Três noites de Chico Buarque, que tal? Pois o cantor e compositor se apresenta em Porto Alegre desta quinta-feira (3) a sábado (5), sempre às 21h, no Auditório Araújo Vianna. Ele volta à capital gaúcha com a turnê Que Tal um Samba?, em que traz também ao palco a cantora Mônica Salmaso.
O repertório do show tem mais de 30 canções: há clássicos (João e Maria, Samba do Grande Amor, Sob Medida, entre outros), músicas inéditas em turnês (O Meu Guri) e composições recentes (Blues pra Bia e Tua Cantiga). Em quase duas horas, o roteiro do espetáculo celebra todas as décadas de Chico, trazendo ainda citações a obras de Dorival Caymmi e Baden Powell & Vinicius de Moraes.
A turnê leva o nome do single mais recente de Chico, lançado em junho. Na bem-humorada e otimista Que Tal um Samba?, o compositor propõe o ritmo como uma pílula para dias tempestuosos ("Para espantar o tempo feio/ Para remediar o estrago (...) Um samba pra alegrar o dia, pra zerar o jogo"). Como se aludisse a tempos de bonança após um período pedregoso.
Segundo o maestro Luiz Claudio Ramos — responsável por arranjos, guitarra e violão —, que acompanha a banda de Chico há mais de três décadas, a letra de Que Tal um Samba? dá a tônica do momento.
— No show, todo o repertório do Chico é muito coerente com a trajetória política que a gente teve. E agora ele está dando esse recado de esperar tempos melhores, de estancar o tempo feio — sublinha Ramos, que divide a banda com João Rebouças (piano), Bia Paes Leme (teclados e vocais), Chico Batera (percussão), Jorge Helder (baixo acústico e elétrico), Marcelo Bernardes (sopros) e Jurim Moreira (bateria).
Mônica Salmaso corrobora o maestro. Quando foi convidada para participar da turnê, comentou com Chico que, mais do que músicas inéditas, era necessária uma retomada de identidade. Que o brasileiro voltasse a se reconhecer, conforme a cantora.
— Tem um Brasil machucado, que precisa voltar para casa. Através da beleza e poesia, esse show faz denúncias, se posiciona, traz afeto e devolve a gente para uma identidade — relata Mônica. — Tem sido tão forte o que estamos vivendo nesta turnê. Saio do show chorando muitas vezes. Recebemos de volta do público o que a gente faz.
A cantora abre o espetáculo interpretando seis canções de Chico. O compositor sobe ao palco, e os dois promovem um dueto em cinco músicas. Mônica sai de cena, e Chico assume a maior fatia do show, com a cantora retornando na parte derradeira. Só que, em Porto Alegre, a turnê terá um clima diferenciado.
Chico sempre se posicionou no espectro político da esquerda. Ativo na campanha de Lula, esteve presente no vídeo do jingle Sem Medo de Ser Feliz e subiu em palanque com o agora presidente eleito. A apresentação na capital gaúcha será a primeira do músico após as eleições. Mônica crê que isso possa se refletir no palco.
— Fico trabalhando a ideia de que nós temos uma função. O show tem um lado de celebração desta comunhão — aponta a cantora. — (Antes das eleições) Já disse para o Chico que não podíamos quebrar. Temos a missão de chegar nessas pessoas e dizer: "Nós estamos juntos". E a música pode fazer um bem danado, em todos os casos.
De qualquer maneira, o Chico que vem a Porto Alegre é o mesmo de sempre, como atesta Ramos. Aos 78 anos, o músico é descrito como afetuoso pelo maestro.
— Apesar de toda a fama que ele tem, Chico procura ser uma pessoa simples. Tenta ser o menos estrela possível. É difícil, pois é bastante solicitado. Mas sempre é gentil, simples e alegre. Temos uma relação bastante afetuosa. Acho que esse afeto dele passa para todo mundo.
Chico Buarque em "Que Tal um Samba?"
- De quinta-feira a sábado, às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Parque Farroupilha, 685).
- Ingressos: a partir de R$ 290 pelo site Uhuu (com taxas) e na bilheteria do Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80) — sem taxas.