Durante quase 40 anos, entre o início dos anos 1970 e janeiro de 2011, o escritor Moacyr Scliar (1937 - 2011) publicou crônicas regularmente em Zero Hora. Os assuntos eram os mais variados possíveis: das questões de saúde abordadas no caderno Vida aos temas mais leves desenvolvidos no caderno Donna, passando pelos assuntos cotidianos da cidade e do Estado reservados para a coluna das terças-feiras na página 2 do jornal.
A coletânea A Poesia das Coisas Simples, organizada e prefaciada pela professora Regina Zilberman, reúne 82 dessas crônicas, escritas entre outubro de 1977 e novembro de 2010. O livro será lançado nesta terça-feira, às 19h, na Livraria Cultura, com um debate sobre o Scliar cronista em que estarão presentes a organizadora, o professor Luís Augusto Fischer e da jornalista Cláudia Laitano.
Dividido em três grandes eixos temáticos ("Leituras, Livros, Literatura", "Pessoas e Personagens" e "Outras Histórias") organizados em ordem cronológica, o livro revela pelo menos três temas que seriam recorrentes ao longo de toda a trajetória do escritor como cronista: a paixão pela literatura, o legado da cultura judaica e as lembranças familiares da infância no Bom Fim.
Scliar escreveu mais de 70 livros em gêneros como romance, conto, ensaio, crônica e ficção infanto-juvenil, mas, paralelamente à produção extensa e variada, fazia questão de manter uma vida literária intensa e movimentada. Viajava pelo mundo todo para congressos de literatura, mas não recusava os convites das pequenas Feiras do Livro do interior do Estado.
Entre os textos selecionados, há saudações à Jornada de Passo Fundo e à Feira do Livro de Porto Alegre, assim como o registro de encontros com celebridades literárias internacionais como Gabriel García Márquez e relatos sobre a convivência com escritores como Erico Verissimo, Jorge Amado e Antonio Callado.
O título do livro foi retirado de um texto sobre outro escritor com o qual Scliar conviveu e a quem dedicou uma cordial despedida em dezembro de 1990, quando Rubem Braga morreu. Falando sobre o cronista mais celebrado da literatura brasileira, aquele que, ao contrário do próprio Scliar, dedicou-se a um único gênero, o escritor gaúcho acaba fazendo o elogio do texto breve que exercitou durante toda sua vida literária: "Há quem julgue o jornal um veículo inadequado para a literatura: o livro, diz-se, tem permanência (mesmo que esta permanência por vezes só beneficie as traças) ao passo que o jornal é um objeto descartável (...). Braga, porém, nunca acreditou nesta lógica 'macluhanesca'. Preferiu seguir o caminho de Machado e de Lima Barreto, e transformou o cotidiano em matéria-prima para um trabalho literário de primeira grandeza".
Serviço: Lançamento do livro A Poesia das Coisas Simples (Companhia das Letras, 256 páginas, R$ 29,50) e debate, com as presenças da professora e organizadora Regina Zilberman, do professor Luís Augusto Fischer e da jornalista Cláudia Laitano. Nesta terça-feira, às 19h, na Livraria Cultura (Tulio de Rose, 80, no Shopping Bourbon Country, em Porto Alegre).