Em cada esquina, uma memória vivida por ela na Capital. Devido à familiaridade que a terra natal desperta, os shows em Porto Alegre costumam causar frio na barriga de Adriana Calcanhotto — sensação que a artista voltará a sentir neste sábado (3), quando sobe ao palco do Teatro da Amrigs (Av. Ipiranga, 5.311) com o show Voz e Violão, às 21h (confira serviço ao final do texto).
Multifacetada, Adriana é cantora, compositora, instrumentista, produtora musical, arranjadora, escritora e ilustradora. Atuou ainda como professora da Universidade de Coimbra, em Portugal, em 2017, e foi nomeada embaixadora da instituição. Para o show em Porto Alegre, a talentosa artista, que transita com destreza entre MPB, pop, samba e bossa nova (e até mesmo canções infantis), revisitará sua carreira.
— O show em Porto Alegre sempre é um show diferente, é o único show do mundo que é na minha cidade. Eu acho que vai ser muito legal. Tem o frio na barriga que só tem aí. Não posso fazer nada, já não luto mais — revela.
A turnê abarca músicas de todas as eras da cantora, incluindo o disco mais recente, Só (2020), lançado na pandemia e composto por crônicas, além de outras músicas produzidas no período e, é claro, sucessos como Devolva-me, Esquadros e Vambora.
— Para mim, esse momento do show é ligado ao mundo pós-pandemia, se é que a gente pode dizer isso, a esse momento de agora. Parece que o show tem a ver com todos os dias em que eu o faço após esses momentos todos — explica a artista.
As canções serão interpretadas em versões acústicas ou eletroacústicas, como no início da carreira, nos meados dos anos 1980, com apresentações em bares e casas noturnas porto-alegrenses. Com uma extensa trajetória representada em mais de 20 álbuns, Adriana já foi agraciada com o Grammy Latino duas vezes, em 2006 e 2010, e com o Prêmio Açorianos, também em 2006. Além disso, gravou parcerias com Arnaldo Antunes, Dorival Caymmi (1914-2008), Waly Salomão (1943-2003), Los Hermanos, entre outros, e já foi interpretada por artistas como Maria Bethânia, Gal Costa, Ney Matogrosso, Marisa Monte, Simone e Belchior.
A turnê já passou pela Europa e pelos Estados Unidos, após ter sido adiada duas vezes em função da crise sanitária, e foi sendo ampliada, com mais cidades inseridas no roteiro. O repertório também foi renovado.
Conforme a artista, a felicidade do reencontro presencial traz uma compreensão, tanto para ela quanto para o público, acerca do valor de estar junto cantando, da catarse — sobretudo após momentos em que as pessoas chegaram a se questionar se seria possível partilhar experiências como essa novamente.
Adriana destaca ainda o valor dos trabalhadores nos bastidores, sem os quais não haveria espetáculo. Vale lembrar que, em meio à impossibilidade da realização de shows na pandemia, com um forte impacto sobre o setor cultural e sua subsistência, a artista doou os lucros de uma das faixas do último disco para ajudar a equipe, e das demais canções para diferentes causas. Ela pontua, no entanto, que não somente dinheiro é necessário, como também a possibilidade de realizar o ofício, algo que deixa as pessoas felizes, como agora.
— Todas as apresentações do show têm sido muito mais emocionadas, tudo mais à flor da pele do que vinha sendo. Então, as canções que eu já cantava sempre estão ressignificadas, o que é uma coisa muito bacana — relata a cantora.
E a turnê, que agora se encaminha para o final, com as últimas cidades brasileiras no roteiro, tem sido "incrível". O clima de despedida acentua ainda mais a emoção, conforme a compositora:
— A minha sensação é que estão acontecendo noites únicas, é o que eu ouço das pessoas. Esses momentos com as canções só criam memórias importantes.
Encerramento
A artista já está com o coração apertado de se despedir da turnê em janeiro e ressalta que não sabe quando fará shows apenas com voz e violão novamente. Isso porque, no início do próximo ano, lançará um disco de músicas inéditas e partirá novamente em turnê, desta vez longa e com banda. A cantora costuma intercalar os dois formatos de apresentação por entender que propiciam experiências diferentes — inclusive para ela mesma, que pode desfrutar de sossego e concentração no show com voz e violão, e, com a banda, ganha animação.
A cantora adianta que o novo álbum terá 11 faixas e incluirá canções às quais vinha se dedicando há algum tempo. Embora ainda nem tenha lançado o trabalho, já pensa em novas criações — contudo, ainda não voltou a compor desde as gravações e presume que talvez o material tenha de vir ao mundo para que possa dar início a uma "nova safra".
Adriana Calcanhotto - "Voz e Violão"
- Neste sábado (3), às 21h, no Teatro da Amrigs (Av. Ipiranga, 5.311, bairro Partenon), em Porto Alegre.
- Ingressos a partir de R$ 155 (solidário), à venda no site. A produção salienta que as cadeiras não são numeradas e que a ocupação é por ordem de chegada.