O Rio Grande do Sul se despediu nesta quarta-feira (10) de um dos maiores ícones da cultura gaúcha. A morte de Luiz Carlos Borges, aos 70 anos, comoveu público, amigos e familiares. O nativista deixa um legado ímpar para a música do Estado, da qual foi peça importante, como destacam os colegas de profissão.
— É um momento muito triste para toda a nossa música. Principalmente para a minha geração, ele é a referência. O meu pai sempre dizia: "Tem de conhecer o trabalho do Luiz Carlos Borges, porque ele é o artista mais completo do Rio Grande do Sul, ele é um cara que toca gaita, violão, canta, compõe, escreve, faz de tudo, ele é um cara completo". Eu já nasci admirando o trabalho do Borges — lamenta o cantor Neto Fagundes.
O apresentador destaca o carinho pelo amigo e sua família e recorda que os dois se conheciam há muito tempo e chegaram a vencer dois festivais juntos.
— Muita saudade, muita tristeza, mas, ao mesmo tempo, um baita orgulho de um dos maiores artistas brasileiros, de a gente ter convivido com ele aqui, com esse missioneiro chamado Luiz Carlos do Nascimento Borges — finaliza.
Borges também desenvolveu laços profundos com artistas gaúchos, como Vinicius Brum, com quem tinha uma grande relação familiar.
— Eu só posso dizer que acho que nos deixa talvez o maior artista da nossa geração, reconhecido no mundo inteiro. Vai fazer muita falta para a cultura do Rio Grande do Sul, porque além de ser o grande artista que foi, também atuou na área da gestão cultural do Estado, foi presidente do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, secretário de Cultura de Santa Rosa, criou o Musicanto Sul-Americano de Nativismo — lastima.
Emocionado, Brum destaca Borges como um ser múltiplo:
— Foi um raro instrumentista, talvez um dos maiores acordeonistas que o país já produziu. Além disso, encontrava engenho, talento e capacidade de doação para empreender projetos que juntavam muita gente, favoreciam muitos artistas, colegas, e no encontro com o público que conquistou, muito fiel. Tenho certeza de que neste momento o Rio Grande do Sul inteiro chora a partida de um de seus grandes ídolos.
O cantor Elton Saldanha conheceu o artista e amigo no início dos festivais da Califórnia da Canção e viu que, além de ter um grande conhecimento da música gaúcha de raiz, Borges era inovador.
— Luiz Carlos Borges não morre. Pois sua vida era música, e ela estará por aqui definitivamente — enfatiza.
Muito abalado com a informação da partida do amigo, César Oliveira destaca que, para ele, Luiz Carlos Borges era considerado o maior ídolo do Estado. Para o músico, que faz dupla com Rogério Melo, o legado do companheiro de música será eterno:
— Eu considerava ele um embaixador da nossa cultura. Eu sempre falei que ele era embaixador da música gaúcha. Um multi-instrumentista e autor de clássicos, como Romance na Tafona, Florêncio Guerra, entre tantos outros. Era um dos compositores mais abençoados que a gente teve.
Oliveira ressalta ainda que o festival Musicanto abriu caminho para todas as gerações que seguiram — afinal, foram 60 anos de carreira, que antecedem até mesmo o Movimento Tradicionalista Gaúcho.
— Enquanto Deus permitir, eu vou manter ele vivo nas lembranças. Ele é muito reconhecido na América Latina, e, para nós aqui, faço uma comparação com Mercedes Sosa, que tinha esse mesmo tamanho. Ele cumpriu a missão dele, espalhando competência, alegria e uma ferrenha defesa pela cultura do Estado. E ele nunca deixou de estar com o chapéu dele, mostrando de onde era. Vai ser eterno — enfatiza Oliveira.
O músico e deputado estadual Luiz Marenco também lamentou a enorme perda. Ele recorda que, quando começou a cantar, no final dos anos 1980, Borges aceitou gravar seu primeiro disco. Marenco lembra, com carinho, que gravou no estúdio do artista — que foi o responsável por toda a parte instrumental do álbum, indicado ao Prêmio Sharp. Depois, foi convidado a cantar a música O Forasteiro, de Borges, na primeira Califórnia que participou, e eles venceram.
Marenco também ressalta a importância do nativista para a cultura do Estado, por levá-la ao mundo. Além disso, frisa o carinho que todos tinham pelo grande amigo. Antes de partir, Borges chegou a participar de um documentário sobre os 35 anos de carreira de Marenco, que será lançado no próximo mês. Na ocasião, falou sobre a amizade dos dois, sua história e música.
— Ele tem um significado muito grande para mim, porque sempre me acolheu. Ele era uma pessoa de acolher, acreditar, ajudar quem está começando. Ele apostava, acreditava que alguém poderia contribuir. Eu fui um escolhido por ele, ele achou que eu podia contribuir com a cultura do Rio Grande do Sul — emociona-se.
Borges era considerado um segundo pai pela cantora Shana Müller, que destaca a dor de sua ausência, apesar de estar eternizado por meio de sua arte. O músico foi padrinho de casamento da apresentadora e de sua filha Mercedes.
— É, sem dúvida alguma, dentro daquilo que compreendo como música regional brasileira, uma das grandes obras desse país, da América Latina — salienta.
Assim como Marenco, Shana também recorda do amigo como um incentivador incansável dos novos talentos. Ela o descreve ainda como um artista generoso, já consagrado, mas sempre com humildade para também aprender com quem estava chegando, enquanto compartilhava seus ensinamentos.
— Um legado incrível de integração, uma vida realmente dedicada à arte — resume.
Até último momento, lembra a apresentadora, Borges seguiu sua vocação. Para ela, sua festa de 70 anos, celebrada em março, foi, de certa maneira, uma despedida, na qual reuniu amigos queridos que conquistou ao longo dos anos e por todo o mundo.
— Eu desejo que esse legado dele, não só da sua música, mas de continuidade, de um entendimento, de uma regionalidade muito peculiar que ele tinha, e esse cuidado em sempre integrar os povos, que isso permaneça com a gente, que a gente consiga levar adiante. A falta sempre vai existir, mas a gente vai seguir levando a obra dele eternamente — afirma, abalada.
A partida de Borges também motivou homenagens de artistas, personalidades públicas e instituições, que se manifestaram nas redes sociais lamentando a perda do nativista. Confira algumas publicações: