No começo dos anos 2000, zapear a TV em uma tarde dominical era garantia de deparar com os irmãos Kiko, Leandro e Bruno Scornavacca. Fosse no Domingo Legal, do SBT, ou no Domingão do Faustão, na Globo, lá estavam eles ensandecendo auditórios e fãs em suas casas. Em dias de semana, era inevitável vê-los em atrações da TV aberta como Hebe, Eliana & Alegria, Programa Livre, Mais Você e A Praça É Nossa. Mas o trio não se limitava às ondas eletromagnéticas: se alguém passasse nas bancas, os veria na capa de revistas como Capricho, Atrevida, TodaTeen, Antenada etc. Se ligasse o rádio FM, então, nem se fala.
Embalado pelo pop romântico de hits como A Dor Desse Amor, Ela Não Está Aqui, Um Anjo, Por Causa de Você, Minha Timidez e Por que Tem que Ser Assim, o KLB se consolidou como um fenômeno do show business brasileiro. É o que pode ser conferido na turnê 20+2 Experience, que celebra a história do grupo.
O trio traz esse show a Porto Alegre nesta quinta-feira (28), subindo ao palco do Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80) às 21h. Os ingressos estão esgotados, garantindo uma noite que será preenchida por nostalgia, histeria, lágrimas e fãs com faixinha na cabeça. Ou seja, é o KLB devolvendo fantasias ao seu público.
Antes da turnê, os irmãos haviam entrado com um processo de pausa do grupo há oito anos, reunindo-se esporadicamente desde então. Durante esse tempo, Bruno se dedicou ao MMA e à música eletrônica; Kiko passou a produzir outros artistas e comandou sua empresa de turismo; enquanto isso, Leandro atuou na política como deputado estadual por São Paulo e trabalhou em algumas produções musicais.
O retorno do trio aos palcos era para ter ocorrido em 2020, para comemorar duas décadas de KLB. Porém, a pandemia, sempre ela, adiou os planos. Arquitetou-se uma turnê 20+1 no ano seguinte, mas o avanço da ômicron reteve o plano.
Kiko frisa que, pela primeira vez, o trio promove um meet & greet (encontro de artistas e fãs, que costuma ser pago à parte), que culmina com a apresentação de duas músicas que não entram no repertório do show. Segundo ele, o KLB Experience 20+2 Meet and Greet é uma oportunidade de troca de histórias e lembranças.
— É uma experiência, mesmo, que estamos vivendo com os nossos fãs — atesta Kiko. — Estamos entregando um dos maiores shows hoje no Brasil, em relação à estrutura e a tudo que acontece. Está sendo uma delícia poder viver isso e dividir isso com a galera.
O espetáculo revisita os oito álbuns do KLB, desde a explosão do single A Dor Desse Amor, de 2000, passando por canções internacionais de bandas e artistas que os irmãos têm como referência, de nomes como Aerosmith e Bryan Adams.
As apresentações que o trio realizou até o momento têm lotado casas e reunido fãs não só das antigas, mas também rostos novos. Bruno acredita que o público pode ter passado o gosto pelo KLB para os filhos — afinal, é possível ver até bebês no show.
— É muito legal ver o nosso público família — diz Bruno. — Há os mais novos que não eram nem nascidos querendo bater foto, com faixinha na cabeça, cantando as músicas, marcando presença nos meets. Isso nos dá a certeza de que nosso trabalho está sendo bom. Também nos faz ficar ansiosos durante a semana, querendo que chegue logo a hora do show para rever a galera de cidades diferentes.
Além da série de shows, o grupo planeja lançar uma nova canção nos próximos dias. A turnê tem tido apresentações e bastidores gravados para um produto audiovisual em formato ainda a ser definido — pode ser um DVD de apresentação ou um documentário.
Puxando a brasa do pai
A turnê que o KLB está realizando era um desejo do pai do trio, Franco Finato Scornavacca, que morreu aos 70 anos em 2018. Ele foi empresário de artistas como Zezé Di Camargo & Luciano, Lulu Santos, Roupa Nova, entre outros nomes. Foi Franco quem deu suporte e estrutura aos filhos desde o início da carreira.
O empresário veio ao Brasil da Itália com os pais, mas viveu em Porto Alegre durante uma parte da juventude. Por aqui, nos anos 1960, ele tocou baixo na banda The Jetsons, que depois mudou de nome para Os Brasas, que seria uma das pioneiras do cenário roqueiro gaúcho, com suas pitadas de psicodelia e rock britânico. Tendo lançado um disco em 1968, o grupo ficaria associado à Jovem Guarda. Chegou a se mudar para o centro do país e acompanhou, em estúdio, nomes como Wanderléa, Vanusa e Ronnie Von.
— Foi um privilégio ter sido filho dele. Vindo lá do fundo de um porão de um navio da Itália, se criou em Porto Alegre e participou de uma banda gaúcha tão importante — destaca Leandro. — Nos sentimos muito orgulhosos de estar continuando, de alguma forma, o legado de nosso pai. Gosto muito de saber que tem gente que curte Os Brasas até hoje.