Desde que o mundo do entretenimento passou a destacar o escândalo envolvendo o rapper Sean "Diddy" Combs, preso em setembro acusado de tráfico sexual, associação ilícita e promoção da prostituição, o caso passou a ser explorado de diferentes formas nas redes sociais.
Considerado um dos nomes mais bem-sucedidos da cultura pop, o músico foi peça fundamental para a ascensão do hip-hop nos anos 1999 e 2000, impulsionando, até mesmo, a carreira de diversas celebridades. Fato que se tornou o principal elemento para o aumento do que os especialistas chamam de fanspiracies.
— Fanspiracies é um termo relativamente novo que tem sido pensado pelos pesquisadores culturais. É um fenômeno que mistura uma especulação sobre determinado acontecimento feito por uma comunidade de fãs. O tipo de pessoa que vai elaborar isso pode ter um tipo de comportamento que é o que a gente chama, às vezes, de "fã investigador" — explica Adriana Amaral, professora da Universidade Paulista e coordenadora do Laboratório de Pesquisa em Cultura Pop, Comunicação e Tecnologias (Cultpop) — Sempre existiu, mas recentemente, com a internet, ele é facilitado pela maneira de produzir essas narrativas.
Teorias como a de que o rapper teria ligação com as mortes de Tupac, The Notorius B.I.G e Michael Jackson passaram a repercutir nas redes, seja por meio de vídeos ou threads.
Em outros casos, até detalhes de músicas foram analisados, no intuito de encontrar pistas sobre a vida pessoal de Diddy e de figuras como Justin Bieber, que mantêm uma relação profissional e de amizade com o magnata.
— Os fãs já tendem a fazer esse tipo de coisa, normalmente não tendo uma prisão envolvida. Essa ideia de entrar no mundo das celebridades é uma forma dos fãs intervirem, e, de certa forma, poderem participar a partir da construção dessas narrativas. Esse caso acaba sendo mais forte e mais representativo por isso — pontua Adriana.
Manifestações lúdicas
Inspirada no conceito dos seis graus de separação, a teoria de que Kevin Bacon estaria relacionado a todos os atores de Hollywood é um exemplo do que a pesquisadora chama de manifestação lúdica.
A brincadeira, que surgiu nos primórdios da internet, virou até jogo: Six Degrees of Kevin Bacon, que propõe que os participantes tentem conectar qualquer ator com Bacon por meio de um filme que ambos tenham participado juntos.
Para Christian Gonzatti, professor da Escola Indústria Criativa e pesquisador do Instituto de Cultura Digital na Unisinos, essas teorias são, muitas vezes, mobilizadoras de afetação.
— As teorias da conspiração envolvem muitas pessoas nas práticas de fandoms e podem até mesmo ter um teor mais humorístico. Um exemplo é a teoria de que Avril Lavigne morreu e foi substituída. Há fãs que percebem o teor absurdo dessa ideia e outros que se engajam seriamente nela — destaca ele.
Confira um dos vídeos:
Ainda segundo o professor, outra categoria de teorias conspiratórias são as disputas entre celebridades, com supostas indiretas ou inimizades que, por vezes, agitam a internet.
As celebridades sempre estiveram em um patamar mais distante da vida das pessoas comuns, então todo mundo quer saber como é a vida delas.
ADRIANA AMARAL
Professora da Unip e coordenadora da Cultpop - Laboratório de Pesquisa em Cultura Pop, Comunicação e Tecnologias
Taylor Swift, considerada uma das artistas mais promissoras da sua geração, também é alvo de teorias criadas pelo público, que especula a vida pessoal da cantora com base nas letras de músicas que, para eles, revelam detalhes de relacionamentos vividos por ela.
— As celebridades sempre estiveram em um patamar mais distante da vida das pessoas comuns, então todo mundo quer saber como é a vida delas — reflete Adriana.
Entre os fatores que contribuem para o surgimento das fanspiracies, Christian Gonzatti cita a polarização política e a desinformação espalhada com o uso de tecnologias e plataformas digitais. Segundo ele, a grande problemática dessas narrativas é quando elas geram riscos de alienação e negação da realidade:
— Com a cultura digital, esses tópicos se articulam e tornam a cultura de fãs um espaço profícuo para interesses políticos relacionados a conspiração e desinformação.
*Produção: Rayne Sá