Sobram elogios, recordações, aprendizados, gratidão e reconhecimento do músico Yamandu Costa em relação a Luiz Carlos Borges, ou ao "veio Borges", como ele o chama carinhosamente.
Assim como o Rio Grande do Sul, o violonista lamentou a morte do gaiteiro, ocorrida na noite desta quarta-feira (10), em razão de problemas de aneurisma de aorta. "Mais do que um amigo, um irmão! Confidente, apaixonado pela vida. Se não bastasse tudo isso, nos deixa uma obra impecável! Ele me deu formação musical, me fez sonhar alto e acreditou profundamente na minha caminhada", escreveu em seu perfil no Instagram.
Yamandu, que atualmente mora em Portugal, estava em viagem, na Sérvia, onde se apresentou na mesma noite em Belgrado. Na manhã desta quinta-feira (11), na ponte área de retorno para casa, mesmo abalado pelo luto, ele conversou com GZH para prestar reconhecimento ao artista.
A origem da irmandade
A amizade e a parceria de palco começou quando Yamandu tinha por volta de 13 anos e dava os primeiros passos no caminho musical, assim como Borges, que começou a carreira aos 11 anos.
— Essa relação começa por meio do meu pai, que já acompanhava a carreira do grupo Irmãos Borges, que tocava e animava bailes pelo Rio Grande do Sul. O pai sempre contava a história de que havia conhecido um menino, de 11 anos, que tocava acordeom extremamente bem e, no caso, era o Luiz Carlos Borges. Ele era um grande admirador da musicalidade e da obra do Borges, tirava o chapéu e tinha o maior respeito pela representatividade e importância dele. E meu pai já falava: "meu filho, um cara que você vai dar liga, que você vai aprender muito e vai ser um bom parceiro para você se desenvolver é o Luiz Carlos Borges". E desde que eu o conheci, foi algo imediato. A partir dali, a gente entrelaçou uma amizade e ele começou a me abrir portas para tantas coisas.
O encontro entre os prodígios da música gaúcha ocorreu na Pulperia, na Travessa do Carmo, uma casa noturna importante para a cena musical porto-alegrense e nativista. Entre as vivências e recordações, muita gratidão.
— Hoje, com esse sentimento do luto, eu começo a lembrar das pessoas que ele me apresentou, figuras fundamentais na minha trajetória. A turma de música de São Paulo, por exemplo. Quando fui embora do Rio Grande do Sul, ele foi um dos primeiros caras a me apoiar e a dar força. Me apresentou Arismar, do Espírito Santo, Paulo Cesar Pinheiro, Maurício Carrire, Luciana Rabello.
Impacto na vida artística
O violonista destaca o impacto que Borges teve na vida e carreira de diferentes artistas, graças à generosidade do artista.
— Ele era muito generoso, um cara de fazer contato, de estender a mão, e fazer com que as pessoas se conhecessem de uma maneira muito natural. Ele tinha essa veia de juntar as pessoas. Por essa característica, ele iluminou o caminho de muita gente. Sem ver a quem, algo generoso e natural que ele tinha de aproximar as pessoas. Ele ajudou muita gente e fez muitas conexões dentro do meio que ele vivia e até o ponto que ele podia, era isso que ele fazia.
Influência além da música
De acordo com Yamandu, a atuação e o impacto positivo de Luiz Carlos Borges não se limita ao legado musical.
— Ele teve atuação fundamental não só dentro da música, mas em desenvolvimento de festivais, a fomentação da cultura de uma forma geral, a maneira que ele se posicionava sempre com uma elegância, sempre com seriedade, dentro desse tema da integração da música, do chamamé, da linguagem da música da fronteira, ele foi um grande representante, em misturar com a nossa música gaúcha.
Privilégio em ser amigo
Por fim, Yamandu, que também publicou no Instagram uma homenagem ao artista, que ele considera um irmão, falou a respeito dessa parceria, do acolhimento, do incentivo e, em especial, do privilégio de ter sido amigo do ícone.
— Ele deixa uma obra impecável, que eu conheço muito bem. Fiz parte da criação dessa obra, ele me mostrava muita coisa, eu conheci essa obra sendo feita. E isso, sem dúvida, foi um dos privilégios da minha vida, ter acompanhado a criação desse legado. Eu estou completamente de luto, mas feliz e agradecido por ter convivido com ele durante esse tempo e ter seguido o sonho que ele mesmo me falava: "Meu guri, eu não saí daqui do sul, mas tu vai pegar o teu violão e vai para o mundo. O mundo te espera e você vai conquistar o mundo". Então, imagina a importância que tem isso para mim. É incrível.