Completando 50 anos nesta quarta-feira (1º), The Dark Side of the Moon foi o oitavo álbum de estúdio do Pink Floyd. Com canções como Time, Money e Us and Them, trata-se de um dos discos mais importantes da história do rock e da cultura pop. (Leia reportagem aqui).
O disco também traz uma das capas mais icônicas e reconhecidas — um prisma atravessado por um raio de luz que se transforma em arco-íris — da história da música. Dark Side marca também o momento de entrosamento máximo de ideias entre Nick Mason (bateria), Roger Waters (baixo e voz), David Gilmour (guitarra e voz) e Richard Wright (teclados e voz).
A reportagem GZH conversou com especialistas e músicos, que falaram sobre a importância do disco e o impacto de Dark Side em suas vidas.
Lelê Bortholacci, comunicador da Rede Atlântida e da 102.3 FM
"Existiram centenas de palavras para definir o quão maravilhoso é The Dark Side of the Moon. Tudo de inovador que eles fizeram da questão da música orgânica se transformando também em música eletrônica, mas, acima de tudo, a sensibilidade dos músicos e a forma como isso foi passado para as melodias de um disco que completa 50 anos. Segue absolutamente atual e influenciou incontáveis coisas que vieram depois não só do rock, mas da música como um todo. É um dos discos mais importantes da história da música, da história do rock e da minha vida."
Julio Fürst, comunicador da 102.3 FM
"Lembro bem o dia em que recebi da gravadora EMI um exemplar de divulgação dessa obra-prima. De cara, me impressionou a beleza e criatividade da capa impactante, o espectro de prisma contrastando com o fundo negro e despertando uma curiosidade absurda sobre o conteúdo sonoro daquela embalagem.
Pegando o disco de vinil e botando pra rodar no bico da agulha do toca-discos o lado B aleatoriamente, a viagem começou com efeitos sonoras de caixas registradoras e moedas de troco, dando o ritmo para o riff de introdução da música Money, desvendando um álbum conceitual que se tornaria imortal.
As ideias sonoras do engenheiro Alan Parsons, que havia trabalhado com os Beatles em Let it Be e dominando os equipamentos do estúdio Abbey Road (gravadoras de multipista, loops de fita) completaram e desenharam as músicas pulsantes e os versos focadas em problemas existenciais, crises de saúde mental e efeitos de estilos de vida.
Preservado no meu acervo de vinil, até hoje boto pra rodar e descubro novos detalhes, nuanças sonoras e harmônicas que tornaram The Dark Side of the Moon um dos álbuns mais vendidos e elogiados de todos os tempos. Um autêntico imortal."
Márcio Grings, jornalista
"Costumo dizer que uma audição atenta de The Dark Side of the Moon é sempre uma experiência impressionante. Perceba... o ar ao nosso redor muda enquanto o LP gira no toca-discos. A ambiência fica etérea, e essa imersão nos torna reflexivos, imersos numa densidade sonora única. Por isso, gosto de ouvi-lo com a luz baixa, geralmente quando estou sozinho e disposto a imergir em suas profundidades.
Tudo que há nele continua atual, seus temas versam sobre dilemas do mundo contemporâneo — não apenas vigentes nos anos 1970, época em que ele foi concebido —, mas, sobretudo, o sumo do que é narrado e tocado ali continua valendo e ainda reluz como uma joia verdadeira e atemporal.
Aquilo que ocorreu com os Beatles, em Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967), todo o longo processo de gravação e o cuidado em empacotar o álbum de rock como um produto artístico de alto quilate, foi seguido e ampliado pelo Pink Floyd em The Dark Side of the Moon, que estabeleceu um novo padrão para a música mundial. Nosso primeiro contato com ele já começa com o prisma da capa criado por Aubrey Powell e Storm Thorgerson, uma das iconografias mais impactantes da música internacional. Abra a parte interna e lá você verá materializados os batimentos cardíacos e as letras como um livro. A experiência táctil do material gráfico faz parte do processo de percepção e integração dos sentidos, por isso me compadeço da geração atual que o conhecerá através de um telefone celular pareado a uma caixinha bluetooth.
