Geralmente, os debates com os cineastas após as sessões são para tirar dúvidas do público. Porém, depois da mostra de "Peace After Marriage", Ghazi Albuliwi, escritor, diretor e protagonista do filme, tinha sua própria pergunta: algum dos israelenses neste cinema já teve relações sexuais com um palestino?
Depois de muita movimentação na plateia, uma mulher levantou a mão e disse que, na verdade, não teve a relação em si, mas que teve alguns encontros. A esposa de um rabino estava pronta para se gabar de amigos que quebraram a barreira sexual israelenses-palestinos quando um homem barbudo à frente se pronunciou. Ele era árabe, no caso, muçulmano, e havia consumado o ato com uma representante feminina do suposto inimigo.
Albuliwi, nova-iorquino de família palestina, ficou de joelhos simulando louvar a Alá. E depois fez mais perguntas: Seria ela, possivelmente, um soldado? Carregando uma arma? Talvez ele pudesse ser apresentado?
O público de esquerda na Cinemateca de Jerusalém, onde a comédia romântica de Albuliwi abriu o último Festival de Cinema Judaico, chorou de rir. Aqui, finalmente, um filme sobre o conflito intratável que não deveria fazê-los sentirem-se culpados, apenas fazer com que rissem.
- Quando você ri, você esquece onde está, quem é, o que é - , disse Albuliwi mais tarde. - Eu acho que, inconscientemente, estou apenas tentando fazer com que faça sentido. Estou conversando com o público e pensando: 'por que não podemos resolver isso?' -
Não faltam filmes sobre o que é conhecido aqui como A Situação. O longa "Bethlehem", em cartaz aqui, é uma crônica sobre a relação entre uma agente da inteligência israelense e o irmão adolescente de um militante palestino. "Five Broken Cameras", documentário que relata detalhadamente demonstrações semanais na aldeia Bil'in, na Cisjordânia, foi nomeado este ano para um prêmio da Academia.
"Peace After Marriage", uma produção turco-francesa-americana de US$ 1 milhão, que recebeu vários prêmios em festivais, é uma coisa diferente. Intitulado "Only in New York" na Europa, ele é um conto burlesco sobre um americano palestino de 30 anos viciado em pornografia e masturbação que casa-se com uma israelense desesperada por um green card. E sim, ele se apaixonam um pelo outro.
- É a primeira vez que um palestino explode tão perto de um israelense sem causar danos - , diz Arafat, personagem de Albuliwi, na manhã seguinte. Durante o medo inevitável de uma possível gravidez, ele avisa: - Você percebe que sua vagina agora faz parte do processo de paz do Oriente Médio, certo? -
E quando os pais de Arafat perguntam sobre a origem da nova noiva, ele fica sem expressão: - Nós chamamos de palestina - ela não -
Nascido na Jordânia, Albuliwi, de 37 anos, mudou-se para Nova York enquanto bebê e, nas telas, ele mistura os trejeitos de Jerry Seinfeld com as neuroses de Woody Allen. O lar onde nasceu era praticamente livre de políticas, disse ele, até que a - Al-Jazeera atingiu a casa -
A mãe dele é de uma vila perto de Haifa, em Israel, embora ele seja difuso sobre quando a família fugiu (provavelmente em 1948).
A família falava árabe em casa, mas Albuliwi saía com italianos, latinos e negros. Ele começou a fazer stand-up aos 17 anos, e depois passou para os filmes. Cerca de cinco anos atrás, a mãe o arrastou para um campo de refugiados da Cisjordânia para que ele encontrasse uma esposa. Ele casou-se com uma - árabe que parecia a Audrey Hepburn - , mas fugiu depois de dois dias porque a - família dela era um bando de doidos -
Recentemente, a mãe de Albuliwi obteve a cidadania jordaniana, segundo ele, porque - ela espera que haverá uma proposta de paz, e que os refugiados serão recompensados -
A solução do cineasta para A Situação? - Um jihad sexual: uma grande orgia com árabes e judeus, onde deixamos de lado nossa hostilidade - e espero estar bem no meio dela - Depois de mencionar isso na sessão em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, alguns repórteres cancelaram as entrevistas. Porém, exibir o filme lá, e depois aqui, é algo extraordinário.
- Minha ideia de paz é criar comédia. Meu sonho é ver árabes e judeus em grandes números rindo ao mesmo tempo - , disse Albuliwi.
Cinema
Produções cinematográficas exploram relacionamentos entre pessoas de etnias diferentes no Oriente Médio
Cineasta cria filme onde israelense tem relação sexual com um palestino
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