Se 2023 seguir a tendência deste ano, a recém-criada Companhia de Ópera do Rio Grande do Sul (Cors) pode esperar uma temporada de casa cheia. Com uma rápida escalada em menos de um ano, o lançamento da cooperativa de cantores líricos foi um sucesso, permitindo ao grupo projetar um 2023 com ainda mais comprometimento em ocupar o Theatro São Pedro e em levar a ópera para o interior do Estado.
Os planos para o próximo ano incluem récitas pelo Interior de espetáculos que já estão no repertório, como Cavalleria Rusticana e A Flauta Mágica, e quatro novas montagens de óperas. A novidade da próxima temporada é a ocupação dos espaços do Theatro São Pedro, que se torna a casa oficial do movimento a partir de janeiro, graças a um convênio firmado neste mês. A parceria permitirá à companhia usufruir da estrutura necessária para ensaios, planejamento e manutenção das produções, bem como para a preparação de elenco e cantores, além de estipular um palco oficial para as estreias.
— A gente espera a consolidação dessa temporada regular de óperas, e de casa nova. Para que não tenha canto desse nosso Rio Grande do Sul que não tenha acesso a um espetáculo de ópera. Para as pessoas se apaixonarem por essa forma de arte — declara o tenor Flávio Leite, um dos fundadores da Cors.
A agenda do grupo recomeça já no próximo dia 18, com uma apresentação confirmada no 11° Festival Internacional Sesc de Música, em Pelotas. Ao longo do primeiro semestre, duas novas montagens serão desenvolvidas pela companhia. Em março, ocorrerá a estreia de Suor Angelica, ópera em um ato de Giacomo Puccini, em comemoração ao mês da mulher, sendo totalmente produzida por mulheres — toda a programação da temporada terá elementos que remetem à mulher, destacando o protagonismo feminino.
No mesmo mês, haverá um espetáculo especial para a programação de inauguração do Teatro Oficina do Multipalco Eva Sopher, no Theatro São Pedro: Vissi d'Arte, Vissi d'Amore.
A segunda ópera do ano que vem, em junho, será I Pagliacci, de Ruggero Leoncavallo, que não é montada na Capital há vários anos. O espetáculo traz para discussão a temática do abuso contra a mulher. A ópera contará com a participação do Grupo Tholl, de Pelotas.
— Não tem como fazer uma produção de I Pagliacci no Rio Grande do Sul, segundo a minha visão do espetáculo, sem contar com esse supergrupo, que é patrimônio do Rio Grande do Sul no que diz respeito ao circo, fazendo parte dessa produção — afirma Leite.
As outras duas montagens prometidas para 2023, além de Suor Angelica e I Pagliacci, ainda não tiveram seus títulos divulgados. Todo esse esforço visa a dar continuidade à missão proposta pela cooperativa de realizar as estreias dos espetáculos em Porto Alegre e, depois, apresentá-los no interior do RS. O objetivo é suprir, por meio de uma temporada regular, uma demanda até então preenchida por produções eventuais no Estado. Assim, espera-se reinserir a ópera no cotidiano da população gaúcha.
— A gente quer ofertar para o público novas montagens, novas óperas contemporâneas. Este é o intuito da companhia: que a gente seja esse lugar no Rio Grande do Sul que mantém a ópera viva e ativa — explica o cofundador.
Desde sua fundação, em abril, o grupo realizou 11 apresentações pelo Estado, em quatro cidades, reunindo aproximadamente 3,5 mil pessoas. A venda de ingressos, com uma média de 95% de lotação, indica o sucesso entre os gaúchos, que constituem um público fiel de ópera, como aponta Leite.
— A gente está muito feliz. Eu acho que começamos com o pé direito — comemora o tenor, destacando que os espetáculos do gênero encontram grande audiência no Estado.
Para o próximo ano, diversas cidades já têm espetáculos pré-agendados, sendo ao menos cinco apenas nos primeiros seis meses de 2023. A Cors está ainda engajada em uma campanha de busca de patrocinadores, entre empresas e pessoas físicas, para a temporada.
Parceria na casa da ópera
O Theatro São Pedro e seu Multipalco serão utilizados como sede do grupo. Espaços atualmente em construção nesse complexo também estarão disponíveis à medida que forem finalizados, como o Teatro Oficina e o Teatro Italiano, este propício à ópera, previsto para ser entregue em dois anos.
— Eu achei a ideia de uma cooperativa de ópera muito interessante, acho que é muito importante. Permite que o público se aproxime da ópera, tenha uma experiência. Eu acho que há um potencial muito grande para esses espetáculos — avalia Antonio Hohlfeldt, presidente da Fundação Theatro São Pedro, que julgou imperativo apoiar a cooperativa, ainda mais considerando que o Theatro é o palco histórico da ópera no RS.
Para ele, a iniciativa permite mostrar o que é a ópera e aproximá-la da juventude, atingindo um lado pedagógico de formação de público.
Além dos espetáculos, ações de contrapartida serão desenvolvidas pela Cors, como atividades educativas, abertas à comunidade, para a capacitação de novos cantores e de mão de obra técnica para a ópera, como maquiadores, cenógrafos, costureiros, iluminadores, assistentes de direção, entre outras funções. As ações sociais incluem ainda master classes com cantores de referência e apresentações abertas a escolas, atendendo aos objetivos iniciais do movimento.
— Através dessa atividade, nós vamos formar cantores, que vão formar os elencos para fazermos as montagens, o que obviamente barateia uma produção. Então, é um plantio de longo prazo — pontua o presidente da Fundação Theatro São Pedro.
Portanto, o impacto dessa parceria é o melhor possível, como também garante Leite:
— A Fundação Theatro São Pedro e a Secretaria de Estado da Cultura estão ofertando as condições necessárias para o desenvolvimento das nossas atividades enquanto companhia. Isso é de uma relevância imensa, porque aquele é um teatro que nasceu para a ópera.