Com 22 shows neste mês, o grupo Os Monarcas faz uma celebração especial pelos seus 50 anos de estrada. Uma das bandas mais longevas da música nativista, ao lado de Os Serranos, os músicos liderados por Gildinho chegam a esta marca com fôlego de guris e uma agenda de dar inveja, principalmente pelo fato de que mais da metade dos shows, em setembro, são fora do Rio Grande do Sul (em Santa Catarina e no Paraná).
Neste ano de comemoração, Gildinho e sua turma já estiveram pelo Nordeste, lotaram CTGs no Centro-Oeste, preparam o lançamento de duas músicas e ainda uma turnê pelo Paraguai. Confira alguns momentos marcantes de Os Monarcas e uma entrevista com Gildinho, fundador da banda.
Trajetória vitoriosa
A história de Os Monarcas teve início antes mesmo de sua fundação como grupo, como é muito comum no meio musical. Em 1967, a banda começou a tomar corpo, com a dupla formada pelos irmãos Nesio Alves Corrêa, conhecido como Gildinho, e Francisco Alves Corrêa, o Chiquito. Em 1972, o nome da dupla passou a ser Os Monarcas e, em 1974, gravaram o primeiro LP: Galpão em Festa. Em 1976, o grupo cresceu, recebendo os músicos João Argenir dos Santos, Luiz Carlos Lanfredi e Nelson Falkembach. Com esta formação, deram início a uma trajetória de sucessos.
Mais tarde, uniram-se ao grupo o vocalista Ivan Vargas e Leonir Vargas, com a saída de Chiquito, que fundou o grupo Chiquito e Bordoneio.
Solidez
O conjunto cresceu no sucesso e no tamanho em 1992, com a chegada de Francisco de Assis Brasil, o Chico Brasil, premiado instrumentista de gaita-ponto. Em 1999, recebeu também o percussionista Vanclei da Rocha.
Dona de uma das carreiras de maior longevidade da música regional do Estado, a banda fez shows por todo o território nacional. Já lançou três DVDs e gravou 47 discos, quase um por ano de trabalho, além de ter vendido mais de 500 mil cópias. Um dos mais emblemáticos álbuns é Identidade Monarca, lançado em 2018, que recebeu o prêmio de melhor disco da música regional naquele ano.
— A maior conquista tem sido manter a formação com um grupo sólido e talentoso, com artistas implacáveis — diz Gildinho, 80 anos.
Neste ano, além da turnê nacional, que já esteve pelo Nordeste e Centro-Oeste do país, o grupo prepara o lançamento de duas músicas inéditas: uma sobre os 50 anos de carreira da banda e outra contando a história da vaneira nos últimos 50 anos no Rio Grande do Sul.
Religião
Entre os principais sucessos do grupo estão canções que viraram clássicos do cancioneiro gaúcho, como Bugio do Fole Solto, Cheiro de Galpão, De Chão Batido, Erechim, História e Canto, Não Encosta a Barriguinha, O Brasil de Bombacha, O Vento, Santuário de Xucros, Sistema Antigo, Cantar É Coisa de Deus e Milonga do Salmo 1.
Esta última integrou um disco lançado em 2016 para celebrar 45 anos de carreira, Os Monarcas Cantam a Missa Crioula, inteiramente composto por chamamés, xotes, valsas e milongas, cujos temas são exclusivamente religiosos.
— A ideia de gravar foi para agradecer ao nosso ser maior que tanto nos ajuda. Mas acabou se tornando uma marca nossa. Somos um grupo fandangueiro, mas música e religião caminham juntas — conta Gildinho.
Inspiração para novas gerações
Além de inspirar gerações de músicos, Gildinho fez valer a veia musical na família. A neta Valentina Corrêa, 10 anos, participou do The Voice Kids, em 2021, cantando em inglês.
— Quando ela tinha apenas seis anos, gravamos o DVD Os Monarcas e os Novos Talentos. Ela apresentou os novos talentos no palco. Foi uma maravilha, tem muito talento. Sempre estudou muito, sei que não tem tendência para a música gaúcha, mas a música é universal, né? A pessoa tem que fazer o que dá certo para ela — afirma o gaudério.
Estrelas de cinema
A história dos Monarcas é tão marcante para a cultura gaúcha que daria um filme, sempre disseram seus fãs. Pois, em 2013, o sonho se tornou realidade. Naquele ano, o grupo fundado em 1972 por Gildinho e Chiquito, seu irmão caçula, chegava às telas de cinema, com a obra Os Monarcas - A Lenda, que teve uma sessão especial de apresentação no Palco Central do Acampamento Farroupilha, em Porto Alegre.
Entre os grandes momentos do grupo - que já faturou 10 discos de ouro, fez turnês por todo o país, pela América do Sul e América do Norte -, está o Prêmio Açorianos de Música, vencido pelos gaudérios em 2002.
Pelos 50 anos de história, neste ano, o grupo recebeu homenagem na Câmara Municipal de Porto Alegre: o prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva.
"É muito gratificante", diz Gildinho
Qual é a sensação de completar 50 anos com o grupo que fundou?
Rapaz, completar 50 anos de estrada, como se diz por aí, “mexeu com as águas”. Os bailes voltaram com força, tivemos ajuda da mídia, que sempre teve um papel importante na história dos Monarcas. Estivemos na Bahia, fazendo show no Tocantins, ficamos fazendo shows durante 21 dias no Mato Grosso do Sul, aquilo é coisa de louco,todos os bailes cheios. É muito gratificante.
Neste ano, o senhor completou 80 anos e segue firme nas turnês do grupo. Vocês estão na estrada, direto, desde o começo do mês. Como é essa rotina?
Estamos aguentando bem, o pessoal tem um carinho muito grande pela gente. Procuramos corresponder a todos. Tocamos para um público de 2,5 mil pessoas em Santiago. Eu “guento” firme. Toda a turma, na hora H, pega junto, correspondendo a confiança que nos é depositada.
Neste ano de muita celebração, vocês conseguiram rodar o país. Qual é o sentimento?
É muito bonito quando um grupo gaúcho consegue ser reconhecido fora do nosso Estado. Em maio, por exemplo, tocamos no CTG Jayme Caetano Braun, em Brasília. A gauchada nos fez uma homenagem boa. Na Bahia, lotaram o CTG Luis Eduardo Magalhães. Em Tocantins, a mesma coisa. No Mato Grosso, também. O momento que o mundo dos bailes vive no país colaborou com esse momento especial. É especial demais.
Comemorar 50 anos de carreira não é para qualquer grupo. A que o senhor atribui tanto êxito?
Permanecemos sempre fiéis ao nosso estilo. Sempre cuidamos a maneira de nos apresentar e acredito que o fato de termos um integrante da formação original ajuda muito (além de Gildinho, João Argenir, guitarrista, atua na banda desde o começo).