Uma praia. Um campo verde e aberto. Uma rua deserta. Então, ele surgia com seu saxofone, ostentando seus cabelos longos e cacheados, irrompendo a paisagem com música. Era assim em memoráveis clipes entre os anos 1980 e 1990. Mas também era uma presença nos mais distintos lugares, fossem relacionados ao romance (há quem o considere um estímulo ao amor) ou à burocracia cotidiana — shopping, elevador, supermercado, espera telefônica ou restaurantes desproporcionalmente caros.
A partir das 21h desta quinta-feira (17), Kenny G irá surgir no palco do Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre com seu sax. Aos 66 anos, o músico americano desembarca em Porto Alegre com a turnê An Evening with Kenny G.
O show é embalado pelo disco New Standards, lançado no final de 2021. Em seu álbum mais recente, o saxofonista traz composições inspiradas nas jazz ballads dos anos 1950 e 60, em que, segundo ele, procura captar a musicalidade dessas gravações da metade do século 20.
Além das novidades, Kenny G tocará os seus petardos. Nos concertos mais recentes do instrumentista, o repertório tem abrangido hits como Silhouette, Songbird, Loving You e uma versão de tema do filme Titanic, My Heart Will Go On, que ficou imortalizada na voz de Celine Dion. O músico adianta que presenteará o público brasileiro com uma faixa rara em seus shows: Theme From Dying Young, trilha do drama romântico Tudo por Amor (1991), que, conforme o saxofonista, faz sucesso com os fãs do Brasil.
As músicas de Kenny G carregam, costumeiramente, romantismo e suavidade — não é à toa que seu estilo ganhou a alcunha de smooth jazz (algo como "jazz suave"). É como se o saxofonista mesclasse a sofisticação do jazz com o pop e o R&B, propiciando uma sonoridade agradável e de fácil audição. Pode ser até relaxante para alguns ouvidos. Portanto, o músico atinge um público amplo.
Falando nisso, vale lembrar que Kenny G comercializou mais de 75 milhões de discos, consolidando-se como o artista de jazz mais vendido da história, de acordo com o Guinness World Records. Outro êxito do instrumentista no livro dos recordes: em 1997, tocou a nota mais longa até então já gravada em um saxofone, com 45 minutos (marca que seria superada depois).
Natural de Seattle, Kenneth Bruce Gorelick começou a tocar sax aos 10 anos. Ele integrou bandas de jazz e funk nos anos 1970, tendo iniciado carreira solo com seu disco homônimo de estreia, em 1982. Apesar do começo discreto, o estouro veio a partir do álbum Duotones, de 1986, graças ao single Songbird. Com Breathless (1992), vendeu mais de 15 milhões de cópias, sendo apontado como o disco instrumental mais vendido da história.
Apesar do sucesso comercial, Kenny G nunca foi aclamado pela crítica. Sua obra ficou associada à cafonice, justamente por suas melodias adocicadas. Ou, então, a ubiquidade do saxofonista foi excessiva para alguns. Como se fosse um Romero Britto do jazz, virou um alvo fácil de depreciação ao longo dos anos. Para alguns detratores, odiar Kenny G garante capital cultural.
— Minha principal preocupação sempre foi a música. Me concentro nela e em torná-la a melhor possível. Praticando para que eu possa ser o melhor músico possível. Depois disso, não importa o que digam — pontua o instrumentista sobre as críticas.
Em dezembro de 2021, foi lançado o documentário Listening to Kenny G, na HBO Max. Dirigido por Penny Lane, o filme mostra que o saxofonista sempre foi perseguido pelo que chama de "polícia do jazz" (críticos e músicos). Às vezes com ironia, o longa traz também um lado humano do instrumentista, sempre entusiasmado com a vida. Kenny G avalia que o documentário pode ter feito as pessoas entenderem mais sobre quem é o cabeludo por trás do saxofone.
— Foi um ótimo documentário porque abordou como as pessoas se sentem em relação à música que amam. E como pode incutir muitas emoções quando se discorda sobre qual música é boa ou não em suas respectivas opiniões — atesta o saxofonista. — Ajuda também as pessoas a entenderem que só porque acham que algo é bom ou ruim não significa que todos pensarão o mesmo.
O filme ainda realça que Kenny G aprendeu a rir de si mesmo, não se levando muito a sério. Especialmente na internet. Vez ou outra, ele publica memes sobre sua carreira, com tiradas autodepreciativas.
— As redes sociais são uma obrigação para todos os artistas hoje. Eu tento o meu melhor para lançar um bom conteúdo e manter as pessoas interessadas no que estou fazendo. O principal objetivo para mim é continuar fazendo música. Espero que a conexão com as pessoas através dessas mídias me ajude a seguir — reflete.
Aliás, Kenny G tem o discurso afiado de foco na música. É o que vislumbra em seu horizonte, todos os dias:
— Pratico três horas todos os dias para tentar ficar cada vez melhor. Esse é o meu compromisso com a minha música e com o meu instrumento. Isso é o que mais importa para mim.
An Evening with Kenny G
- Nesta quinta-feira (17), às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre. Abertura da casa: 19h30min. Classificação: 16 anos.
- Ingressos: a partir de R$ 300 (inteiro). Ponto de venda sem taxa: Loja Planeta Surf Bourbon Wallig (Av. Assis Brasil, 2.611), das 10h às 22h, e na bilheteria do Araújo (duas horas antes do show). Ponto de venda com taxa: pelo site da Sympla.
- Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante e um acompanhante.