Na entrevista, as primeiras palavras do animado Kledir são:
— Estamos muito felizes com esse encontro do Almôndegas!
Não é exagero afirmar que ele fala por si, pelo irmão Kleiton, pelos demais membros da banda, que marcou a música popular no Rio Grande do Sul nos anos 1970, e também pelos milhares de fãs que aguardam por esta emblemática reunião há décadas. Tanto é que já praticamente esgotaram os ingressos para os dois shows da banda: nesta sexta-feira (24), em Porto Alegre, e no sábado (25), em Pelotas.
Na Capital, o espetáculo ocorre no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685). Já na cidade da região sul do Estado, o grupo se apresenta no Theatro Guarany (Rua Lobo da Costa, 849). Ambos os shows começam às 21h e os poucos ingressos restantes podem ser adquiridos pela plataforma Sympla.
O encontro reunirá, no mesmo palco, nomes que fizeram parte de diferentes formações do Almôndegas durante a produção dos quatro discos lançados pelo grupo. São eles: Kleiton, Kledir, Quico, Gilnei, João Baptista e Zé Flávio — Pery Souza, por questões de saúde, não estará presente. Juntos, eles entregarão para o público uma formação inédita na história da banda, com integrantes que nunca tocaram com outros, mas garantem a mesma energia que fez parte da trajetória.
— Queríamos há muito tempo fazer este trabalho. E agora se viabilizou. Como diz o ditado, a coisa acontece quando tem que acontecer. E estamos superfelizes, entusiasmadíssimos, porque nos falamos todos os dias no nosso grupo de WhatsApp, somos amigos. Vai ser bom cantar aquelas músicas e estar junto com o pessoal — conta Kleiton.
De acordo com os dois irmãos Ramil, o reencontro é um sonho realizado, reunindo fisicamente a turma, que se espalhou pelo mundo. Desde que o grupo se desfez, em 1979, houve apenas uma junção do Almôndegas, em 1990, para comemorar os 15 anos do lançamento do primeiro disco do grupo, de 1975. Agora, porém, eles sobem ao palco com toda a bagagem adquirida com o tempo — e ressaltam que a experiência vai ser ainda melhor.
— Esse show é para relembrar os melhores momentos do Almôndegas. Vamos tentar reproduzir os arranjos o mais próximo possível dos originais, mas vai ficar muito melhor, porque nós cantamos mais, tocamos mais, e os equipamentos estão mais sofisticados. Tenho certeza de que o pessoal vai delirar com esse espetáculo, porque vai conhecer um potencial do Almôndegas que até agora talvez não tenha sido apresentado — ressalta Kleiton.
Perene
As composições do Almôndegas já estão na casa dos 50 anos. E, mesmo assim, as músicas seguem sendo estudadas e reproduzidas pelo Brasil afora, como parte da famosa busca por uma nova estética gaúcha à época. São músicas atemporais. E o que explica tal fenômeno, que ultrapassa as décadas?
— Fazíamos música por amor — aponta Kleiton. — E o Almôndegas trouxe uma novidade em termos de país, que foi mostrar uma música regional e com elementos da nossa história do Rio Grande do Sul, mas também com uma visão cosmopolita, universal. Porto Alegre, por exemplo, é uma capital moderna e não era bem representada, talvez, pela música do Interior. O Almôndegas conseguiu difundir isso.
Já para Quico, o trabalho do Almôndegas foi feito com carinho e honestidade e, por isso, eles conseguiam atingir em cheio o coração do público. Tal feito fez com que as músicas da banda marcassem toda uma geração — e seguissem sendo reverenciadas pelas novas:
— Éramos jovens vindos de cidades do Interior, com vivências e costumes interioranos, e acho que conseguimos dizer, do nosso jeito, o que outros jovens queriam ouvir.
Kledir complementa:
— O nosso repertório, tantos anos depois, continuar relevante, com músicas que continuam sendo cantadas, tocadas e regravadas, é a realização para nós, como artistas. Ver que a nossa obra não ficou datada, não foi uma moda passageira, é o mais importante para nós.
A questão da nostalgia também é um fator defendido pelos membros da banda para explicar a grande procura pelos shows. Segundo Kledir, o público está cansado do mundo de violência dos dias de hoje e procura, no passado, vislumbres de um futuro que seria melhor, de paz e amor — mensagens que sempre estiveram presentes na obra do Almôndegas.
Kleiton ainda ressalta a questão da qualidade da música popular atual como um dos motivos para o anseio do público de rever a banda que fez sucesso nos anos 1970 e ficou marcada para a posteridade:
— Existe uma vulgarização da música popular brasileira, um esvaziamento de qualidade. Essa reação ao Almôndegas, além da qualidade que eu vejo no nosso grupo, é um sinal de que as pessoas estão carentes de músicas boas. Música boa que eu falo é com boa harmonia, boa melodia, boa letra, que diga alguma coisa, que toque no coração das pessoas.
Cantando junto
Ao ser questionado sobre quais músicas não faltarão no repertório dos shows do Almôndegas, Kledir, aos risos, responde de pronto:
— Vento Negro!
Mas estarão lá, ainda, outros sucessos do grupo, como Canção da Meia-noite, Sombra Fresca e Rock no Quintal, Até Não Mais e Haragana. Também figurará no setlist Androginismo, canção que não fez tanto sucesso na época do Almôndegas, mas que foi redescoberta décadas depois e, segundo Kledir, foi abraçada pela comunidade LGBT+.
— E tem coisas bem legais que não fizeram tanto sucesso, mas o Rio Grande do Sul conhece todas as músicas. O público todo vai cantar conosco, com certeza. Não tem música nova, inédita. Talvez até em um projeto futuro possamos fazer, voltar a compor para o Almôndegas. É interessante — conta Kleiton.
Assim, fica dito que os integrantes da banda vislumbram um futuro para o Almôndegas — e, inclusive, produtores já procuraram os artistas para levar o grupo para outras cidades do Brasil, como São Paulo e Belo Horizonte. Tal interesse demonstra que o conjunto segue tendo força. Por isso, eles até idealizam fazer uma outra grande festa para celebrar os 50 anos do primeiro disco, em 2025.
É inquestionável: Almôndegas foi, é e sempre será pop. Zé Flávio, porém, detalha que o reencontro entre os integrantes do grupo não busca o sucesso comercial, mas sim conseguir entregar para os fãs um trabalho que marcou época, celebrando a importância daquele movimento dos anos 1970:
— O sucesso, para nós, vai ser o público que assistir ao show entrar nessa vibe. E os fãs vão encontrar o que estão esperando: alegria, emoção e, talvez, um pouco de saudade.
Já Kledir dá uma certeza:
— A emoção está garantida!
Almôndegas em Porto Alegre e em Pelotas
- Nesta sexta-feira (24), às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre. No sábado (25), também às 21h, no Theatro Guarany (Rua Lobo da Costa, 849), em Pelotas.
- Ingressos para Porto Alegre, em terceiro lote, a partir de R$ 140 (inteiro) e R$ 80 (solidário, mediante a doação de 1kg de alimento não perecível). Para Pelotas, também em terceiro lote, os ingressos partem de R$ 240 (inteiro) e R$ 170 (solidário, mediante a doação de 1kg de alimento não perecível). As entradas podem ser compradas na plataforma sympla.com.br.
- Desconto de 50% para sócio do Clube do Assinante e acompanhante, tanto para Porto Alegre quanto para Pelotas.