É hora de procurar as roupas coloridas de lycra que estão no fundo do armário. Afinal, o É o Tchan está chegando a Porto Alegre para comemorar os seus 30 anos de estrada — que se iniciou com o Gera Samba, criado em 1992. O grupo de axé faz show no Auditório Araújo Vianna nesta quinta-feira (11), trazendo para o público gaúcho toda a malemolência que fez de Compadre Washington, Beto Jamaica e companhia um fenômeno nos anos 1990 e que segue habitando a memória dos brasileiros.
Porém, quem ficou sabendo do show enquanto lia esta matéria e, agora, pretende ir na apresentação, más notícias: os ingressos já estão esgotados. É o reflexo do sentimento nostálgico que anda sobrevoando o Brasil, com bandas que fizeram sucesso no passado anunciando reencontros e arrastando multidões. Sempre antenada, a galera que dança com bambolês, garrafas e cordas foi no embalo. E deu muito certo.
— Já tem muito tempo que nós não vamos fazer show em Porto Alegre e saber que os ingressos se esgotaram é gratificante. Considero um grande mérito para a gente saber que o pessoal do Sul ainda curte o É o Tchan depois de 30 anos. A gente está de volta e espero estar com todo o gás para poder animar todo mundo no show. Isso, para a gente, é maravilhoso — conta Compadre Washington, recuperado de uma cirurgia para a retirada do apêndice, no final de dezembro.
O reencontro do É o Tchan que, atualmente, conta com Compadre Washington e Beto Jamaica como os fundadores — oriundos lá da época do Gera Samba — e, também, únicos remanescentes da formação que contagiou o Brasil nos anos 1990, ganhou os reforços de Jacaré, Scheila Carvalho e Sheila Mello. Assim, o grupo que ajudou a popularizar o axé music Brasil afora está com força quase total na estrada — a ausência de Carla Perez é sentida por parte dos fãs.
— Sem o Jacaré, a Scheila Carvalho e a Sheila Mello não teria sentido, porque nós estávamos juntos na época da explosão. Então, para comemorar os 30 anos, tinha que ser à altura. Conversamos com os nossos produtores, eles entenderam a ideia e foram atrás. O Jacaré mora nos Estados Unidos, e as Sheilas, cada uma tem os seus trabalhos independentes, mas nós conseguimos reunir para algumas datas. Estamos indo para oitava edição das comemorações dos 30 anos e está muito bonito — destaca Beto Jamaica.
Fenômeno
Dificilmente um domingo na televisão brasileira dos anos 1990 não contava com o É o Tchan cantando hits um tanto quanto maliciosos como Pau que Nasce Torto, Dança da Cordinha, Na Boquinha da Garrafa, Dança do Bumbum, Ralando o Tchan, Bambolê e muitos outros. O grupo baiano tinha uma grande abertura nos programas de auditório e, inclusive, foi no Domingão do Faustão em que um dos concursos televisivos mais comentados do país ocorreu: a escolha da nova loira do É o Tchan, do qual a vencedora foi Sheila Mello.
Mesmo décadas depois, estes momentos seguem no imaginário popular — e atingindo também os mais novos, que dançam e cantam os sucessos do passado. Nas festas de família, É o Tchan está sempre presente nas playlists, e as coreografias são repassadas de geração para geração. Compadre Washington agradece aos pais que colocam as músicas do grupo para os filhos ouvirem — segundo o artista, são essas pessoas que garantem a continuidade do trabalho deles.
— Essa explosão musical de nostalgia que estamos vendo é porque hoje está meio difícil de encontrar música boa. Então, nós, graças a Deus, estamos colhendo o que plantamos nos anos 1990. Hoje, as pessoas estão ouvindo mais É o Tchan porque as coisas boas permanecem. Tem muitas músicas descartáveis, que você canta hoje e amanhã já era. Se na época do auge do É o Tchan tivesse internet como hoje, a gente era superstar. Não é à toa que vendemos 16 milhões de CD's — enfatiza o artista.
Beto Jamaica complementa as reflexões do colega e aponta que a mídia dos anos 1990 foi fundamental para catapultá-los, mas enfatiza que o trabalho prévio do grupo, que já conseguia tocar as pessoas mesmo sem os canhões de audiência televisivos, ajudou a formar uma espécie de família em torno dos baluartes do axé music.
— Juntou a fome com a vontade de comer e deu esse boom no Brasil. Foi no meio daquela disputa de audiência do Faustão com o Gugu, com o Raul Gil. A gente fazia praticamente todos os programas, ficando, às vezes, duas semanas só gravando programas de televisão. Tínhamos que gravar porque o pedido era muito grande deles e não podíamos negar um e aceitar outro. A gente fazia com maestria, com vontade, com amor — relembra Beto Jamaica, destacando que a dedicação do grupo cavou o seu espaço no coração dos fãs que, agora, vão lotar o Araújo Vianna para celebrar esses 30 anos de história.
É o Tchan – 30 anos
- Nesta quinta-feira (11), às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Avenida Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre.
- Ingressos esgotados.