A religião, ou o sentimento de que o universo não está limitado à matéria (e à antimatéria), não é algo intrinsecamente ruim. Pelo contrário, a religião está na origem do que chamamos de humanidade, quando alguns macacos bípedes e de cérebro especialmente bem estruturado ganharam a capacidade de imaginar coisas. Todo tipo de coisas. Uma caçada melhor amanhã se a presa for desenhada na parede da caverna. Uma força sobrenatural a ser invocada para encontrar uma saída rápida se a presa, de repente, virar predador. Uma vida depois da morte, se a tal força sobrenatural não conseguir intervir a tempo.
A religião está nos primórdios da arte e se confundiu com ela por muito tempo. Está nos primeiros passos da convivência social, como força de coesão para o grupo. E está na esperança de que haja alguns bons programas turísticos lá naquele país de que jamais se retorna. Se nossos antepassados na savana africana fossem ateus ou materialistas dialéticos, provavelmente teriam voltado para as árvores, onde uma dieta de bananas de verdade nunca seria substituída pelos desenhos de bananas de Andy Warhol.
Os detratores da fé costumam escrever uma longa e terrível coluna listando tudo de ruim que já atingiu o mundo devido à religião, mas geralmente esquecem da coluna das coisas boas, que inclui as obras de Bach. Parece pouco? É que talvez você não tenha escutado Bach o suficiente. Mas cada um pode listar o que quiser. Não é assim tão difícil. Se a obra é cultural, se é imaginativa, é, de algum modo, também espiritual.
Na grande manifestação de 11 de janeiro, em Paris, alguém segurava um cartaz com os dizeres "O Islã é paz, não é barbárie". As religiões, em sua grande maioria, acreditam que seus fiéis devem buscar a paz e praticar o bem, divergindo, é claro, sobre o que significa o "bem". Diversidade e volubilidade em avaliações morais são características fundamentais da humanidade, assim como liberdade de culto e tolerância com manifestações religiosas são princípios de convivência em qualquer democracia. Terrorismo é praticado por terroristas. Gritar "Alah é grande" enquanto o dedo aperta o gatilho é falta de religião, é falta de imaginação e é falta de humanidade. Os terroristas deviam subir de volta para as árvores.