Seu Favorino era homem de poucos amigos.
Por estima, apenas o papagaio Lorito.
Dizem até que tomavam mate juntos no clarear da manhã.
O pessoal da fazenda não conseguia disfarçar as antipatias que nutria por aquela conversa fiada.
Lá pelas tantas, pintou um negócio nas distantes pastagens de Mato Grosso.
O que fazer com o Louro?
Se gambá não pega, raposa agarra. Afora o gato, que já fez vários ensaios.
Quem tem padrinho e amigo de infância não morre pagão.
Lembrou-se do Ramiro, que estava arranchado em Passo Fundo. As safadezas da vida, aprendemos juntos. Lustramos os mesmos bancos escolares com nossas bundas.
- Olha Favorino, eu nada sei de papagaio, mas, se é pra te servir, podes contar comigo - concordou o parceiro.
E o Lorito tornou-se hóspede oficial.
As cigarras estavam em festa. Era um verão de pingar suor da cara das estátuas.
O papagaio ficou na área de serviço com direito a uma cumbuca dágua, pão molhado no leite, um ovo cozido e folha de alface.
Seu Ramiro se demorou na cidade e, quando voltou, encontrou o Louro arrastando as asas, com olho caído.
- Vai morrer - disse de sigo para consigo, o Ramiro.
No atarantado da situação, pegou o bicho pela asa e botou no freezer.
Nesse ínterim, como costuma dizer o compadre Belizário, toca o telefone.
A ex-mulher reclama mundos e fundos e os assuntos se estendem sem respeitar o giro dos ponteiros do relógio.
- E o papagaio, meu Deus!
Lorito era um picolé verde na mais exata configuração da palavra.
O que fazer? Veterinário é tarde. A solução foi programar o micro-ondas por quatro minutos e meio e deixar o pena colorida descongelar.
Quando os sinais eletrônicos anunciaram tempo vencido, Seu Ramiro abriu a porta do forno e deparou com o papagaio de pé, sacudindo o pescoço, abanando as asinhas molhadas.
Com jeito firme e voz gaudéria, Lorito fez um ríspido comentário:
- Mas bah, tchê, mas que tempo lôco, seu... Bah!