"Sem ele no pagode eu não me arranjo/ Vai buscar meu banjo que hoje eu quero versar", canta Arlindo Cruz na música em que homenageia seu fiel escudeiro, o banjo. Parente do cavaquinho e do alaúde, o instrumento vem ganhando cada vez mais adeptos em Porto Alegre. Entre os responsáveis pela popularização estão os integrantes da roda de samba Banjeiros de Porto Alegre, que se diferencia das tradicionais por ter o harmônico dos banjos como carro-chefe.
Em menos de dois anos de existência, o evento conseguiu se consolidar como um dos mais importantes da cena sambista da Capital. Algo que pode ser percebido nas edições mensais da roda de samba dos Banjeiros, sempre cheias, e no aumento da procura pelo instrumento musical.
— No nosso primeiro evento, em outubro de 2022, chegamos a ter 17 banjos tocando ao mesmo tempo na roda. Convocamos a galera a comparecer de forma espontânea e deu nisso, já mostrando a força que tem o instrumento aqui em Porto Alegre — lembra o idealizador do projeto, o músico e luthier Rafael de Moraes, 39 anos.
— Hoje, todos os dias nós recebemos mensagens de gente interessada em comprar e aprender a tocar. Em um futuro próximo, queremos oferecer oficinas — diz.
A demanda é, na verdade, pelo chamado "banjo brasileiro", uma adaptação que começou a se popularizar no Brasil em meados de 1970. O instrumento tem o corpo de um banjo tradicional, de origem norte-americana, mas com o braço curto, semelhante ao do cavaquinho.
Reza a lenda que o responsável pela criação foi o sambista Almir Guineto, que almejava tornar mais imponente a harmonia do grupo em que tocava à época, Os Originais do Samba. Para isso, trocou o cavaquinho por um banjo, cujo som é mais alto, mas adaptou o braço e as cordas. A gambiarra foi posteriormente levada por ele ao grupo Fundo de Quintal e, a partir daí, tornou-se instrumento indispensável nas rodas de samba do país. Tanto que deixou de ser chamado de "banjo brasileiro", virando apenas banjo.
E é no ritmo ditado por ele que a roda dos Banjeiros de Porto Alegre toma forma. O grupo conta com 22 músicos integrantes — 12 tocadores de banjo e 10 percussionistas. Ou seja, há pandeiro, rebolo, tantã e outros instrumentos tradicionais do samba, mas o que se sobressai é o som da harmonia, formada somente pelos banjos.
Para manter o clima de roda de samba clássica, sustentada somente no gogó, não há equipamento de som entre os músicos. Contudo, microfones são colocados para captar o coro formado pelo público. É o que permite ouvir com mais clareza a letra das canções interpretadas, já que o som dos banjos pode acabar se impondo.
O repertório passa por nomes tradicionais como Beth Carvalho, Almir Guineto, Jorge Aragão, Arlindo Cruz, Reinaldo, Zeca Pagodinho e Fundo de Quintal.
— Nossas rodas costumam durar umas cinco horas, então dá para tocar bastante — explica o idealizador. — Iniciamos com as músicas lado B, aquelas que gostamos de cantar, e vamos aquecendo o repertório conforme o pessoal vai chegando. É tudo muito espontâneo, não tem ensaio. Sentimos o clima e emendamos uma música na outra, tocando o que a galera pede — detalha.
Como o projeto começou
Moraes conta que idealizou o projeto com a intenção de reunir amigos que, assim como ele, são apaixonados pelo banjo. A primeira edição foi realizada em uma quadra esportiva da zona norte da Capital, mas a adesão foi tamanha que a roda precisou migrar para um espaço maior já na seguinte.
A Banda Saldanha (Av. Padre Cacique, 1.355) passou a ser o endereço oficial do projeto. Todos os meses, uma edição é realizada no espaço, tido como reduto sambista. Eventualmente, edições extras são feitas em outros lugares da cidade. Neste domingo (18), por exemplo, a roda de samba volta à Zona Norte para uma edição no Vila Rica Club (Av. Assis Brasil, 4.145). O evento começa ao meio-dia, com entrada franca até as 20h.
Além do amor pelo banjo e pelo samba, a gratuidade é uma das principais bandeiras dos Banjeiros de Porto Alegre, conforme Moraes:
— A nossa intenção nunca foi ficar rico com o projeto, mas se divertir. E não é sempre que as pessoas têm R$ 20 ou R$ 30 para gastar. Nós queremos que todos possam participar, porque é uma forma de resgatar essa raiz do samba em Porto Alegre.
— Pessoas de outros lugares se surpreendem quando conhecem o projeto, porque não conheciam a nossa tradição de samba. Muita gente acha que aqui no Sul e só churrasco e bailão, mas Porto Alegre é um grande reduto.
Banjeiros de Porto Alegre
- Neste domingo (18), a partir do meio-dia, no Vila Rica Club (Av. Assis Brasil, 4.145), em Porto Alegre. A roda de samba comandada pelos banjeiros deve começar às 15h.
- Entrada gratuita até as 20h. Após, o valor é de R$ 15.
- Para informações sobre as próximas edições, acompanhe o perfil do Instagram @banjeirosdeportoalegre