A banda Os Replicantes foi batizada em referência aos androides — quase humanos — que existem no universo de Blade Runner, clássico da ficção científica dirigido por Ridley Scott e lançado em 1982 (o romance de Philip K. Dick que inspirou o filme não usa o termo "replicante", e sim "androide"). O grupo, formado em uma garagem na Rua Marquês do Pombal, escolheu tal nomenclatura porque, assim como os personagens do longa, não sabia quanto tempo iria durar. A ideia era, justamente, não ter compromisso.
E, bem, desde 16 de maio de 1984, quando Wander Wildner, Carlos Gerbase e os irmãos Cláudio e Heron Heinz subiram ao palco do bar Ocidente para o seu primeiro show com ingresso pago, já se passaram quase quatro décadas. E o grupo, mesmo com mudanças em sua formação, segue com as baterias carregadas e mantendo o punk rock pulsando em suas veias.
Neste sábado (30), a partir das 20h, Os Replicantes levam seu som ao Gravador Pub (Rua Conde de Porto Alegre, 22, bairro São Geraldo), em Porto Alegre, para justamente comemorar os seus 38 anos de carreira. No palco, além dos Heinz, Júlia Barth solta a voz e Cleber Andrade comanda as baquetas. A atual formação, que já toca junta há 15 anos, levará o público presente por uma viagem pela história da banda.
— A gente gosta e tem que tocar as clássicas, que é o que o pessoal quer ouvir. E elas são dos primeiros três álbuns, dos anos 1980. Mas vamos tocar algumas que são de um período intermediário e também apresentar músicas novas, do nosso último disco, de 2018. Então, o show pega todos os anos da banda — adianta Cláudio.
Mas quem quiser presenciar este show de celebração do punk rock gaúcho deve chegar cedo ao Gravador Pub no sábado, pois os ingressos antecipados já se esgotaram e, agora, a única chance de entrar é comprando os bilhetes na hora — e serão apenas 10, que sairão pelo valor de R$ 100 cada. Para Cláudio, a expectativa para esta apresentação é reencontrar o público antigo do grupo, que acompanha a banda há anos, mas também a nova geração, que começou a ouvir Os Replicantes com os pais.
— Em seguida, vem uma geração que vai dizer: "Aprendi a gostar de vocês por causa dos meus avós". Ainda não aconteceu, mas estaremos aqui para ouvir (risos), sempre fazendo a nossa música sarcástica, com críticas e colocando a nossa opinião nas letras — projeta o guitarrista.
Longevidade
Ao longo de sua história, a banda de punk rock registrou mais de cem canções, que foram divididas em 13 álbuns. E, por sua importância para o gênero, já fez três turnês europeias e tocou em diversos festivais de rock pelo país. Uma história de respeito, reflexo da grandeza dos Replicantes, que se consolidou como um dos grupos icônicos e protagonistas da cena nacional, mantendo-se até hoje na estrada. Cláudio conta o "segredo" para tal façanha:
— Só chegamos aos 38 anos porque não nos iludimos que iríamos viver só da música. Mantivemos os nossos trabalhos e íamos para a estrada nos finais de semana, quando dava. Vi muitas bandas que largaram tudo e foram morar em São Paulo ou no Rio de Janeiro, para terem mais exposição, mas acabaram terminando. Não conseguiram se manter. Nós continuamos e sempre mantendo a música como diversão.
Esse espírito do punk rock, que leva tudo "meio sem compromisso" e prioriza a alegria de fazer música, que acompanha a banda desde sempre, não permitiu que as modificações na composição original do grupo o tirasse da estrada. As saídas de Wander Wildner e de Carlos Gerbase, assim como de Luciana Tomasi, que era produtora e depois também tecladista, foram "baques", afirma Cláudio. Depois de um tempo, entretanto, a atual formação dos Replicantes encontrou um novo público, e a sua nova forma de tocar, sem desrespeitar o que foi feito antes, também mantém os fãs do passado ao lado do grupo.
— As nossas músicas que hoje são consideradas clássicas falavam de assuntos contemporâneos e que hoje, décadas depois, ainda seguem relevantes. Criticávamos a censura, pois tínhamos que submeter as nossas músicas a ela, e hoje está se falando novamente em censura aos artistas. Temos músicas que falam do futuro que ainda não chegou e também as que falam de amor. E, sobre o amor, o tempo não faz diferença — aponta o músico.
Falando de amor, para 2024, quando o grupo completar 40 anos, está sendo planejado um grande show que promoverá o reencontro de todos os membros, em uma festa digna da importância da banda para o punk rock nacional. Além disso, uma turnê internacional também está no horizonte: a ambição é percorrer América do Sul, México, Inglaterra e Leste Europeu.
Os Replicantes, ao contrário dos personagens de Philip K. Dick adaptados por Ridley Scott, não têm prazo de validade e seguem contando a sua história com música que ultrapassa gerações, evitando, assim, que ela se perca como lágrimas na chuva.