Nem Jorge Drexler entende tamanho amor que recebe do Rio Grande do Sul. Talvez seja o segundo uruguaio mais querido pelos gaúchos, ficando atrás de Luis Suárez, idolatrado por uma considerável porção azul do Estado. Em seus mais de 30 anos de carreira, suas apresentações em Porto Alegre costumam esgotar ingressos em pouco tempo. Não é à toa que, neste sábado (11), o cantor e compositor realizará seu maior show no Brasil até hoje justamente no ginásio Gigantinho, a partir das 21h.
Em 2022, Drexler encheu o Auditório Araújo Vianna em duas noites com o show do premiado e aclamado álbum Tinta y Tiempo. Agora, ele volta com a turnê Tiempo y Tinta, que, além de inverter o título, encerra o ciclo do disco lançado no ano passado. No roteiro desta tour, o músico volta a visitar as cidades que considera mais importantes, promovendo apresentações ainda maiores.
Tiempo y Tinta já passou pela Espanha, onde Drexler é radicado, Estados Unidos, Colômbia, Venezuela, Chile, Argentina, Guatemala, Costa Rica e El Salvador. Drexler lembra que o show do álbum foi mudando com o tempo. Quando pretendia finalizar o ciclo do disco, ele começou a ser convidado para tocar em espaços ainda maiores.
— Gostei desse desafio, de procurar os limites do meu repertório, que é bastante intimista. Até onde pode chegar esse intimismo? — avalia Drexler. — Queria também voltar para cá porque vou ficar um bom tempo longe dos palcos. No ano que vem, devo permanecer na Espanha, preparando um disco novo, só fazendo shows pela Europa.
O espetáculo em Porto Alegre será diferente daquele apresentado no Araújo em 2022. Para se adaptar aos espaços maiores, o músico conta que foram alterados 70% dos arranjos do repertório, que também foi ampliado. A apresentação é menos baseada em Tinta y Tiempo, cujas 10 faixas integravam o setlist, e mais aberta para o resto de sua discografia — pode-se esperar petardos como Salvapantallas, Todo se Transforma, Fusión, Telefonía, entre outros.
A trajetória de Tinta y Tiempo foi bem-sucedida: no Grammy Latino de 2022, o disco rendeu sete estatuetas ao cantor, incluindo as categorias de Gravação do Ano e Canção do Ano com Tocarte, parceria de Drexler com o rapper espanhol C. Tangana. Em outubro deste ano, ele foi consagrado na Espanha com o Prêmio Ondas de melhor espetáculo pela turnê do disco.
Drexler sente que Tinta y Tiempo representou um crescimento da difusão de seu trabalho. Ressalta que a turnê do álbum foi uma das mais importantes que já teve. Por outro lado, do ponto de vista da entrega artística e pessoal, o músico não vê um salto — assegura que é a mesma dedicação e energia.
— Talvez o cantor e compositor tenha a tentação de dizer: "Este é o disco mais importante da minha vida!". Com a maior honestidade e transparência, eu acho que não. Na maioria das vezes, não é verdade. Nossa memória é frágil, muitas vezes esquece a entrega que teve em momentos anteriores. Não é meu caso, eu não acho que este disco seja o "melhor" nem o "pior" — reflete.
Ele acrescenta que o disco esteve muito perto de não acontecer por conta do bloqueio artístico que viveu durante a pandemia. Inicialmente, o músico sentiu a necessidade de relatar como foi aquele período; porém, concluiu que jamais iria querer cantar sobre aquelas experiências no futuro. Drexler classifica a construção do álbum como uma "luta", mas que terminou muito bem.
Amor dos gaúchos é "belo mistério"
Aos 59 anos, Drexler volta a um lugar que costuma acolhê-lo com carinho. As apresentações do uruguaio usualmente lotam os espaços porto-alegrenses. É uma zona de conforto: a capital gaúcha integra o que o músico chama de Ilexlândia (referência ao nome científico da erva-mate, Ilex paraguariensis), um território que vai do pampa argentino, passa pela planície uruguaia e termina no pampa brasileiro.
Para ele, é uma área que ultrapassa as fronteiras políticas e entra em outro tipo de fronteira, que crê ser mais verdadeira, que não se impõe, mas se desenvolve naturalmente. Aliás, Drexler sabe bem o quão importante é sair do território imposto por barreiras políticas e, às vezes, linguísticas. Ele frisa que aprendeu português cantando João Gilberto, Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso — foram seus mestres do idioma. Nunca teve aulas.
Contudo, Drexler até hoje não consegue explicar a quantidade de amor e afeto que recebe em Porto Alegre. A interpretação mais direta que ele pode encontrar é que os gaúchos teriam uma vinculação maior com a identidade do Conesul.
— Acho um exagero (risos). Um exagero amoroso e carinhoso. É desproporcional essa relação que tenho com Porto Alegre. Me sinto muito em casa — sorri. — Talvez se identifiquem bastante com meu operar artístico e estético. Mas, repito, a maior parte do amor que recebo do Rio Grande do Sul é um belo mistério.
Jorge Drexler em "Tiempo y Tinta"
- Neste sábado (9), às 21h, no Gigantinho (Avenida Padre Cacique, 891), em Porto Alegre. Abertura dos portões: 19h.
- Ingressos a partir de R$ 100. Ponto de venda online: pelo site Uhuu (com taxa de serviço). Ponto de venda sem taxa: bilheteria do Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80), das 13h às 21h, e bilheteria do Gigantinho, que abre duas horas antes do evento.