Liricamente, The Dark Side of the Moon foge do caminho usual da temática romântica ou de amenidades do cotidiano. Conceitual e circular, com início, meio e fim, a obra escancara dilemas, tentações e ansiedades da sociedade moderna: exaustão, a busca por fama e fortuna, o medo, a loucura, a mortalidade, a vida na estrada pelo ponto de vista dos músicos, a pressão contínua, a ganância do homem, a truculência do capitalismo etc. Apesar de tocar em temas bem complexos, a carga emocional das letras não é pretensiosa, pois tudo soa translúcido e pode ser facilmente entendido e conectado à vida do ouvinte mais atento. O sentido de ‘álbum’, de uma apreciação conjunta das canções empacotada para ser sorvida conjuntamente, encontra um de seus ápices na obra-prima do Pink Floyd. Na era do single, EP e TikTok, percebemos que cada época possui o The Dark Side of the Moon que merece. Ainda bem que mesmo passados 50 anos, o disco continua aí, brilhando como pedra preciosa da cultura pop.
No fim das contas, esse misterioso lado escuro da lua (ou a face oculta de nós mesmos), de como lidar com obscuridades internas e externas, à luz desse álbum incrível, faz do disco mais celebrado do Pink Floyd a trilha sonora perfeita para todos nós, sensíveis à arte e às vicissitudes da existência humana."
Hique Gomez, músico
"Aos 14 anos, ganhei uma fita cassete com The Dark Side of the Moon e passei a escutar muito. Tinha a musica dos relógios, Time. Algo tão forte e inovador e tão envolvente que eu escutava sem parar. Nesta época havia um programa na TV Globo que era o Sábado Som. Passava coisas do mundo pop, americanos e ingleses. Um dia passou o Pink Floyd em Pompeia! Aqueles passeios lentos com as câmeras por trás dos equipamentos, aquele ambiente antigo, filmado nas ruínas de Pompeia.
Como diria o Jayme Caetano Braun na pajada do Paraiso Perdido: "Um lugaraço e tanto". E aqueles hippies viajando e fazendo um som cósmico e envolvente com aquelas vozes suaves. Não era rock exatamente… O rock era mais associado aos Stones. Aquelas eram canções de um novo mundo. Música de uma humanidade que anunciava a expansão da consciência através de viagens no tempo. Ao passado, como ali em Pompeia, ou ao futuro, viagens interplanetárias e nas expedições cientificas para além da nossa lua, que oficialmente já tinha sido visitada. E mesmo que fique provado que ninguém esteve na lua, o nosso imaginário estava povoado com estas imagens flutuantes, assim como nas viagens internas, promovidas pelos costumes hippies da meditação e do questionamento sobre o sistema em que vivemos, que a contracultura trouxe, e também pelo uso das drogas meditativas como a cannabis e o LSD.
Que música você escolheria para acompanhar a tão celebrada chegada da sonda New Horizon a Plutão? Algumas serviriam, mas Pink Floyd na certa seria perfeita na escolha de muitos, como é para mim. On the Run, do album The Dark Side of the Moon, parece perfeito para uma trajetória como a sonda New Horizon, passando por Júpiter, Urano, Netuno , Plutão e indo para o espaço exterior ao sistema solar. E Echoes igualmente ficaria muito bem.
Na opinião de muitos estudiosos sobre música e estados alterados de consciência, grupos como o Pink Floyd trouxeram uma outra dimensão para a música. Há quem não concorde e nem curta, mas para muita gente, como eu, as portas da percepção se abriram escutando aqueles discos. Eu penso mesmo que estes grupos interferiram e modificaram a condição humana.
Os espetáculos do Pink Floyd também modificaram definitivamente o showbusiness. O show de luzes e projeções junto à experiência auditiva trouxeram a catarse transcendental a grandes plateias.
Assisti aos dois shows de Roger Waters no Gigante da Beira-Rio. Uma experiência de performance extraordinária. Tecnologias de ponta a serviço do mais alto estado de arte.
