Não tem pra ninguém, o agronejo dominou 2023. Os chapéus de caubói, as botas de couro e as roupas com franjas combinados com a mistura entre funk, pop e sertanejo: esta é a receita da enxurrada de hits-chicletes que o Brasil ouviu nos últimos 12 meses. A jovem Ana Castela, de apenas 20 anos, foi a boiadeira que tomou a frente desta cavalgada — ela foi a mais ouvida do Spotify no país, por exemplo. E vários outros artistas a seguiram pelo mesmo caminho.
Para 2024, tanto as rádios quanto as plataformas de streaming devem seguir expandindo este novo gênero — ou seria subgênero? — da música. Assim, espere por mais sertanejo, funk e até mesmo pisadinha abraçando cada vez mais a cultura agro, chamando a galera do Interior para o universo pop, antes mais voltado para o pessoal da cidade grande. A agromusic, tendo todo o aparato do poderoso mercado do agronegócio por trás, tende a se elevar cada vez mais.
— A música Dentro da Hilux, por exemplo, que é uma das mais pedidas da (rádio) 92, é de um cara que nasceu deste movimento de urbanizar o agro, que é o Luan Pereira. Ele é um gurizão de 19 anos que flerta com o funk, mas usa chapéu, bota e é bem o meio-termo entre essa coisa do agro e o urbano. Este tipo de música teve uma crescente em 2023 e acho que vai voltar em 2024 de uma forma mais consolidada — explica Hans Ancina, comunicador da rádio 92 e DJ.
As mais ouvidas do Spotify em 2023 não deixam dúvidas de que o sertanejo é o grande carro-chefe da música nacional — o gênero liderou entre os mais populares do ano. E, neste cenário efêmero da internet, diversos artistas conseguem o seu lugar ao sol para brilhar, estourando um sucesso nas plataformas e redes sociais. O problema é conseguir fazer o raio cair duas — ou mais — vezes no mesmo lugar.
— A gente brinca que, com a geração TikTok, estamos vendo muitos artistas de um hit só, que bombam e depois ficam tentando se manter — salienta Ancina, que acredita que este novo ano vai ser de consolidação de nomes que conseguiram se provar mais de uma vez. — Teremos o reposicionamento de vários músicos. Estou vendo, por exemplo, um movimento muito legal da Ludmilla, que vem aí com uma turnê nova. Eu acredito que logo ela vai fazer um barulho ainda maior.
Segundo o comunicador, os artistas que se inserem na chamada nova música popular brasileira devem chamar ainda mais atenção para si. Ele cita que Jão e Luísa Sonza são dois dos que devem integrar esta linha de frente dos novos fenômenos das plataformas de streaming e também das rádios. Como DJ e acostumado a agitar eventos, Ancina também avalia que o funk, principalmente aquele feito no Rio de Janeiro, deve puxar um pouco dos holofotes para si. Assim, neste verão, nomes como Dennis, Anitta e Pedro Sampaio devem bombar.
— E, claro, não podemos esquecer o rap e do trap, que vêm em uma crescente nos últimos anos e devem continuar crescendo. Temos, atualmente, um fenômeno no Brasil, que é a turma do 30PraUm, com o Matuê, o Wiu e o Teto. Mas acredito que também essa galera da batalha de rima deve ganhar um pouco mais de corpo — projeta Ancina.
Marília Mendonça ainda arrasa
Morta em 2021, Marília Mendonça segue sendo uma das artistas mais tocadas no Brasil. Em 2023, ela apareceu novamente no top 5 do Spotify, bem como a música Leão, interpretada por ela. Um sucesso arrebatador de uma cantora que deixou saudade no país inteiro. E ela deve, novamente, ser um dos destaques no ano que está chegando.
— A gente tem algumas artistas, como a Simone Mendes, que fez uma carreira solo firme, consistente, com bons trabalhos, mas acho que do tamanho da Marília Mendonça não vai ter. A forma com que ela traduzia o movimento do feminejo é algo único. Maiara & Maraisa e Simone & Simaria chegaram perto, mas não do jeito que a Marília fez. Então, acho que gente ainda vai ouvir falar muito dela, sendo um grande sucesso ainda em 2024 — avalia Ancina.
Agora, enquanto o sertanejo e o movimento agro devem dominar as caixas de som do próximo ano, o Planeta Atlântida, que ocorre nos dias 2 e 3 de fevereiro na Saba, no Litoral Norte, deve marcar também um novo momento para o rock nacional — que não aparece entre as músicas mais ouvidas, mas passa por um certo renascimento, principalmente no que diz respeito ao emo.
— O NX Zero no palco do Planeta, mesmo que sendo uma possível despedida, pode ser o grande show do festival, principalmente quando a gente observa o que eles fizeram no Allianz Parque no último show da turnê. Foi emocionante. Então, eles lá, com a Fresno e os próprios Paralamas do Sucesso, vai ser um respiro para o rock. E que só deve aumentar em 2024 — finaliza o comunicador da 92.