é melhor começar com a arnica.
Não se trata de fundamentalismo nem de um ataque tardio de hippismo. Trata-se de aproveitar outras sabedorias. Neste começo de ano fiz meu segundo Panchakarma - uma limpeza do organismo que consiste de sessões de massagem com óleos vegetais e vários outros procedimentos bem distantes da medicina ocidental - e um curso de ashtanga ioga, com praticantes de vários países. Não são atividades fáceis. Exigem disciplina e uma certa dose de sacrifício. Mas o contato com essas outras sabedorias me fez bem. Minha mente, viciada pelo Ocidente, ainda insiste em desconfiar, mas meu corpo, depois de muito óleo e muito suor, agradece ao Oriente e pede mais.