— Esse período de enclausuramento tirou um pouco o timing da gente para fazer as coisas. Estou ainda me sentindo um pouco que saindo de um pesadelo, de um sonho, acho que a ficha só vai cair quando eu der o primeiro acorde lá no teatro — confessa Vitor Ramil.
Os mais de dois anos sem se encontrar com o público — o último show presencial foi em março de 2020 — deixaram o artista pelotense vivendo em um mundo à parte, que o deixou distante fisicamente das pessoas, mas, felizmente, muito próximo da arte. Tanto é que, agora, ele sai deste período que chama de "aprisionamento" com um trabalho novo e pronto para estar junto novamente dos fãs, que verão o mesmo artista no palco, mas ouvirão novas canções.
Este primeiro contato depois do período afastado, respeitando o tempo da pandemia, ocorre neste final de semana, quando Vitor regressa para a sua "casa em Porto Alegre", o Theatro São Pedro (TSP), para duas apresentações dedicadas ao lançamento físico do álbum Avenida Angélica, no qual canta os poemas de Angélica Freitas. Os shows serão realizados no sábado (4), a partir das 21h, e no domingo (5), às 18h.
Nas duas apresentações, o artista interpretará as 17 faixas que estão no disco, que foi feito inteiramente baseado nos textos publicados originalmente por Angélica nos livros Rilke Shake e Um Útero É do Tamanho de um Punho. A escritora também se fará presente, declamando o poema Ítaca, em um vídeo gravado diretamente de Berlim, na Alemanha, onde mora.
— A repercussão do álbum está sendo incrível. Percebo que chama muito a atenção das pessoas as canções que resultaram dessa parceria, porque, às vezes, tem poemas musicados que tu ouves e que parece que não chega a encaixar completamente. Fica aquela coisa meio desajustada. Mas acho que marcou muito as pessoas foi isso, as canções que parecem que nasceram com letra e música. O disco foi muito bem recebido. Foi unânime — explica Vitor, quase dois meses após o lançamento do álbum digital.
Décimo segundo título da discografia de Ramil, Avenida Angélica foi gravado em duas noites, em 7 e 8 de agosto de 2021, em um vazio Theatro Sete de Abril (que vem passando por restauros desde 2010), em Pelotas. Depois, ele foi lançado nas plataformas de streaming no começo de abril e, agora, chega em mídia física, em uma edição limitada e documental, feita para ser guardada como um livro de arte, segundo o próprio artista. O disco está à venda no site vitorramil.com.br e em livrarias selecionadas. A obra também está disponível nas plataformas de streaming.
Teatral
As duas noites de espetáculo de Vitor Ramil cantando as poesias de Angélica Freitas abrirão oficialmente as comemorações do aniversário do Theatro São Pedro — inaugurado em 27 de junho de 1858 — e integrando a programação oficial dos 250 anos de Porto Alegre. No palco, o artista se apresenta em formato solo, com voz e violões de cordas de aço, em ambientação visual criada por Isabel Ramil, sua filha, que faz da iluminação, do cenário e dos vídeos apresentados uma espécie de segunda interpretação, não-literal, dos poemas, conferindo ao show um caráter multimídia.
Estes dois shows no TSP, na verdade, podem ser considerados um fechamento de ciclo, uma vez que, em julho de 2019, ele esteve no local para apresentar em primeira mão o começo do projeto do Avenida Angélica, interpretando as primeiras músicas que fez a partir dos poemas de sua conterrânea. Depois de lá, refinou o seu repertório, tirando faixas e acrescentando novas canções, até chegar no resultado final, eternizado no álbum físico — gravado justamente em um teatro, o Sete de Abril, em Pelotas.
O processo lembra o da produção de Délibáb (2010), álbum em que o cantor compôs milongas para poemas do argentino Jorge Luis Borges e do alegretense João da Cunha Vargas. Cinco anos antes da gravação, Vitor, acompanhado de Carlos Moscardini, esteve no TSP para apresentar músicas do disco, que ainda demoraria para ser gravado.
— É interessante que esse trabalho com as poesias é muito ligado aos teatros, às apresentações ao vivo. Agora, para mim, é muito significativo que seja apresentado no São Pedro, porque é a minha casa em Porto Alegre, é onde eu geralmente me apresento, onde eu gosto de tocar. Tem muita gente que diz "gosto de te assistir no São Pedro", então começa a se criar um vínculo com o espaço e com o público daquele espaço. E o retorno do ao vivo é sempre incrível. A energia do público vai, de certa forma, dirigindo a tua performance. É muito bom — destaca.
E o diretor artístico do Theatro São Pedro, Dilmar Messias, concorda:
— É sempre motivo de alegria ter em nossa programação este grande talento de nossa terra, Vitor Ramil. Tê-lo na abertura da nossa programação de aniversário redobra a nossa satisfação. Vitor intérprete, Vitor poeta, Vitor ídolo de uma geração que carrega na sua bagagem o lirismo e o questionamento.
Agora, é só se direcionar para o TSP e acordar do pesadelo juntamente com Vitor Ramil. E esse despertar vai ser cheio de poesia e música. Não podia ser melhor. Os ingressos podem ser adquiridos pelo site do Sympla.
Serviço
- Vitor Ramil – Avenida Angélica
- Quando: sábado (4), às 21h, e domingo (5), às 18h
- Onde: Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n° - Centro, Porto Alegre)
- Classificação indicativa: livre
- Ingressos: entre R$ 25 e R$ 150, disponíveis em sympla.com.br
- Aviso: recomenda-se o uso de máscaras dentro das dependências do Theatro São Pedro