Entre as histórias épicas de grandes personagens reais, que se repetem à exaustão na safra de estreias pré-Oscar (vide Selma, Livre, Invencível e O Jogo da Imitação), a cinebiografia do astrofísico britânico Stephen Hawking se destaca pelo viés romântico: mais do que a trajetória do cientista brilhante afetado por uma rara doença degenerativa que lhe tirou os movimentos do corpo, o que está em foco em A Teoria de Tudo é sua história de amor com Jane Wilde. Estrelado por Eddie Redmayne e Felicity Jones, o filme do diretor James Marsh (documentarista vencedor do Oscar pelo excelente O Equilibrista, em 2009) entra em cartaz nesta quinta-feira nos cinemas de todo o Brasil.
A Teoria de Tudo é uma adaptação do livro em que Jane Wilde conta detalhes da relação entre os dois. Eles se conheceram na Universidade de Oxford, no início da década de 1960, época em que Hawking, então com pouco mais de 20 anos, teve diagnosticada a rara Esclerose Lateral Amiotrófica - que atrofia os músculos do corpo sem afetar as atividades do cérebro. Apaixonada pelo garoto nerd de humor refinado e inteligência fora do comum, a estudante largou tudo e proveu todo o suporte de que ele necessitava para superar as dificuldades e alcançar a felicidade, tanto em âmbito pessoal (eles tiveram três filhos antes de se separar, em 1991) quanto profissional (estudos que culminaram em livros como Uma Breve História do Tempo garantiram seu lugar no panteão dos gênios da ciência).
A beleza delicada de Felicity Jones serve à personagem, que surpreende ao se revelar, aos poucos, mais forte do que sua aparência sugere. A presença dela em cena constitui um ponto alto do filme, embora o que chame mais a atenção seja a transformação de Redmayne, como um jovem desengonçado que vai sofrendo gradualmente com a progressiva paralisação de seus movimentos.
Marsh usa a empatia do casal (e o humor de Hawking) para dar um verniz fofo, bonitinho à história, que cativa o espectador e o faz sair revigorado do cinema - mas sem entender muito bem como funciona a mente única deste intelectual tão singular. O impacto de A Teoria de Tudo, assim sendo, é bem diferente daquele experimentado em filmes como Meu Pé Esquerdo (1989) e, principalmente, O Escafandro e a Borboleta (2007), ambos mais intensos em suas abordagens da existência afetada pela deficiência física.
O próprio papel do cientista fica um tanto de lado no desenrolar da trama - não espere saber em detalhes quais são as contribuições de Hawking à pesquisa nas áreas da física e da cosmologia. A Teoria de Tudo é belo e bem feito, tem fotografia límpida e trilha sonora na medida para te emocionar (rendeu o Globo de Ouro ao compositor Jóhann Jóhannsson), mas os filtros que usa para examinar as vidas que desfilam na tela impedem que as enxerguemos em sua essência.
Jovem favorito
Conhecido pelo papel de assistente de set que ciceroneia Marilyn Monroe em Sete Dias com Marilyn (2011), Eddie Redmayne se transfigura por completo para encarnar Stephen Hawking em A Teoria de Tudo. O que constitui meio caminho andado para levar o Oscar de melhor ator, dado o gosto da Academia de Hollywood pelos papéis que exigem transformações físicas dos intérpretes - vencedor do Globo de Ouro e do SAG Awards (prêmio do sindicado dos atores dos EUA), ele é o favorito na premiação de 22 de fevereiro.
Aos 33 anos, Redmayne está indicado pela primeira vez, assim como Benedict Cumberbatch (de O Jogo da Imitação), Michael Keaton (Birdman) e Steve Carell (Foxcatcher) - o quinto concorrente é Bradley Cooper, indicado pelo terceiro ano consecutivo por Sniper Americano. Se for premiado, o ator londrino será um dos mais jovens vencedores da categoria (o mais jovem é Adrien Brody, que levou em 2002, aos 29 anos, por O Pianista). Redmayne ainda pode ser visto na minissérie Os Pilares da Terra (2010) e em filmes como Os Miseráveis (2012) e Ponto de Partida (2009).
A TEORIA DE TUDO
De James Marsh
Drama, Grã-Bretanha, 2014, 123 minutos.
Estreia nesta quinta-feira nos cinemas.
Cotação: regular.