A perda de Rita Lee deixou o Brasil de luto nesta terça-feira (9), mas o seu impacto na cultura será eterno. Ao longo de seus 75 anos, a artista viveu momentos icônicos, sendo protagonista, inclusive, da criação de uma das marcas registradas de Hebe Camargo — o famoso selinho.
Ela também se aposentou dos palcos, em 2012, no melhor estilo Rita Lee: brigando contra a violência policial, uma vez que agentes estavam abordando o público durante a sua apresentação em Aracaju, no Sergipe.
Confira estes e alguns outros momentos marcantes da vida da irreverente artista:
O selinho em Hebe
Rita e Hebe eram amigas e sempre rasgavam elogios uma para a outra publicamente. A artista, inclusive, tinha costume de beijar os pés da apresentadora sempre que era entrevistada pela mesma. Porém, em dado momento, o beijo acabou sendo na boca — e isto virou, depois, marca registrada da apresentadora televisiva, que passou a dar selinhos em seus convidados.
O primeiro beijo de Hebe foi em 1997, quando a apresentadora ia ao ar no SBT. Rita simplesmente roubou um beijo da amiga, que ficou espantada.
— Você sabe que meu namoro com o Lélio começou assim? Ele me deu um beijo e eu gostei — brincou Hebe.
— Então, é assim mesmo. Tem que mudar as praias de vez em quando, claro. Modernas, modernas — devolveu a artista.
Rita, anos depois, comentou sobre o episódio em entrevista ao UOL:
— Hebe estava tão rainha, tão rainha que minha boba da corte tascou-lhe um beijo na boca.
Padroeira da liberdade
Em entrevista para a edição de novembro do ano passado da revista Rolling Stone, Rita falou sobre a exposição da qual foi protagonista no Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS).
Ao ser questionada se ela imaginaria ser cultuada como uma "santa padroeira da liberdade", uma vez que os jovens que visitaram a mostra ficaram surpresos com a sua prisão em 1976, durante a ditadura militar, ela respondeu:
— Gosto mais de ser chamada de "padroeira da liberdade" do que "rainha do rock", que acho um tanto cafona.
OVNIs
Pai de Rita Lee, o dentista Charles Jones era descendente de norte-americanos e tinha a ufologia como fé. Certa vez, disse para a filha, quando ambos avistaram luzes no céu:
— Vou te contar: Papai Noel, Coelho da Páscoa, Deus e o diabo, céu e inferno, essas bobagens não existem. Quem compra os presentes é a sua mãe. O que você viu não foi Peter Pan. Você viu um disco voador.
Fascinada pela história do pai, ela decidiu seguir pela mesma crença. Em sua autobiografia, a artista, inclusive, afirmou ter avistado Objetos Voadores Não Identificados (OVNIs) e, também, acreditar que as aparições cada vez mais frequente de supostos discos voadores estavam ligadas à pandemia de covid-19.
— Vejo a raça humana como um experimento, um híbrido de celeste com terráqueo. Ultimamente, os avistamentos estão cada vez mais "bandeirosos", algo a ver com essa pandemia, talvez. Mas os irmãos das estrelas sempre estiveram por aqui — declarou a artista ao portal Extra.
Último e combativo show
Rita Lee decidiu se aposentar dos palcos em janeiro de 2012. O último show da lenda foi no Festival de Verão de Sergipe. Na ocasião, depois ver dezenas de policiais revistando a plateia enquanto o show acontecia, a artista interrompeu a apresentação e disparou:
— O que vocês estão procurando, queridos policiais? Baseado? Vão achar! Alegria? Vão achar! Lazer, felicidade... Só isso! Cadê o responsável? Eu quero falar. Eu tenho direito. Esse show é meu. Não é de vocês. Esse show é a minha despedida, e vocês continuam tendo que guardar as pessoas, e não tendo que agredir, seus cachorros.
Ainda no local da apresentação, a polícia registrou um boletim de ocorrência. Quando terminou o show, a cantora foi intimada a prestar depoimento em uma delegacia, por desacato às autoridades. Em seu relato, Rita ressaltou que a ação dos agentes foi violenta e que isso a revolta.
Rita, depois, manifestou-se sobre o caso em sua conta no Twitter. "Polícia dando trabalho para mim. Quer me prender. Embasamento legal não há. Não retiro uma palavra do que disse, o show era meu!", escreveu. Ela foi condenada, em abril de 2013, a pagar R$ 5 mil por danos morais causados a dois policiais envolvidos no caso.