A menos de um mês de serem completados cinco anos da morte do grande flautista e compositor Plauto Cruz, um álbum em tom biográfico chega às plataformas de streaming e tem show de lançamento neste sábado (2), às 19h, em Porto Alegre. O palco não poderia ser outro: a Casa de Cultura Plauto Cruz (Av. Venâncio Aires, 67, bairro Cidade Baixa), aberta no ano passado, com capacidade para 30 espectadores. A entrada é franca.
Encabeçado pelo músico e doutorando em Música Paulinho Parada, amigo pessoal de Plauto, Viva Plauto Cruz! reúne 15 composições do instrumentista gaúcho, que morreu em 28 de julho de 2017, deixando extensa produção. Boa parte dessa memória está sendo preservada graças ao trabalho de Parada e “algumas congruências”, como ele explica. O show e o álbum são resultado disso.
Os choros selecionados para o álbum são Choro Clássico, Doce Ternura, Engenho e Arte, Juliana, Maremy, Nora, Romantíssimo e Tema de Amor, todos já gravados por Plauto. As inéditas, achadas em manuscritos, são Amanda, Para Sabrina, Amor Secreto, Eva, Minha São Jerônimo (cidade-natal de Plauto), São Lucas e Tema para Altamiro (homenagem a Altamiro Carrilho, 1924-2012).
— Fizemos um garimpo. O resultado é essa pedra preciosa: a seleção de 15 composições que permeiam a história de vida dele. Quem nos ajudou a fazer isso foi o mestre e professor Luiz Machado. Como arranjador do álbum, ele direcionou algumas escolhas porque daria muito trabalho harmonizar todas as músicas se fossem só as inéditas — diz o pesquisador.
Reflexão
Além de Parada, um time de jovens músicos foi reunido para a gravação e se apresenta nesta noite especial, entre os quais a flautista Stefania Colombo, a violonista 7 cordas e bandolinista Júlia Valentini, o cavaquinista Eduardo Rukat e o pandeirista Maicon Ouriques, todos de uma nova geração. Fazem parte do Regional do Choro. No roteiro da noite, também haverá a inauguração do busto de Plauto e uma pequena confraternização.
— Esse trabalho reflete inclusive o papel da pesquisa na arte. Eu amo a amizade que tive com Plauto, mas não seria possível ficar na casa dele dezenas e dezenas de horas se não estivesse trabalhando nisso — explica Parada.
O pesquisador se refere ao fato de que, mesmo que tudo tenha começado por sua iniciativa, recursos públicos e a admiração de outras pessoas pelo legado de Plauto tornaram o disco e o show possíveis:
— O álbum não teve um financiamento direto, mas tivemos alguns apoiadores. Esse trabalho é resultado de uma congruência de coisas: a minha amizade com o Plauto desde 2007, a pesquisa que fiz recuperando os manuscritos e um fundo de apoio municipal para a cultura, o Fumproarte, que viabilizou em 2014 a publicação do artigo O Universo Sonoro de Plauto Cruz. A partir desse apoio, foi viável fazer a pesquisa. Também teve o apoio da Capes, a bolsa de quando fiz mestrado em Música, de 2016 a 2018.
Além disso, uma parceria com a Secretaria Municipal da Cultura permitiu fazer edições e mixagens no Estúdio Geraldo Flach. Elton Saldanha, que está na coordenação de música da prefeitura, também era muito amigo de Plauto. A masterização foi finalizada no Studio Brother’s. Parada acredita que o álbum e o show são também um convite à reflexão:
— Para a gente pensar juntos o valor dos nossos artistas. Temos, por exemplo, a Casa do Artista Riograndense, que abriga artistas em vulnerabilidade social, em idade avançada. Qual o papel dos artistas na nossa sociedade? O que fazemos com a memória deles? Plauto, no final da vida, teve muitas dificuldades — afirma o pesquisador, também responsável por organizar um repositório digital de fonogramas do flautista, disponível através do canal Plauto Cruz no YouTube, e autor do livro Tocando Plauto Cruz, com Reginaldo Braga.