Devem ter se conhecido às margens do Uruguai no final dos anos setenta. Num Festival da Barranca - quinta ou sexta edição. Um, estudante de jornalismo, inquieto, talentoso e jovem escritor. O outro, poeta já consagrado, vencedor de Califórnia, ativista cultural e mentor do lendário Os Angueras lá de São Borja. Ambos com o olhar ao sul. Ambos curiosos da alma humana. Luiz Sérgio Metz e Apparício Silva Rillo. O Jaca e o Moda. Dois artesãos da palavra. Dois "irmãos de arte", onde, "geografia à parte, não há contrabando". A uni-los, a amizade e a admiração mútua, além de contos, poemas e canções.
Conheci o Rillo num festival que comemorava os 300 anos de São Borja, em 1982. Evento criado por ele. A canção vencedora tinha letra do Metz. A partir do ano seguinte, fui convidado ao festival da Barranca, onde me tornei amigo do Rillo, e logo parceiro. Uma de minhas canções de estreia é Um Mate por Ti, que tem letra dele.
O Moda, como era chamado por alguns próximos, publicou seu primeiro livro de poemas em 1959 - Cantigas do Tempo Velho. Poesia de linguagem regional em que se pode destacar Contrabando, que ainda hoje é declamada em rodas gauchescas. Após vieram vários livros de poesia, mas foi com os causos de Rapa de Tacho que Apparício alcançou sucesso: aventuras, arroubos e desmazelos do homem simples da campanha.
O Jacaré, quando cheguei em Santa Maria para ingressar no até hoje inconcluso curso de Filosofia, no finzinho dos setenta, era uma lenda pelos corredores da universidade federal. Já havia se formado, mas seu nome ainda ecoava pelo campus. Quando nos conhecemos, num boteco da Dr. Bozano, já sabíamos um do outro. A empatia foi instantânea e a amizade, eterna. Viemos morar em Porto Alegre quase na mesma época e aqui cruzamos as noites da Cidade Baixa entre canções e boemias com outros tantos que hoje andam espalhados. É dele a ideia do Tambo do Bando (a concepção, o nome, a existência). São dele as palavras que musicamos (Cachoeira, Beto, Texo, Marcelo e eu). Sua obra é breve como foi sua vida, mas profunda e intensa como ele sempre foi. Além das canções que estão nos dois discos do Tambo e em alguns festivais como Musicanto e Califórnia, deixou os contos de O Primeiro e o Segundo Homem e a brilhante narrativa Assim na Terra, que serviu de inspiração para as canções de meu disco homônimo.
Por que me lembro deles neste junho que se inicia? Além de tudo, que não é pouco, ambos nos deixaram (será?) no mês de junho em 1995 e 1996. Primeiro, Rillo, dia 23. E o Jaca no dia 20. Lá se vão 18 anos. E o Jacaré e o Rillo, ainda me estendem a mão, são a boca do silêncio na voz da minha canção. E essa saudade, que funda os mapas da solidão, mora com jeito gaúcho na casa do meu coração.