Quase dois anos depois da morte de Millôr Fernandes, um livro apresenta um estudo sobre a obra do humorista, desenhista e jornalista. É Millôres Dias Virão, do escritor e doutor em Letras Breno Serafini. A obra é resultado de sua tese de doutorado e faz parte de uma pesquisa sobre a temática humor e ideologia.
Serafini autografa o livro hoje, às 18h, na Praça de Autógrafos. Às 19h, na Sala Leste do Santander Cultural, o autor participa do debate Millôr - O Melhor Humor, que fará um tributo à vida e à obra do homenageado, com as participações de Ivan Pinheiro Machado, Juarez Guedes Cruz e mediação de Viviane Mondrzak.
Zero Hora - Quais foram os maiores desafios para realizar a pesquisa que resultou no livro?
Breno Serafini - A dificuldade inicial foi juntar e fotocopiar todas as 520 crônicas da Revista IstoÉ e da IstoÉ Senhor, de 1983 a 1993. O período de coleta me fez percorrer várias bibliotecas da UFRGS e a da PUC. Também busquei ajuda em algumas bibliotecas do centro do país. Nesse período, fui categorizando algumas linhas de abordagem, o que me permitiu, inclusive, encontrar um suporte teórico que se adequasse ao objeto do meu estudo.
ZH - E por que a opção em enfocar as produções de textos de Millôr entre as décadas de 1980 e 1990?
Serafini - O motivo específico foi o estudo, a partir das crônicas de Millôr, as quais chamei de craquelês (pela fragmentação, principalmente), do período da redemocratização no país e do estouro da bomba no Rio-Centro à presença carnavalesca de Lilian Ramos ao lado de Itamar (Itamar Franco, ex-presidente da República). Queria investigar como se dava essa transição da ditadura à democracia, período pouco estudado da obra do autor, tentando desvendar, com isso, algumas nuanças sociais e políticas do processo. Acerca desse período, Millôr construiu pérolas como "Uma ética se perdeu rumo à democracia" ou o palíndromo ideológico "A mala nada na lama", assim como a máxima "Podem fazer a constituição mais liberal que quiserem, o homem sempre achará um jeito de se submeter a alguém". Um papo muito sério, como se pode ver.
ZH - E qual é a graça de estudar o humor?
Serafini - O humor é um campo extremamente rico e pouco estudado em geral pela universidade, inclusive por certa dificuldade de sistematização, dado o objeto ser escorregadio, digamos assim, pois envolve uma série de estratégias discursivas com uma lógica às avessas e exigindo uma tomada de posição do leitor que se disponha a interagir com elas. Quando inteligente e bem-humorado, o que é o caso das obras de Verissimo ou Millôr, por exemplo, permite-se uma análise leve e, nem por isso, sem deixar de ser séria. Para Millôr, o humor é a "quintessência da seriedade", pois permite outro olhar sobre as coisas.
Millôres Dias Virão - De Breno Serafini
Editora Libretos, 212 páginas, R$ 28 em média.
Lançamento hoje, às 18h, na Praça de Autógrafos