No último sábado (16), Pabllo Vittar tornou-se a primeira drag queen a subir no palco do Coachella, um dos mais importantes festivais de música do mundo, e repete o feito nesta noite (23). Antes de começar a cantar, ela comentou:
— Vamos fazer história esta noite.
E fez. Em entrevista, a cantora contou ser um grande momento de sua carreira, mas também para artistas drag queens como ela.
— Finalmente as pessoas estão reconhecendo o nosso trabalho artístico e, com isso, estamos conseguindo ocupar espaços que antes nos eram negados — disse.
Drags como Pabllo estão invadindo palcos importantes para a música pop mundial. Além do Coachella, recentemente, Glória Groove se apresentou para uma multidão na edição brasileira do Lollapalooza. Além disso, a drag paulistana está no line-up do Rock in Rio, que acontece em setembro deste ano e vai contar também com a presença de Lia Clark, outra artista drag. São palcos de, pelo menos, três grandes festivais aumentando a visibilidade das cantoras.
Enquanto se apresentam em grandes palcos e conquistam o público, tocando em rádios, festas de família e programas de auditório na televisão, drags como Pabllo e Glória também mostram que diversidade é um assunto que pode estar no mainstream.
— É sobre o significado e a representatividade que isso traz para a nossa comunidade. Nós estamos abrindo portas, e o objetivo é que elas continuem abertas para as próximas gerações — pontua Pabllo.
O Coachella pode até parecer o topo, mas a artista conta que quer muito mais:
— O Coachella é um dos maiores e mais importantes festivais do mundo, senão o maior. Era um objetivo meu desde sempre e agora é aproveitar esse momento e seguir trabalhando para alcançar cada vez mais. Sempre ressalto que isso não foi conquistado do dia para noite, e acredito que aos poucos e na hora certa iremos conquistar tudo que desejamos. Tudo vem na hora certa, com muito trabalho, esforço e com tranquilidade e discernimento.
Pabllo está em turnê internacional com shows marcados nos Estados Unidos, Irlanda, Inglaterra, Espanha, França e Canadá.
— Hoje estamos focados em levar nossa música cada vez mais longe, os feats com artistas de outros países são parte dessa caminhada e é uma troca sempre muito incrível — revela.
Recentemente a cantora lançou uma parceria com a cantora Rina Sawayama, na música Follow Me.
Inspiração
A arte drag existe há muitos anos — o primeiro registro do termo data da década de 1870. Foi nas décadas de 1950 e 1960 que as drags como a gente entende atualmente começaram a surgir, principalmente nos Estados Unidos. No Brasil, as décadas de 1980 e 1990 foram bastante férteis em favorecer o nascimento dessas artistas.
Silvetty Montilla, drag paulistana que existe há 35 anos, conta que muita coisa mudou desde suas primeiras apresentações até hoje.
— Na minha época a gente não tinha espaço na TV, cinema, teatro, hoje em dia temos mais oportunidade — comenta.
E em honra de todas as outras artistas transformistas que existiram até hoje, ela celebra o sucesso de Pabllo.
— O sucesso dela é o nosso, ela está mostrando para o Brasil e para o mundo a arte drag brasileira e dando oportunidade para quem tem esse sonho.
Na última década, o reality show RuPauls Drag Race, em que drags competem por uma coroa sendo desafiadas em provas de passarela, atuação, canto e dublagem, serviu de inspiração para muitos jovens queer criarem suas próprias personagens. O programa é apresentado por RuPaul, uma das drags mais famosas do mundo.
Mais drag chegando na música
Entre maquiagem, perucas, enchimentos que imitam as curvas femininas, algumas drags resolveram também se dedicar à música, seguindo o exemplo das estrelas pop brasileiras. Uma delas é Grag Queen, drag gaúcha que venceu a primeira edição do reality show musical Queen Of The Universe, disponível na Paramount+, concorrendo com outras artistas de diversos países do mundo.
— A drag já existia e no cenário pandêmico era eu, uma ring light e fé — brinca a artista. Ela lembra que saiu do quarto diretamente para o palco do reality. — Foi um grande contraste sair desse local e aparecer na frente da Michelle Visage (jurada do programa) com uma roupa de carnaval roxa cantando Amy (Winehouse).
Depois de vencer o programa e conquistar o título de "Rainha do Universo", Grag lançou dois singles, Party Everyday e Fim de Tarde. Em 2021, ela já tinha lançado outros singles e até mesmo um EP. Recentemente, a cantora subiu ao palco para cantar com Gloria Groove e até participou de uma edição do TVZ com Lady Leste.
O mergulho na música pop sempre foi um sonho para ela.
— A gente acaba trabalhando tanto, focada em entregar algo de qualidade que nem se dá conta desses marcos como entrar na cena — reflete. — Cada dia é uma conquista diferente e eu não poderia estar mais feliz. Eu, enquanto um menino gay do interior do Rio Grande do Sul, sempre almejei essa coragem para botar a cara, coisas que sempre admirei em Elis (Regina), Ney (Matogrosso), Liniker, Glória Groove e Pabllo (Vittar).
No Brasil, outro reality consagrou o nome de três outras drags, formando o primeiro trio brasileiro de drags cantoras. Depois de vencerem o Queen Stars Brasil (disponível na HBO Max), Diego Martins, Leyllah Diva Black e Reddy Allor criaram o trio Pitayas, que acaba de lançar um EP.
Diego, que já tinha experiência em teatro musical, Leyllah, que já tinha lançado singles em vários estilos e Reddy, que desde a adolescência cantava música sertaneja, enfrentaram outras artistas drag brasileiras e conquistaram, cada uma, 100 mil reais e um contrato em trio com a Universal Music.
— A gente espera crescer muito nesse mercado — aposta Diego.