Uma noite para tirar a jaqueta parka do armário. Assim como aquelas peças adquiridas em brechós. Boinas são opcionais. Uma sexta-feira para reunir a matilha e ir ao Dr. Jekyll ou ao Garagem Hermética. Bem, já que esses lugares não existem mais, o destino é o Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685). O espaço será palco para a reunião de uma das bandas mais representativas do cenário roqueiro de Porto Alegre do começo dos anos 2000. E do rock gaúcho como um todo.
É noite de Cachorro Grande. Com Beto Bruno (vocal), Marcelo Gross (guitarra), Pedro Pelotas (teclado), Gabriel "Boizinho" Azambuja (bateria) e Eduardo Barretto (baixo) — repondo Rodolfo Krieger, que hoje vive em Portugal —, o grupo realiza seu show anual no Araújo nesta sexta-feira (14), às 21h.
Tendo encerrado as atividades oficialmente em 2019, a banda tem se encontrado desde então para apresentações pontuais. Após encherem o espaço desta sexta no ano passado, em evento que fazia parte das comemorações do aniversário de 250 anos de POA, os integrantes da Cachorro acertaram de, anualmente, realizarem um show na capital gaúcha em uma data próxima ao Dia Mundial do Rock (13 de julho).
Desta vez, a banda traz um show que celebra seu álbum homônimo de estreia, de 2001, que foi relançado em vinil no primeiro semestre. Em agosto, uma versão remasterizada do disco chegará às plataformas digitais, trazendo demos, sobras de estúdio e versões acústicas.
Embora não faltarão aqueles hits e uma boa passada a limpo nos quase 25 anos de história da Cachorro — como Sinceramente e Você Não Sabe o que Perdeu —, o show deve trazer boa parte do primeiro trabalho de estúdio do grupo, como Lunático, Debaixo do Chapéu, Sexperienced, Dia Perfeito, Vai T. Q. Dá, entre outras faixas. Trata-se de um registro enérgico, carregado de influências sessentistas — como Beatles, Rolling Stones, Kinks, The Who, Mutantes etc. —, que espelha as performances estrondosas que a banda desempenha nos palcos.
Beto Bruno relata que, ao ouvir a versão em vinil do álbum, se surpreendeu com o quanto o disco ainda soa bem. No entanto, não era o que o vocalista sentia em um primeiro momento.
— Na época, eu não gostei do álbum porque, na minha opinião, achava que o show era uma porrada visceral e o disco não tinha conseguido passar a nossa energia ao vivo para a gravação — admite. — Ouvindo hoje, está ali o show o tempo todo. Toda nossa energia. Só para ver como eu era chato e meticuloso.
Sobre o repertório da Cachorro, aliás, Bruno ressalta hoje ter muito orgulho. Após oito álbuns de estúdio e muita estrada desde 1999, a banda produziu um material sólido ao longo do tempo, que, conforme o vocalista, ainda soa superbem.
— Não sou de olhar para trás, mas esses dias estava escutando Cachorro Grande e me choquei com algumas coisas. Cara, que banda FDP! Como a gente se preocupava com as nossas músicas. Não lançávamos disco por lançar. Nunca nos repetimos — atesta Bruno. — Agora sou o fã da Cachorro que eu deveria ter sido desde o primeiro disco.
Para Gross, o álbum de estreia da banda ainda é seu favorito:
— Ele ainda me soa visceral e reflete a vontade que nós tínhamos de conquistar o nosso espaço.
Legado
Apesar da reunião desta sexta, não há planos para futuros trabalhos da Cachorro. Não há mais shows no horizonte ou gravação de estúdio prevista. No máximo, As Próximas Horas Serão Muito Boas (2004) deve ser relançado em vinil duplo, celebrando seu aniversário de 20 anos. Cada membro da matilha seguirá focado em seu projeto solo.
Desde que a banda fez o show de reunião no ano passado, o clima está ótimo entre os integrantes, garante Beto Bruno. O vocalista admite, inclusive, que as maiores feridas entre eles estão secando.
— Não temos mais o lance de trabalharmos juntos, então voltamos a ser aquela família do início da banda. Justamente por não estarmos mais na estrada juntos, voltou aquela amizade verdadeira — avalia. — É uma coisa que não quero perder na minha vida. São a minha família. Ficamos juntos entre nós mais do que com nossas próprias famílias, foram anos de turnês ininterruptas. É mais um motivo para a banda não voltar. O mais importante para mim é a amizade deles, mais do que dinheiro ou sucesso.
Resta à Cachorro Grande administrar e celebrar o seu legado. Quanto a isso, Gross sente que valeu cada esforço:
— Eu vejo com muita alegria e orgulho o que construímos fazer parte da vida das pessoas de maneira tão especial. Fico sensibilizado com o carinho que todos têm com a gente e com o nosso trabalho. Agora é a hora de matar a saudade.
— Que isso dure até a gente não conseguir mais estar no palco — finaliza Beto Bruno.
Cachorro Grande
- Nesta sexta-feira (14), às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre.
- Ingressos a partir de R$ 70 (solidário, mediante doação de 1 kg de alimento não perecível). Ponto de venda com taxa: pelo Sympla. Ponto de venda sem taxa: Loja Planeta Surf Bourbon Wallig (Av. Assis Brasil, 2.611), das 10h às 22h, e na bilheteria do Araújo (no dia, duas horas antes do show).
- Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante e acompanhante.
- Abertura da casa: 19h30min. Classificação etária: 14 anos.