Um novo nome. Um novo disco. Uma nova era. Antes chamada Dingo Bells, a banda porto-alegrense Dingo se apresenta neste sábado (26), no Opinião, em Porto Alegre, a partir das 22h30min. Será o show de lançamento de A Vida É uma Granada, terceiro álbum da banda.
No palco do Opinião, Dingo será um octeto. Além dos quatro integrantes — Rodrigo Fischmann (voz e bateria), Felipe Kautz (voz e baixo), Fabricio Gambogi (voz e guitarra) e Diogo Brochmann (voz e guitarra) —, haverá um trio de metais e PH Robes, da banda O Grilo, reforçando a apresentação.
Fundada em 2005, a banda foi criada quando os integrantes ainda eram estudantes do Colégio Israelita Brasileiro. Com o passar do tempo, o nome Dingo Bells se tornou defasado para eles. Queriam uma repaginada, uma ruptura com a época da escola, algo que representasse o atual momento de vida e da estética do grupo. Então, depois de muita conversa, decidiram tirar o "Bells" do nome.
A Vida É uma Granada reflete um período de transformações na banda que vão além do nome. Mudanças estruturais ocorreram desde o segundo álbum, Todo Mundo Vai Mudar (2018): Kautz e Gambogi fixaram residência em São Paulo (SP), enquanto a outra metade seguiu em Porto Alegre — aliás, Fischmann e Brochmann se tornaram pais. O grupo sentia que estava prestes a dar um grande salto na carreira, ainda mais após ter feito um show lotado em São Paulo, em janeiro de 2020. Novas músicas já estavam no horizonte. Então, veio a pandemia.
Fischmann lembra que o quarteto ficou perdido, debatendo cada semana o que seria feito. Até que no final de 2020 decidiram gravar o terceiro disco.
— Naquele momento, as coisas ganharam sentido, algo muito além de fazer reuniões online para discutir o próximo vídeo que íamos gravar em casa, no quarto — pontua Fischmann.
Entre granadas e recomeços
Com A Vida É uma Granada, o baterista aponta que a banda fechou uma trilogia, mesmo que involuntariamente. No primeiro disco, Maravilhas da Vida Moderna (2015), os quatro se deslumbravam com o mistério dos 30, abordando a entrada na vida adulta. Em Todo Mundo Vai Mudar, segundo Fischmann, o quarteto deparava com questões da maturidade. Para ele, o terceiro trabalho traz uma postura mais serena dos quatro com a vida adulta, sem aquele deslumbramento inicial.
— Um momento da vida de aceitar questões. Não significa se conformar com elas, mas também não querer confrontar tudo — pondera.
Kautz ressalta que A Vida É uma Granada não é um disco pessimista, mas é bastante íntimo. Retrata o contexto pandêmico que surgiu, reconhecendo que a vida tem suas derrotas, algumas coisas acabam, mas que há recomeços.
— Esse terceiro disco aponta para um lado de abraçar o caos. Entender que a gente não está no controle das coisas. A vida é uma granada, ela muda de uma hora para outra, e tu tens que ir tocando o barco e navegando de acordo com o que vem — reflete o baixista.
O terceiro álbum da Dingo abre com a faixa que dá nome ao trabalho, que serve como cartão de visita. Na letra, a música parte das incertezas para a construção de algo novo: "Vou procurar dentro de mim/ algum lugar/ pois já é hora de acordar".
O disco segue com o new wave contemplativo de Parabólicas, que, conforme Fischmann, foi criada como se fosse "uma música para Lulu Santos cantar". Pode remeter também a Marina Lima, na fase Fullgás. Outra faixa que tem essa pegada dançante e suave é Doce Delírio, só que encorpada com a presença de cordas — vale ressaltar que o disco é um trabalho com bastante camadas de cordas, sintetizadores, sopro e percussão. Essa teve como inspiração Agora Só Falta Você, da Rita Lee. É um encontro da Tutti Frutti (banda que acompanha a cantora no disco da faixa, Fruto Proibido) com a salada de fruta da Dingo, como define o baterista.
O pop rock luxuoso e orquestrado de Lindo Não pode ser um dos pontos altos do novo show da banda. A letra da faixa trata da libertação individual por meio da negativa: "Depois de tanto tempo eu disse não/ Juntei todos meus dias em pensamento/ E senti que era a hora/ De dizer um lindo não".
— Tem a ver com meus traços de personalidade, de querer agradar todo mundo — explica o autor, Kautz. — Quando você se dá conta que pode dizer não para as coisas e isso é uma sentença completa, não precisa ser justificada. É quase como fincar uma bandeira no limite de seu território. É a descoberta de um poder: transformar um "não" em um "sim" para si mesmo.
O disco conta com as participações de Helio Flanders (vocalista e violonista do Vanguart), que toca violão em Pra Aliviar o Peito; da cantora Paola Kirst, que põe sua voz na delicada Tropeço; e de Thiago Ramil, que auxiliou na composição de Eu Cheguei de Longe — letra que reflete a mudança de Kautz para São Paulo.
É um álbum com dois lados, aliás: as primeiras seis faixas, até Doce Delírio, carregam otimismo e entusiasmo nas letras e na sonoridade; a partir de Desconstrução do Ser, o disco ganha um tom mais introspectivo e melancólico. A trinca derradeira— Tropeço, Vamos Rir de Nós e Pra Aliviar o Peito — forma a moldura de um relacionamento em fase terminal. Pra Aliviar o Peito, inclusive, propõe um olhar agridoce e até esperançoso: "Não fica tudo bem/ Nem tudo vai tão mal/ Que tempo a gente tem/ Nem sempre é o final".
— As coisas podem vir abaixo, mas ainda se tem muito o que viver pela frente — conclui Kautz.
Dingo — A Vida É uma Granada
- Neste sábado (26), às 22h30min, no Opinião (José do Patrocínio, 834), em Porto Alegre. Abertura da casa: 21h. Classificação: 18 anos.
- Ingressos: a partir de R$ 75. Ponto de venda sem taxa: Loja Planeta Surf Bourbon Wallig (Av. Assis Brasil, 2.611), das 10h às 22h. Ponto de venda com taxa: pelo site Sympla.
- Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante e acompanhante.