Informado de que a jornalista de GZH responsável por entrevistá-lo estava um pouco insegura ao falar inglês e, por isso, contaria com a ajuda de terceiros para evitar uma possível má interpretação da conversa, o baterista Pete Best brincou:
— With a little help from my friends... — fazendo referência à famosa música dos Beatles, banda da qual fez parte até agosto de 1962, quando foi substituído por Ringo Starr.
É este o motivo pelo qual há quem o considere "o homem mais azarado do mundo", já que saiu de cena às vésperas do grupo estourar. Mas o brilho nos olhos azuis intensos, o bom humor convicto e o amor aparente ao falar da família (duas filhas, quatro netos) mostram que a sorte continuou sorrindo para o britânico ao longo de sua vida.
Pete está em Porto Alegre para participar do show da banda Os Besouros, no Theatro São Pedro, neste domingo (20), às 18h. Formado por Nelson Dvoskin (vocal e guitarra base), Felipe Rotta (guitarra solo), Veco Marques (guitarra solo), Daniel Finkler (contrabaixo) e Ricardo Rochedo (bateria), o grupo irá repassar a trajetória dos Beatles no palco. Músicas como Get Back, In My Life, All My Loving e My Bonnie estão confirmadas no repertório. O ex-beatle assumirá as baquetas no final da apresentação.
— Ainda me divirto muito tocando as músicas dos Beatles. Tive a minha própria banda, não tocávamos só músicas dos Beatles, mas eu gosto de tocar as que eu tocava na época. E também toco as outras, afinal, são as favoritas do público. Eu toco diferentes estilos de música — garante ele.
Não é a primeira vez que Pete visita a capital gaúcha. Em 2009, já havia passado por aqui para subir ao palco do Teatro do Sesi acompanhado da banda cover argentina The Beats. Na memória, no entanto, só registrou que foi uma das primeiras cidades da turnê e que pegou o avião no dia seguinte ao show. Agora, desembarca em Porto Alegre especialmente por um convite do gaúcho Nelson Dvoskin, de quem virou amigo na Beatleweek, em Liverpool.
Aos 80 anos (completa 81 em 24 de novembro), Pete se descreve com um "homem de família", que tem como hobby passar o tempo livre com os netos. Depois que saiu da banda, passou mais de duas décadas afastado da cena musical. Foi um show que o fez mudar a rota no fim da década de 1980 e retomar a trajetória artística.
— Em 1988, fiz um show em Liverpool após alguns amigos insistirem para que eu mostrasse para as pessoas que não era esse "homem misterioso que costumava tocar com os Beatles". Eu concordei porque eu achei que ia ser uma única apresentação. Minha mãe estava na plateia e depois me disse: "Pete, você não sabe ainda, mas você vai voltar ao showbusiness". Meu Deus, como ela estava certa. No outro dia, recebi um telefonema, algumas semanas depois eu já estava na estrada de novo e não parei desde então — conta ele.
Questionado se mantém algum contato com Ringo ou Paul McCartney, integrantes dos Beatles que ainda estão vivos, afirmou:
— Eu queria poder dizer que tenho, mas não. Não estivemos em contato por muitos e muitos anos. Mas não sabemos o que o próximo dia ou a próxima ligação de telefone nos reserva.
Saída dos Beatles
Mesmo depois de todos esse anos (e de tantas especulações), Pete afirma ainda não entender bem o motivo que o fez ser substituído:
— O que foi dito inicialmente, meu Deus... 60 anos atrás? É, está chegando perto dos... 50, 60 anos. Não fez sentido na época e não fez sentido desde então. Houve muita controvérsia sobre o assunto. É uma daquelas coisas que você nunca vai ter uma resposta direta. Muitas pessoas trouxeram à tona diferentes teorias e muitas teorias de conspiração ganharam força desde então. Mas a minha resposta é não, eu não sei. Se um dia vier à tona... Existe um cara, que ainda está vivo, que sabe a razão definitiva. E eu não falarei o nome dele, mas é o Paul (risos). Acho que ele seria o único a poder responder. Se ele quiser!
Para ele, o sucesso da banda nos anos seguintes não foi uma surpresa.
— Nós sempre soubemos que teríamos sucesso. Éramos uma banda ótima de rock'n'roll e as coisas que fizemos em um período curto de tempo, comparado a outras bandas, eram absolutamente fantásticas. E por conta disso, nós tínhamos a certeza de que seríamos "grandes". E "grandes", para nós, naquela época, seria estar no topo da Inglaterra. Ou, no máximo, no topo nos Estados Unidos. Mas o que aconteceu depois, e na velocidade que aconteceu... Em um momento, eles eram jovens normais tocando rock'n'roll e do nada eles eram superestrelas no mundo todo.
Perguntado se, afinal, os Beatles foram a melhor banda de todos os tempos, ele responde com bom humor:
— Bem, chegaram perto. Eu sou muito leal a minha banda, então depois da minha banda, eles vêm logo em segundo. Estou brincando. Eu não diria a melhor banda musicalmente, acho que outras bandas foram melhores. Mas o que eles fizeram e o legado que eles deixaram, eu diria que bate o melhor. É algo que inicialmente eram cinco, quatro caras, e eles literalmente conquistaram o mundo. E a lista continua, a música segue até hoje. É uma daquelas coisas que cada nova geração que surge, as pessoas pensam: "O legado dos Beatles não vai durar". E aí vem uma nova geração e eles continuam. Agora, 60 anos depois, uma nova geração está descobrindo eles — opina.
*Produção: Luísa Tessuto