Diversos cantores líricos do Rio Grande do Sul se deram conta de que era necessário melhorar o seu mercado de trabalho e, com isso, aumentar as suas possibilidades, uma vez que, para seguir a carreira, é preciso alto investimento, com aulas técnicas, estudos de repertório e, principalmente, locais para se apresentar. Assim, em uma reunião, eles se questionaram: por que não fundar uma companhia de ópera? E assim foi feito.
Da união de ideias nasceu a Companhia de Ópera do Rio Grande do Sul (CORS), que será oficialmente lançada em gala lírica no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, nesta terça-feira (26), às 21h. Tal espaço foi escolhido porque os membros do movimento consideram que ele é "perfeito para ópera". Ali serão interpretadas nesta terça obras de Mozart, Rossini, Verdi, Puccini e Bizet.
Depois desta primeira apresentação ao público, o movimento pretende liderar ações de promoção e fomento à cultura operística em todo o território gaúcho, com produções regulares de títulos e emprego de artistas locais. Além disso, os membros da CORS esperam criar espetáculos de alta qualidade, com títulos tradicionais e novas obras de câmara brasileiras, por exemplo, tendo inicialmente o piano como acompanhamento. A ideia é usar, preferencialmente, mão de obra artística de dentro do Estado, dando especial atenção para novos talentos do canto lírico.
Capitaneada pela mezzo-soprano Angela Diel e pelo tenor Flávio Leite, que contaram com a mentoria da soprano japonesa Eiko Senda, esta novidade no cenário erudito estadual será aberta a todos os artistas que quiserem participar. Nesta arrancada, a companhia já conta com 25 integrantes, de variados pontos do Estado. E, para cada ópera promovida pela companhia, haverá audição com os cantores, construindo assim apresentações com as vozes mais adequadas e dando rotatividade para os talentos.
— Também é um dos objetivos da CORS fazer master classes, trazer profissionais de fora e dar espaço para os nossos profissionais daqui fazerem oficinas, cursos, para que os jovens que estão começando, fazendo a faculdade de música ou aula de canto, tenham onde se apresentar. A gente só precisa de dinheiro — explica Angela Diel.
A busca
Para conquistar o público gaúcho que, segundo a mezzo-soprano, "adora ópera" e sempre "vai em peso" quando tem oportunidade, a decisão de fazer a primeira apresentação no Theatro São Pedro foi "na cara e na coragem", já para marcar presença. Logo depois, no começo de maio, a CORS vai circular por algumas cidades, levando, com o projeto Ópera para Todos, o espetáculo Cavalleria Rusticana, obra-prima do italiano Pietro Mascagni (1863-1945).
Também já está programado que o grupo, com dois elencos diferentes — um mais profissional e outro mais iniciante —, ainda apresentará para as crianças, em teatros, A Flauta Mágica, ópera de Wolfgang Amadeus Mozart (1756– 1791). Mas vale lembrar que os primeiros passos da CORS, contudo, foram dados ainda em novembro de 2021, com a realização de um recital didático online como contrapartida social à Lei Aldir Blanc.
Segundo Angela, o movimento já conta com um projeto aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura federal (LIC) e que agora está em fase de captação de recursos juto às empresas, que podem doar os seus impostos para a CORS:
— É importante para que tenhamos uma vida longa e estejamos sempre na estrada. E aí a comunidade tem que se inserir. Não se faz um trabalho sozinho, estamos conclamando a todos para nos prestigiar, ir no Theatro São Pedro e nos ajudar a dar os primeiros passos.
A CORS, apesar de estar estruturada, ainda não consegue remunerar os seus músicos. Angela explica que tudo o que for arrecadado de bilheteria do Theatro São Pedro vai ser para pagar as despesas, mas os cantores não vão receber nada.
— Todo mundo está se doando para fazer isso — enfatiza.
Para a mezzo-soprano, a iniciativa da qual ela é uma das lideranças mostra que não se pode esperar somente pelo poder público:
— Nós é que temos que fazer música, fazer arte, ainda mais que estamos saindo de uma pandemia. Pessoalmente, acredito que nada substitui a música presencial. Principalmente, a música lírica, em que a gente não usa microfone. Então, como o país está vivendo esse período cultural bastante problemático, seja nas leis de incentivo, seja na empregabilidade dos artistas, acho que nós temos que ir à luta. É uma forma de resistência.
Gala Lírica de lançamento da Companhia de Ópera do RS
- Nesta terça (26), às 21h, no Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, s/nº, no Centro Histórico), em Porto Alegre
- Com Angela Diel (mezzo-soprano); Flávio Leite, Eduardo Bighelini e Lazlo Bonilla (tenores); Eiko Senda, Elisa Machado e Rosimari Oliveira (sopranos), Carlos Rodriguez (barítono), Daniel Germano (baixo-barítono), Eduardo Knob (pianista) e Laura de Souza (direção cênica).
- Ingressos a partir de R$ 30 na bilheteria do teatro (sem taxa) e no Sympla (com taxa)