Artigos raros como fotografias com os respectivos negativos, ingressos de shows e documentos pessoais de Elis Regina poderão, em breve, ser visualizados pelo público no acervo dedicado à consagrada cantora porto-alegrense, na Casa de Cultura Mario Quintana. Isso será possível graças à doação histórica de mais de 200 itens relacionados à artista por parte do produtor cultural Àllen Guimarãez, fã da cantora. O material ainda está sendo catalogado para que os itens mais relevantes passem a integrar a exposição permanente do Acervo Elis Regina, que fica no segundo andar do centro cultural.
O coordenador do Núcleo de Acervo e Memória e responsável pelo acervo, Alexandre Veiga, destaca que a maior parte dos itens são únicos, o que demonstra um esforço para sua obtenção. Entre os destaques, estão fotografias que documentam as turnês É Elis (1972), Falso Brilhante (1976), Transversal do Tempo (1978), Essa Mulher (1979), Saudade do Brasil (1980) e Trem Azul (1981), além de registros da vida familiar da cantora, ao lado do primeiro marido, Ronaldo Bôscoli, e dos filhos João, Pedro e Maria Rita. Também não ficaram de fora fotos de camarins e de bastidores de programas de televisão.
— Tem muita coisa interessante, entradas para shows que acredito que sejam únicas ou que ainda existam muito poucas, porque normalmente é algo que as pessoas não guardam muito. Têm algumas fotos dela e um convite de seu casamento com Ronaldo Bôscoli — avalia Veiga.
A doação é a mais volumosa já recebida pela Casa de Cultura. O benfeitor, Àllen Guimarãez, é pesquisador, escritor e colecionador de artigos relacionados à trajetória da cantora — sendo considerado um dos mais representativos especialistas no legado de Elis Regina (1945-1982). Ele é autor do livro Viva Elis (Master Books, 2012) e curador da exposição homônima, que percorreu diversas cidades do país a partir do mesmo ano.
O interesse de Guimarãez pela artista vem desde a infância. Com a morte de Elis, ele quis conhecer melhor o trabalho da cantora. Em 2000, Guimarãez estudava cinema na Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais, quando começou a aprofundar a pesquisa sobre a vida da porto-alegrense, que acabou se transformando no projeto Viva Elis. Para produzir o documentário e o livro, Guimarãez entrevistou 48 pessoas, entre elas Cesar Camargo Mariano, Roberto Menescal, Gal Costa, André Midani, Fagner, Ivan Lins, Nelson Motta e Marília Pêra.
Impressionado com a dimensão do espaço destinado à memória de Elis Regina no centro cultural em Porto Alegre, Guimarãez fez questão de destinar ao acervo parte da coleção pessoal que integrou a exposição Viva Elis.
— Separei quase tudo que tinha em casa. Deixei apenas uma coleção completa de vinil com todos os discos de carreira da Elis, uma coleção de CDs e um quadro em preto e branco, que gosto muito e ocupa um lugar especial na minha casa — conta.
A motivação da doação foi compartilhar o conteúdo com o maior número de pessoas e manter viva a história da artista gaúcha.
— Os fãs estão sempre em busca de coisas novas. Espero que esse material possa gerar curiosidade e movimentação entre os visitantes. É necessário que pessoas novas sejam apresentadas a um acervo tão bacana quanto o que existe em Porto Alegre — destaca Guimarãez. — Conhecer ou revisitar a história de uma artista tão grandiosa e de falas tão contundentes como Elis nos faz entender a importância de manter um espaço como esse em um país que só oferece migalhas à nossa cultura.
Localização especial
O Acervo Elis Regina, localizado em frente ao quarto onde Mario Quintana viveu no então Hotel Majestic, é um dos espaços mais visitados do centro cultural. Contando ainda com alguns itens que não estão expostos, o acervo é a maior coleção pública do país dedicada à memória da porto-alegrense.
— É bastante importante não apenas a doação em si, mas também para mostrar esta proposta que a gente está conseguindo desenvolver na casa nos últimos anos, essa questão memorialística para duas grandes expressões da nossa cultura, que são o Quintana e a Elis Regina — aponta Veiga.
O coordenador ressalta que a medida em que a casa de cultura foi valorizando a presença da artista, houve uma mobilização dos fãs para doações — demonstrando que há ainda um grande apreço pela cantora. Há expectativa e tratativas para novas contribuições, que têm sido mais frequentes.
— Muito mais do que os itens em si, que são importantes e que a gente vai conseguir trabalhar renovando a expografia, é essa conexão da casa, do espaço Elis, do público em geral e do público específico fã da cantora que é mais interessante nessa questão toda — pondera.
Transformação e visitação
O centro cultural está agora na etapa de preparação, catalogação, digitalização e cruzamento do material com o acervo já existente para fazer a agregação e, então, pensar uma nova apresentação do espaço, contemplando a visualização da nova aquisição. Alguns itens duplicados, como revistas e discos, permitirão maior rotatividade dos artigos em exposição.
A Casa de Cultura Mario Quintana também lançou recentemente o documentário Na parede da memória - Elis Regina (2022), da cineasta mineira Elizabete Martins Campos, disponível no Instagram da instituição.
O Acervo Elis Regina integra o roteiro das visitas mediadas que o centro cultural oferece de forma gratuita, mediante agendamento pelo e-mail visitaccmq@gmail.com. O espaço está aberto ao público diariamente, das 10h às 20h.