Os solos de David Gilmour permanecem executados iguais, nota a nota, por outro guitarrista como uma partitura definitiva de Mozart que não pode ser mudada.
A música europeia atingiu seu auge com as óperas que mesmo depois de 300 anos seguem sendo encenadas até hoje tal qual foram compostas. Um espetáculo como The Wall poderá ser executado daqui a cem anos. Ao menos como um registro de como a arte comentava ou combatia o sistema em frente às grandes plateias."
Ronaldo Frizon, baixista e vocalista da Pink Floyd Cover RS
"Para mim, The Dark Side of the Moon foi muito marcante. Desde a primeira vez que ouvi, e até hoje, tocando nos palcos com a Pink Floyd Cover RS, sempre tem algum detalhe que provoca um sentimento diferente diante da sua complexidade harmônica, com elementos que se tornaram referências no rock e em outros estilos musicais e, ao mesmo tempo, sua simplicidade, que agrada a qualquer ouvinte. É uma obra que passou marcando gerações e ainda vai fazer parte da história de muita gente. Suas letras são tão atuais quanto as dos outros álbuns do Pink Floyd, mostrando o quão importantes são, e merecem todo respaldo e enaltecimento diante da atualidade do mundo."
Chico Paixão, guitarrista e vocalista do projeto Pink Floyd das Antiga
"É um disco revolucionário, épico, inovador e reflexivo. Criou novos rumos para o rock progressivo, e é até hoje, 50 anos depois do seu lançamento, um disco atual. Sem dúvida, neste trabalho, a banda começou uma nova fase. As letras são abordadas de uma forma diferente, mais diretas e críticas, e a sonoridade também chega com mais qualidade, tanto dos instrumentos como no processo de gravação.
Para mim, é revolucionário o fato de ser um disco de uma banda de 'rock progressivo conceitual' extremamente popular. O rock progressivo, na maioria das vezes, tem músicas longas e músicos virtuosos, e este disco não traz nenhuma dessas características. Talvez a simplicidade das músicas tenha feito desse disco um dos mais vendidos da história do rock mundial, além de ter batido recorde de permanência nas paradas de sucesso."
Leonardo Boff, tecladista e vocalista do projeto Pink Floyd das Antiga
"O disco The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd, é um dos mais importantes da história da música da era da indústria fonográfica. Atualmente, configura a terceira posição entre os discos mais vendidos da história ao redor do mundo. Mesmo ao se completaem 50 anos do seu lançamento, ainda é um fenômeno da música pop até os dias de hoje. É incrível o fato de que Dark Side não contenha um ou outro principal hit. A sua grande vendagem é devida, de fato, ao conjunto da obra. As faixas são todas emendadas umas nas outras. Exceto pelo momento em que finaliza o lado A e precisamos virar o disco para ouvir o lado B. Pode soar um pouco estranho para a nova geração que cresceu na era dos streamings. Com o fácil acesso a todo tipo de música e outras mídias, quase não conseguimos dispor deste tempo sagrado para ouvir uma obra assim, constituída de dois atos de aproximadamente 23 minutos cada. O Pink Floyd vinha passando por uma certa crise de identidade desde que o seu líder, fundador e principal compositor, Syd Barrett, teve que deixar a banda por motivos de saúde. E foi justamente com Dark Side que David Gilmour, Roger Waters, Rick Wright e Nick Mason conseguiram alcançar esta total independência do antigo mentor.
A partir deste momento, a banda começou uma nova fase. Houve uma explosão de fãs pelo mundo inteiro. O disco passou a ser tocado quase sempre na íntegra nos shows, que agora comportavam grandes públicos, com palcos gigantes, muita luz e pirotecnia.
Eu, como grande fã do Pink Floyd, sigo admirando todas as suas fases, inclusive esta antiga, de transição e de 'crise de identidade' (quem me dera ter uma crise assim!). Não à toa, cheguei a formar uma banda para tocar apenas músicas deste período. No entanto, sigo absolutamente fã do Pink Floyd que surgiu a partir do Dark Side of the Moon e que seguiu se consagrando até os seus últimos lançamentos."